fbpx
Início > Pesquisas com hormônios sexuais na Ufes visam melhorar qualidade de vida de mulheres na pós menopausa

Pesquisas com hormônios sexuais na Ufes visam melhorar qualidade de vida de mulheres na pós menopausa

O objetivo é a obtenção de resultados para desenvolvimento de novas formas de terapias para mulheres na pós-menopausa

Entre as diversas pesquisas em andamento no Centro de Ciências da Saúde(CCS), no campus de Maruípe da Ufes, está a que tem como objetivo a obtenção de resultados para o fornecimento de subsídios para o desenvolvimento de novas formas de terapia que possam vir a ser testadas em mulheres na pós-menopausa. O intuito, segundo o chefe do laboratório, professor Roger Lyrio dos Santos, PhD em Fisiologia, é melhorar a qualidade de vida na pós-menopausa e homens que, eventualmente, estejam passando pela andropausa. O pesquisador investiga o efeito de hormônios sexuais sobre o sistema cardiovascular na instituição de ensino.

São quatro alunos de doutorado, sendo três alunas e um aluno, e 4 alunos de mestrado, também 3 alunas e um aluno. O professor informou que os projetos, para serem iniciados, são submetidos inicialmente à Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA-UFES), para obter aprovação.

“Não podemos começar nada sem passar pela Comissão de Ética, que é uma comissão independente. Eu fui coordenador da Comissão de 2016 a 2018”, disse. É a Comissão que avalia o projeto, observando os cuidados com a utilização de animais na pesquisa, ensino e extensão. Se o projeto não tiver o cuidado adequado no trato dos animais no laboratório ou se for utilizado um protocolo sem anestesia, por exemplo, a Comissão solicitará os devidos ajustes ou justificativa para a ausência de anestesia. “Caso contrário o projeto não será aprovado”, acentuou.

Pesquisa

A pesquisa em desenvolvimento leva em consideração a ação dos hormônios sexuais como a testosterona produzida principalmente nos testículos dos indivíduos masculinos e a progesterona e estrógeno nos ovários femininos. O professor contou que tudo começou em um estudo longo de acompanhamento em mulheres, que mostrou que a incidência de doenças cardiovasculares aumenta de forma significativa após a menopausa. Diferente do homem que pode ser acometido em qualquer fase da vida de um ataque cardíaco. “As mulheres se igualam aos homens após a menopausa. Depois da sétima década de vida elas ultrapassam os homens. Isso mostra que até a menopausa elas têm uma proteção.”

Exatamente quando o ovário para de funcionar é quando ela para de produzir os hormônios sexuais progesterona e estrógeno. Uma série de estudos in vitro demonstraram que o estrógeno tem um efeito cardioprotetor, fazendo o coração bater mais devagar e modulando a contratilidade cardíaca e o fluxo coronariano, o que é bom para permitir um enchimento adequado das câmaras cardíacas e perfusão ótima para o coração, evitando eventos como arritmias, hipóxia e infarto”, explicou.

A progesterona também apresenta esses efeitos cardiovasculares, e estudos mais recentes sugerem que o aumento de risco em mulheres também possa estar associado à queda de testosterona nas mesmas, que mesmo em baixíssimas concentrações apresentaria importantes ações. Nos vasos sanguíneos esses hormônios provocam o relaxamento, dessa forma aumentando o fluxo sanguíneo (perfusão) e diminuindo a chance de obstrução. Os hormônios sexuais ainda proporcionam outros efeitos, como por exemplo, a ação do estrogênio na preservação da memória, controle da temperatura, modulação do humor e da libido.

O estrógeno tem um efeito cardioprotetor, fazendo o coração bater mais devagar e modulando a contratilidade cardíaca e o fluxo coronariano, o que é bom para permitir um enchimento adequado das câmaras cardíacas e perfusão ótima para o coração, evitando eventos como arritmias, hipóxia e infarto”

A perda da produção de hormônios sexuais após a menopausa, notadamente estrogênio e progesterona, pode levar a efeitos como depressão, irritabilidade, fogachos, sudorese noturna, e a longo prazo pode ter efeito sobre a memória, e culminar com Alzheimer, além do risco de osteoporose e de doenças cardiovasculares e afetar ainda o humor. “As alterações de humor, por exemplo, podem ser vistas na TPM quando a mulher tem uma queda temporária de estrógeno e é quando algumas mulheres podem sofrer alteração de humor. Na menopausa essa queda é permanente. A alteração é grande e pode vir como irritabilidade ou depressão também”, prosseguiu.

O estrógeno quando é administrado após a menopausa é capaz de reverter esses efeitos. Tem efeito sobre o humor, sobre o interesse sexual, além de atuar na parte da genitália, no epitélio vaginal mantendo o número de camadas do mesmo e a lubrificação adequada para o ato sexual. Quando a mulher para de produzir os hormônios sexuais, a vagina fica mais delgada e com menor lubrificação, levando a eventuais dores e provocando dor na hora da relação sexual (dispareunia), e é quando ela tem menos interesse porque tem menos hormônio. O mestre observou que o estrógeno é um hormônio que pode estimular a proliferação descontrolada das células do útero ou da mama após certa idade, pode contribuir para o surgimento de câncer. “Então é aquela dúvida. Usar ou não usar a terapia de reposição hormonal?”, questionou.

