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Lula é recebido pelo presidente da França com honras de chefe de Estado

Ao receber Lula no Palácio do Eliseu com um protocolo reservado a chefes de Estado, Macron envia um sinal político forte de reconhecimento da estatura global do petista

Lula é recebido por Macron no Palácio do Eliseu com hontas de chefe de Estado | Foto: Ricardo Stuckert/Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido com honras de chefe de Estado pelo presidente francês Emmanuel Macron nesta última quarta-feira (17) em um encontro no Palácio do Eliseu. O encontro de Lula e Macron durou 1h15min. De acordo com a assessoria de Lula, os dois conversaram sobre as relações internacionais da França com o Brasil e a América Latina. Dialogaram sobre a crise mundial e as transições globais para enfrentar os desafios da preservação ambiental, geração de empregos, redução das desigualdades e proteção ambiental.

Assista a calorosa recepção que Macron concedeu ao ex-presidente Lula | Vídeo e fotos: Ricardo Stuckert/Lula

A reunião com Lula com Macron fecha com chave de ouro a passagem de Lula por Paris, terceira etapa de um giro europeu que já levou o petista à Alemanha e à Bélgica, onde foi recebido por Olaf Scholz, vencedor das eleições alemãs e provável sucessor de Angela Merkel, e lideranças do Parlamento Europeu. Segundo a Rádio França Internacional (RFI), o porta-voz do governo francês, Gabriel Attal, declarou que Macron chamou Lula para o encontro “para tratar de temas absolutamente fundamentais na atualidade: a pandemia de coronavírus, seu impacto social e na saúde, os desafios ambientais, a questão climática, a questão do combate ao desmatamento, que estiveram no centro das discussões que tivemos durante a COP26”, comentou Attal.

Encontro de Lula com Macron no Palácio do Eliseu demorou 1h15 | Foto: Ricardo Stuckert/Lula

Transição ecológica dos países em desenvolvimento

Também foi debatido entre Lula e Macron a questão do financiamento da chamada transição ecológica dos países em desenvolvimento e ambos concordaram que essa é uma preocupação mútua. Macron expressou reconhecimento da importância do Brasil no mundo e desejo de relações mais fortes entre o o país e a França.

Após o encontro, o ex-presidente Lula usou de suas redes sociais para falar sobre a reunião que teve com o líder francês. ‘Acredito que os líderes mundiais precisam sentar à mesa para dialogar e enfrentar esses desafios com uma governança global. Dividimos preocupações como o avanço da extrema direita pelo mundo e as ameaças à democracia e aos direitos humanos. Agradeço pela cordial recepção”, disse Lula.

Premiação antes do encontro com Macron

Antes de ser recebido com honras de chefe de Estado pelo presidente da França, Lula  recebeu o prêmio da revista Politique Internationale na presença de 180 empresários, diplomatas e ex-ministros, integrantes de um seleto clube de leitores da revista. Em um café da manhã organizado num hotel cinco estrelas da capital francesa, os convidados puderam questionar o petista sobre sua visão do futuro do Brasil. Havia na sala representantes da fabricante de aviões Dassault, das montadoras Peugeot e Renault, da gigante de cosméticos L’Oréal e do Facebook França, entre outras empresas.

De acordo com relato da RFI, muitos estavam curiosos para saber de que forma o Brasil poderá retomar o caminho do crescimento e, ao mesmo tempo, se adaptar às exigências de combate às mudanças climáticas. Lula considerou ambos os objetivos compatíveis. Ele defendeu para o país “uma forte política de desenvolvimento interno, e uma forte expansão de política externa”. “Em oito anos de governo, nós colocamos uma Colômbia e uma Argentina dentro do sistema financeiro”, recordou o ex-presidente. “O Brasil poderá voltar a ser uma economia pujante, crescendo interna e externamente, o que é possível fazer, e a solução estará mais uma vez em transformar os pobres em consumidores”, disse.

Viagem para restabelecer credibilidade do Brasil

Na coletiva de imprensa organizada após a entrega do prêmio, Lula reafirmou que ainda não definiu se será candidato em 2022. Ele explicou que está viajando na Europa para “restabelecer a credibilidade que o Brasil já teve no mundo”. Lula criticou as “escolhas econômicas desastrosas” do governo Bolsonaro, “em especial para os trabalhadores, os mais pobres, o meio ambiente e os direitos humanos”, ameaçados atualmente no Brasil, frisou o petista. Por outro lado, ele disse que “se o Partido dos Trabalhadores ou outra força política (democrática) ganhar as eleições, nós vamos voltar a trabalhar muito forte com a União Europeia (…) e com a França, um parceiro estratégico nosso”.

Lula lamentou que Bolsonaro tenha tirado o país do centro das decisões internacionais: “O Brasil está afastado, não participa de nada, não é convidado para nada.” Ele lembrou que o Brasil está entre as dez maiores economias do mundo e deve ter uma participação forte nas decisões de política internacional. O petista voltou a defender uma reforma da governança mundial, retomando propostas que desenvolveu na terça-feira (16), em sua palestra na escola de ciências políticas Sciences Po de Paris, onde recebeu o título de Doutor Honoris Causa há dez anos, lembrou a RFI.

“Eu falei da necessidade de convocarmos uma conferência mundial para falar de governança. Não dá mais para a gente ficar subordinado às atuais decisões da ONU, porque já não representam mais grande coisa e ninguém mais obedece”, disse Lula para os jornalistas presentes na entrevista coletiva. “É preciso colocar outros atores, é preciso acabar com o direito de veto (no Conselho de Segurança)… todos os continentes têm de estar representados”, insistiu. “A geopolítica de 2022 mudou e a ONU precisa se inovar, ter novos dirigentes, para que possa ter mais influência positiva no mundo”, ressaltou. O tema voltou a ser discutido na conversa com Macron.