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Estudo da Ufes mostra impactos da violência emocional na vida de crianças e adultos

Estudo realizado na Ufes mostra que a violência emocional em crianças traz consequências negativas | Foto:Reprodução/Internet

A violência emocional pode não deixar marcas visíveis, mas a dor intensa que ela provoca traz consequências negativas nas relações interpessoais e no comportamento do indivíduo vitimado na infância ou na adolescência. Esse foi o objeto da tese da doutora em Psicologia Catarina Gordiano, orientada pela professora Edinete Rosa, do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Ufes. O trabalho está condensado na cartilha Violência emocional contra crianças e adolescentes no contexto familiar.

A tese foi constituída de três estudos. O primeiro tratou de uma revisão da literatura sobre o tema para “identificar as repercussões da violência emocional intrafamiliar vivenciada na infância e na adolescência em artigos científicos”. O segundo buscou traçar “um panorama das violências (física, emocional e sexual) vivenciadas no contexto familiar” por um grupo de 600 alunos da Ufes que responderam a um questionário.

Imagem da Cartilha da Violência Emocional Contra Crianças e Adolescentes no Contexto Familiar | Imagem: Ufes

Violência física e emocional

Os participantes relataram experiências de violências física e emocional: chineladas (88%); tapas (84%); beliscões (69%) e surras (53%); desvalorização e xingamentos (74%); ameaças em geral (68%); desdém, isolamento ou rejeição (58%) entre outras. No que tange à violência sexual, insinuações, encenações e gestos obscenos (23%) e toques em partes íntimas (23%) foram as opções citadas. Tios, primos, amigos da família e vizinhos estão entre os que mais praticam a violência sexual.

O terceiro estudo foi com um grupo de 12 voluntários que passaram por alguma experiência de violência emocional na convivência familiar quando criança ou adolescente. Esse grupo foi formado por pessoas que atenderam a um chamado em redes sociais. Os casos relatados foram de violências emocional, física e sexual. Os pais foram apontados como os principais agressores, seguidos de outros familiares e amigos da família.

Autoestima e desenvolvimento

Segundo Catarina Gordiano, não existe conceito fechado sobre violência emocional, mas é possível afirmar, a partir dessa pesquisa, que “advém de comportamentos como agressão física, pressão e tortura psicológica, indiferença, palavras agressivas e atitudes que humilham, oprimem e menosprezam e interferem de alguma forma na autoestima e no desenvolvimento do agredido”.

“A violência emocional está presente nas famílias e é passada de geração para geração. Normalmente está associada a outras formas de violência e se mostra um fator de risco para o desenvolvimento da criança”, diz a pesquisadora. Os estudos dos últimos dez anos, acrescenta ela, apontam que as principais formas de violência emocional praticadas contra crianças e adolescentes são negligência, desvalorização e xingamento, humilhações, abandono, ameaças, rejeição e falta de diálogo. “Esses atos estão nos artigos científicos e também foram relatados nas narrativas que eu ouvi”.

Consequências

As consequências da violência emocional, de acordo com Gordiano, podem aparecer já na infância, na juventude ou na fase adulta. Na infância e na adolescência, a vítima apresenta sentimentos de vergonha, medo, agressividade, e pode reproduzir na escola o comportamento violento; há impacto no desenvolvimento escolar e pode ter crise de ansiedade e depressão. Na fase adulta, o mais comum é a vítima apresentar também agressividade e reproduzir a violência tanto com parceiros íntimos quanto com filhos. Também é comum sentimento de culpa, transtorno de estresse pós-traumático e depressão. “Geralmente é na fase adulta que a pessoa busca algum apoio psicológico”, ressalta a pesquisadora.

De acordo com dados de 2017 do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), cerca de 300 milhões de crianças entre 2 e 4 anos experimentam regularmente disciplina violenta por seus cuidadores. Com base em dados de 30 países, uma pesquisa do órgão revela que seis a cada dez crianças de 1 a 2 anos são submetidas a métodos disciplinares violentos – punição física e violência emocional. Por outro lado, apenas 60 países adotaram alguma legislação que proíbe totalmente o uso de castigos corporais contra crianças no contexto familiar.