“O que mais tempo estudamos no meu laboratório é sobre o estrógeno e hoje estuda-se a ação de uma substância que estimula o receptor de estrógeno de membrana mas sem induzir ações genômicas que podem levar ao câncer. É uma molécula que tem ação rápida e pode dilatar os vasos sanguíneos, sem o risco de indução de câncer. Ele atua sobre o receptor de estrógeno acoplado a proteína G (GPER). Essa substancia é o G-1”, disse o professor. “Também estamos aprofundando cada vez mais os estudos sobre a ação dos outros esteroides sexuais (testosterona e progesterona)”, acrescentou.

Ele possui vários trabalhos publicados e no ano passado foi chamado para dar uma palestra em um simpósio importante chamado FeSBE (Federação de Sociedades de Biologia Experimental). O convite veio pelo fato de ser um dos pesquisadores que mais publicam sobre esse assunto (GPER) no país. Roger Lyrio disse que o GPER (G protein-coupledestrogen receptor), que é a sigla do receptor que tem demonstrado ser capaz de dilatar a artérias do coração, um órgão vital, é capaz de reduzir a geração de espécies reativas que podem gerar estresse oxidativo, além de ser capaz de dilatar vasos muito pequenos da microcirculação, como as arteríolas.

“Temos mostrado que essa molécula tem efeito benéfico promovendo o aumento de fluxo e redução de espécies reativas e com efeito vasodilatador muito importante. Ela estimula a liberação de fatores que o próprio vaso produz. Ao longo dos anos outros hormônios sexuais nessa história toda ficaram um pouco de lado. Por exemplo, a progesterona é dos três, o hormônio que tem menor descrição de efeitos sobre o sistema cardiovascular. Primeiro vem o estrógeno e depois tem a testosterona, que é muito controversa. Há trabalhos que dizem que a testosterona é boa e outros garantem que é ruim. Temos usado muito a testosterona, que melhora muito o fluxo nas artérias coronárias, dilata e sendo muito parecidas com o estrógeno”, explicou.

“Ainda não publicamos os trabalhos referentes a progesterona, mas já levamos resultados à vários congressos e temos alunos de mestrado trabalhando com isso”, afirmou. Publicamos dados mostrando os efeitos da testosterona em doses fisiológicas e supra-fisiológicas em artérias coronárias de ratos normotensos. No momento, pesquisamos o efeito da testosterona em artérias coronárias de animais hipertensos, e também em artérias mesentéricas de resistência tanto de ratos normotensos quanto hipertensos”, acrescentou.

Ele ainda advertiu que no Espírito Santo há um uso muito grande de esteroides anabolizantes usados de maneira ilícita e em doses supra fisiológicas, a ponto que nessa fase do ano, em janeiro, por exemplo, quem precisa adquirir para tratamento tem dificuldade em encontrar para comprar. “Então estamos estudando a testosterona também. O que queremos saber agora é o que a super dosagem faz. Nós estamos estudando o efeito da testosterona. Saber o que ela faz para o organismo poderia fornecer informações que poderão contribuir inclusive, para o desenvolvimento de novas formas de terapia”, disse o professor. “Nós temos um longo estudo no programa dos efeitos dos hormônios sexuais.

Quem começou a realizar estudos iniciais em nosso Programa de Pós Graduação foi o professor Antonio de Melo Cabral, que é aposentado. Ele observava que quando castrava os animais as respostas cardiovasculares eram alteradas, tanto em machos quanto em fêmeas. A minha então orientadora, professora Margareth Ribeiro Moysés seguiu isso no doutorado dela, porém hoje também está aposentada. “Eu entrei em 2010 e após sua aposentadoria assumi a linha de pesquisa dela no laboratório e expandi a mesma e hoje analisamos os principais esteroides sexuais (estrogênio, progesterona e testosterona), bem como as ações do agonista seletivo (G-1) do receptor estrogênico acoplado à proteína G (GPER). Contamos com a parceria de professores do nosso programa de pós graduação, como a professora Nazaré Souza Bissoli, bem como de outros programas, como da USP e UFMG”, finalizou.

QUEM É

O professor fez graduação em Ciências Biológicas, concluída em 2000. De 2000 a 2002 fez mestrado em Ciências Fisiológicas. De 2002 a 2006 fez doutorado na Ufes. De 2006 a 2010 ficou na rede privada dando aula e em 2010 fez um concurso público, tendo passado e foi quando entrou como professor universitário. Em 2015 se afastou para fazer um pós-doutorado (PhD) na UFMG, sob a supervisão da professora Virginia Soares Lemos e foi onde fez o PhD em Fisiologia e Farmacologia. Está programando sair do país daqui a um ano, mas reluta devido aos alunos que possui.

Ele destacou que todos os trabalhos que se desenvolvem na pós-graduação não são remunerados. “É voluntário e é a parte que toma mais tempo da gente na Universidade, para quem faz pesquisa. Na graduação você tem que preparar aula e se programar para ter uma qualidade de aula boa. Depois vai adicionando as coisas. A pesquisa não, ela é full time. No período de férias o laboratório nunca para. É uma coisa que a gente escolhe porque gosta. Eu chego as 7h30 e costumo sair 17h30 ou 18h. Fico umas 10 horas por dia. Os alunos também. Alguns não chegam tão cedo mas saem mais tarde. Outros chegam ainda mais cedo, e saem mais tarde”, narrou.