por Francisco Celso Calmon
É cômodo cobrar de Lula aquilo que não conseguimos realizar. Cobremos de nós, como ponto de partida.
Alguns que fizeram parte da geração 68 cobram do Lula “fazer” a revolução, esquecem que não conseguimos fazer, e que o Lula nunca se propôs a tal, embora a necessidade histórica da revolução exista.
Escrevi um artigo com o título “Lula não será um revolucionário”, disponível no GGN, do qual vou reproduzir algumas passagens: É o contexto histórico que determina a formação e a personalidade política de uma liderança. Lula na história política do Brasil surgiu no prenúncio dos estertores da ditadura militar e início da redemocratização do país como sindicalista de resultados. Toda a sua verve, tática e postura, eram voltadas para obtenção de resultados salariais para os trabalhadores, e soube e sabe jogar bem, com êxito, no tabuleiro do xadrez do adversário. Não surgem lideranças revolucionárias sem que as classes trabalhadoras também estejam avançadas em seus níveis de consciência, organização e manifestação.
Vanguarda fruto apenas da própria subjetividade é estéril e aventureira.
Quando houver uma classe trabalhadora revolucionária, surgirão Lulas revolucionários, não um, mas alguns, na atualidade não há nenhum. É óbvio que há uma relação dialética entre a liderança e a classe, não se trata de esperar a classe trabalhadora adquirir consciência e organização para que a liderança seja revolucionária, são relações interagentes, geralmente a liderança está à frente, mas há casos históricos em que as massas empurraram as lideranças pra frente.
Em 64 não tínhamos uma liderança única, mas várias, reformistas e revolucionárias, nos pós golpe também, e na luta armada idem, e nem todas anticapitalistas, pelo socialismo e pelo poder popular, havia as que acreditavam na ilusória burguesia nacional e patriótica.
Lula não é fruto de um operariado vocacionalmente revolucionário e nem de uma época revolucionária, mas é produto do início da decadência da ditadura e da luta pela redemocratização, uma liderança pragmática de movimentos reivindicatórios, apreendeu e aperfeiçoou a arte da negociação, não do confronto. E venceu as eleições quando virou Lulinha paz e amor. Pode pendular, mas não será um líder revolucionário.
Nem por isso será menos reformista se tiver um movimento social forte, demandando e pressionando pelas transformações estruturais mais vitais ao povo.
Seu otimismo nem sempre realista precisa mudar as lentes para enxergar que, queria ou não, a luta de classes é um fenômeno histórico, que independe da vontade, é objetivo, desconhecer é continuar a ser surpreendido, como foi com o tempo de sua prisão e quando governo com as escolhas para o Judiciário e PGR.
“Se não acreditasse na justiça não teria construído um partido político, tinha feito uma revolução”. (Lula)
Lula sabe que se a conciliação de classes que ele opera for de novo abortada, a alternativa é o caminho revolucionário.
“Não vão vender a Petrobrás. Vamos fazer uma Constituinte, vamos revogar a lei do petróleo que eles estão fazendo.” Essas e outras afirmações e promessas foram feitas horas antes de se entregar à PF para ficar preso, não por poucos dias, como alguns juristas haviam afiançado, mas 581 dias, como ninguém havia previsto, porque a crença na Justiça foi irradiada.
Completamente diferente nas nossas prisões pela ditadura militar, não esperávamos nada da Justiça, embora os nossos advogados pelejassem, era na luta política as nossas expectativas, no desgaste da ditadura e na sua derrota.
Com a prisão do Lula o eixo jurídico passou a ser o central na luta política, a tal ponto que virou um seriado, uma novela, quase todos os dias havia alguns recursos, alguma expectativa de liberdade, e os dias foram se passando, e graças a vigília diuturna da militância em frente à PF de Curitiba, aos comitês Lula livre por todo o país, e a solidariedade de lideranças proeminentes, nacionais e internacionais, o aspecto de luta política não foi totalmente secundarizado e o peso da prisão fico menor do que na eventual solidão política.
Foram as contradições internas do poder dominante, as idiossincrasias do governo Bolsonaro e do bolsonarismo, que atravessaram o rubicão algumas vezes, foi esse conjunto que levou o STF à revisão do poder daquela força-tarefa, a lava jato, ou por outra, o fracasso econômico do governo, a sua crescente impopularidade e o desgaste do STF, que fora humilhado diversas vezes, é que levaram o Judiciário a desfazer os males e ilegalidades que haviam perpetrados desde a prisão coercitiva do Lula, do vazamento ilegal do áudio da conversa da presidenta com Lula, da intromissão de Gilmar Mandes, baseado em informações da Globo, na política interna do Executivo de nomear uma pessoa qualificada para um cargo de ministro do governo, e não por haver Justiça neste país.
