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“Cão-guia” robô é apresentado a deputados estaduais capixabas

Batizado de Lysa, tecnologia capixaba pode ser alternativa para auxiliar locomoção de deficientes visuais

O robô custa mais de R$ 50 mil e tem vida útil de quatro a cinco anos | Foto: Reprodução

A Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales) conheceu, na reunião desta última terça-feira (30), o “cão-guia” robô batizado de Lysa. A invenção foi apresentada pela CEO de uma empresa capixaba de Tecnologia de Informação, Neide Sellin, e promete ser mais uma alternativa para auxiliar pessoas com deficiência visual. A nova tecnologia, que demorou 10 anos para ficar pronta, já está em fase de produção e inicialmente será utilizada em ambientes internos.

Sellin detalhou as funcionalidades da Lysa. O robô fica no chão, é movido por rodas e pesa em torno de 2,8 Kg. Dispõe de uma alça, parecida com a rédea do cão-guia, mas, nesse caso, há botões para aumentar e diminuir a velocidade do aparelho e o volume do som, além de vibrar quando os objetos são identificados. Dotado de inteligência artificial, câmeras e sensores, o robô “fala” quando existem obstáculos, inclusive os aéreos, à frente do usuário e que podem machucar.

Atualmente, explicou a CEO da empresa, a Lysa já mapeou 80 objetos por meio de sua câmera, como carro, pessoa, vaso de planta e vai “aprendendo” com o uso. “Se ela perceber um carro, ela fala para o usuário”, afirmou Sellin. O robô é alimentado por uma bateria com autonomia de 8 horas, mas pode ser substituída por outra – são necessárias de 4 a 6 horas para recarga – e ainda conta com um software embarcado para fazer os mapas dos locais.

Conforme a empresária, a invenção hoje é voltada para espaços indoor, como shoppings e aeroportos. O próximo passo será a navegação em espaços abertos. “Ela segue sempre em linha reta, com a orientação do usuário. Se por acaso o usuário não tem conhecimento daquele espaço, ela precisa ser treinada, ensinada”, esclareceu. Feito o reconhecimento, o robô pode ter a navegação acionada por meio da voz. As coordenadas são feitas por um sensor como o dos carros autônomos.

O desenvolvimento do “cão-guia” robô contou com a participação de mais de 200 pessoas que fizeram testes e já existem 100 pedidos sob encomenda – 20 deles serão para o Espírito Santo. Há oito solicitações de patente envolvendo o projeto. Neide Sellin revelou que, neste ano, a iniciativa recebeu mais de R$ 3 milhões de investimento de fundos públicos de pesquisas. “Sem esses apoios, com certeza a gente não conseguiria chegar a espaço nenhum.”

De acordo com ela, Lysa pode ser uma opção para os 6,5 milhões de pessoas com deficiência visual que vivem no Brasil, onde existem no máximo 250 cães-guias. Poucas instituições são especializadas no treinamento desses animais, cujo período de preparação pode levar até dois anos. O cão-guia é entregue de maneira gratuita ao usuário, mas os custos variam de R$ 30 mil a R$ 80 mil. A expectativa de vida deles é pequena, fora gastos de saúde e alimentação.

O servidor público Carlos Ajur, que é cego, aprovou a iniciativa. “Tudo que vem para contribuir para a independência da pessoa com deficiência no mundo é salutar”, disse. Ele reiterou as dificuldades para se obter um cão-guia no Brasil e destacou dificuldades extras que 80% desse público-alvo enfrenta, como a baixa renda. Trabalhando no Núcleo Otacílio Coser da Assembleia Legislativa (Ales), Ajur sugeriu que unidades do robô sejam disponibilizadas no aeroporto e na rodoviária, bem como em shoppings e hospitais.

Sobre os custos, Neide Sellin afirmou que trabalha com a possibilidade para que sejam subsidiados por meio de leis de incentivo a fim de distribuir Lysa de maneira gratuita, inclusive com patrocínio de governos de fora do país. De acordo com a empresária, o custo unitário do robô –  R$ 15 mil – corresponde a “praticamente o preço das peças”. Além disso, 60% do valor é referente a imposto.

“Sou formada em Ciência da Computação. Sempre busquei desenvolver tecnologias que pudessem ajudar o mundo de alguma forma”, salientou a empresária. “Ela (Lysa) muda a maneira de as pessoas verem a tecnologia, dá mais dignidade, mais empoderamento para a pessoa com deficiência visual”, completou.

Presidente da Comissão de Saúde, Doutor Hércules (MDB) criticou a ausência do poder público no processo de desenvolvimento do projeto, e sugeriu que Sellin e a executiva de vendas Flavia Mattos dos Santos procurassem o Instituto Unimed Vitória para viabilizar uma parceria.

Outra proposta apresentada foi que buscassem contato do cantor capixaba Roberto Carlos para divulgar a invenção. Segundo explicou o parlamentar, o artista é sensível à causa devido a um filho com problema na visão. Dr. Emílio Mameri (PSDB) também participou da reunião.

Curiosidades

O robô “cão-guia” está entre as 12 maiores tecnologias mais inovadoras no mundo em um prêmio concedido em Singapura. Conforme Neide Sellin, o nome Lysa (com y) é inspirado em Steve Jobs, que, antes do surgimento da marca Apple, havia lançado o primeiro computador de nome sugerido Lisa, que acabou não vingando. O nome pequeno e simples também tem apelo global, explica ela.

Lysa

O robô-guia Lysa foi criado pela startup capixaba Vixsystem. O robô-guia conta com um GPS acoplado a sua plataforma e pode acessar uma ferramenta de navegação, como o Google Maps, para definir a trajetória e o plano de navegação para o usuário se deslocar. Em todo o mundo há mais de 940 milhões de pessoas com algum grau de perda visual, sendo que cerca de 216,6 milhões apresentavam deficiência visual moderada ou grave e 36 milhões possuíam cegueira total, segundo dados de 2015.

O edital que permitiu as pesquisas para o desenvolvimento do robô-guia Lysa foi lançada pela FAPESP em colaboração com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o Ministério das Comunicações (MCom) e o Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). O impacto da inovação contribui para a melhoria na mobilidade de pessoas com deficiência, que representam uma grande parcela da população. O preço é acima de R$ 50 mil e tem vida útil entre quatro e cinco anos.