Perguntem aos pobres, aos negros, aos LGBTQI+, se eles sabem aonde mora a Justiça, e se alguns souberem, deem o endereço a todos os despossuídos de cidadania.
A possibilidade de renúncia das candidaturas do canalha e do cafajeste não está sendo uma surpresa. A do Mouro cheguei a prever em dois artigos, a do Bolsonaro não afirmei enfaticamente, mas em linhas gerais ao falarmos da sua personalidade também enxergamos essa hipótese, consoante ao seu caráter e currículo, contudo, é necessário conhecer o termômetro das FAs, afinal, há militares em toda a institucionalidade do Estado, em postos chaves e engordando seus salários e embolsando alguns mais de forma corrupta.
Quando a situação do tenente-terrorista no Exército ficou pendurada no abismo, ele conseguiu um acordo no STM, a despeito da posição de seus comandantes que o queiram expulso da Força. Foi para a reserva como capitão, recebendo soldo, salvo engano, até o presente. Ele suga as tetas do Estado de todos os jeitos que puder.
Após passear de jet-ski e nos carrinhos do parque de diversões adoeceu. Se tivesse superego poderia atribuir à consciência pesada a sua somatização, pois enquanto se divertia o povo baiano vivia uma tragédia com mortes e desabrigados.
Seus assessores devem ter alertado que o comportamento insensível dele, o levou a perder mais simpatizantes e votos, e para variar usa da doença para chamar a atenção como coitadinho. Recorre a máfia de branco da “fakeada” para uma simples desobstrução intestinal, a bosta não está querendo sair, pois é dentro dele que se sente em casa. Ou não é decorrente da “fakeada”, mas, talvez, de um câncer intestinal?
É típico do sociopata a frieza em relação ao outro e o pragmatismo em relação a si mesmo.
Aceitar a derrota de véspera não é própria de seu histórico e personalidade. Se caminhar nessa vereda, as possibilidades dele atentar pela desestabilização aumentam.
É mister colocar a lupa em seus movimentos não visíveis, será aí que podemos detectar o que ele está preparando como reação diante de uma derrota iminente e humilhante, se no primeiro turno.
Não esperar acontecer, proagir é o antídoto, nesse sentido PT e Lula deveria enviar emissários ao mundo, China, Rússia, Europa, etc., para estarem presentes no acompanhamento e posicionamento na manutenção das regras democráticas nas eleições próximas.
Já o Sérgio Mouro é um covardão, fujão, sem toga e sem alianças e eleitores suficientes para ter competitividade, deve tentar se refugiar no Parlamento, todavia, receberá as ordens dos seus patrões da CIA e as seguirá, brevemente saberemos.
Podemos enxergar nessa especulada e dupla jogada uma última tentativa de autoproteção, se candidatando a cargos do Legislativo para conquistar o fórum político e jurídico privilegiado, e a outra é a de acharem, ao um deles deixar órfãos seus eleitores, que eles irão para o outro ou alguém da chamada terceira via, mediante algum acordo. Ou apenas laboratório para colher feedbacks? No momento acho o mais provável.
O Ciro novamente pode se oferecer a esse papel, a de antipetista e antilulista, contudo, a direita sabe da sua vocação autoritária e o “mercado” não tem também confiança nele. Não é uma equação fácil. Pois, afinal, quem é o Ciro? A única certeza histórica é que é ruim de voto e um bom executivo.
A jogada dupla pode ocasionar gol contra, e o Lula ser eleito no primeiro turno, ocorrendo o fenômeno do voto útil.
Nesse cenário o Centrão vai se dividir, os ideológicos nazifascistas continuarão afastados do Lula, os fisiológicos correrão para dar sinais de apoio para pegar carona no prestígio dele.
Penso igualmente que a jogada não livrará esses biltres do devido processo e de suas respectivas condenações, nacional e internacionalmente.
Em 1974, a ala dos “autênticos” do MDB (o antigo), que era uma frente de oposição institucional à ditadura, traçou uma estratégia exitosa, lançou Ulysses Guimarães como “anticandidato” a presidente. A campanha consistia em levá-lo a percorrer o país para defender a redemocratização e a eleição de emedebistas para o Congresso. O resultado foi a eleição de 16 senadores para as 24 vagas em disputa e de 44% da Câmara Federal.
A federação partidária de esquerda e o Lula na liderança podem repetir fenômeno semelhante.
Francisco Celso Calmon, coordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça