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Comerciante de Cariacica é preso por insistir em vender fios sem qualidade da marca Luzzano

Para aumentar a lucratividade, os fios da Luzzano estão abaixo das especificações técnicas e causam superaquecimento da rede de energia, curtos-circuitos e incêndios. O consumidor que encontrar os fios da Luzzano deve denunciar o comerciante, ligando para o número 181 da Polícia Civil

Apesar da denuncia da Polícia desde agosto de 2021, comerciante de Cariacica insistia em vender fios da marca Luzzano | Foto: PC-ES

Ainda há comerciantes inescrupulosos que continuam vendendo fios irregulares da marca Luzzano na Região Metropolitana de Vitória. Nesta última segunda-feira (7), um revendedor de Cariacica, que não teve seu nome e nem seu endereço divulgado pela Polícia Civil do Espírito Santo (PC-ES) foi preso por insistir em vender fios de baixa qualidade. Também, o dono da fábrica Luzzano Condutores Elétricos do Brasil, que mora na Praia do Canto e que se encontra preso desde agosto do ano passado, teve um novo mandado de prisão expedido pela Justiça.

A prisão do comerciante de Cariacica foi feita pela PC-ES conjuntamente com parlamentares da Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa do Espírito Santo e o Instituto de Pesos e Medidas do Estado do Espírito Santo (IPEM), em uma nova fase da Operação Elétron. Os técnicos do IPEM alertam que, além de proporcionar superaquecimento e provocar incêndios, os fios da Luzzano ainda aumentam o consumo de energia e colocar a vida dos moradores de residências e de estabelecimentos empresariais em risco.

Consumidor deve colaborar com as autoridades policiais, denunciando comerciantes que ainda vendem fios da Luzzano | Foto: Divulgação

Moradores querem troca de fiação irregular

A Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa (Ales) voltou a tratar dos desdobramentos da “Operação Elétron”, deflagrada pela Polícia Civil (PC-ES) em parceria com o colegiado para investigar irregularidades na produção de fios elétricos no Espírito Santo. Em reunião realizada nesta segunda-feira (7), os parlamentares ouviram representantes da Polícia Civil, do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem), de condomínios e de construtoras que usaram fiação da empresa Luzzano, investigada na operação.

A Delegacia de Defesa do Consumidor (Decon), em uma ação coordenada pelo delegado Eduardo Passamani, em parceria com o Ipem, realizou uma inspeção em condomínios que tiveram fios e cabos da empresa Luzzano utilizados nas instalações elétricas e apresentaram queixas. “Esse é o início de uma ‘bola de neve’. Temos recebido lá na delegacia muitos síndicos, muitos consumidores procurando a gente, reclamando do que vem acontecendo. Às vezes um consumidor está em casa e queima um eletrodoméstico, derrete uma tomada”, informou o delegado.

Passamani reforçou em sua fala a responsabilidade das construtoras nos casos. “As empresas estão ‘lavando suas mãos’, não estão dando a devida atenção aos seus consumidores. Elas falam que compraram de boa fé. Mas a relação, eu quero deixar bem claro aqui, que a relação de consumo é com a construtora. A construtora tem que se responsabilizar pelo que ela forneceu ao consumidor”, frisou.

Problemas encontrados

Ao todo foram vistoriados quatro condomínios. Em todos eles foram convidados os representantes das construtoras para acompanhar as inspeções, mas o delegado reportou que somente em um deles a empresa atendeu ao chamado. “Tudo que a gente pegou da Luzzano até hoje estava desconforme, não pegamos nenhuma amostra boa. Todos os laudos vieram dizendo que isso pode causar aumento de consumo de energia, pode causar um risco de incêndio. Foi o que constatamos nessas inspeções”, denunciou.

Reunião da Comissão de Defesa do Consumidor nesta segunda-feira (7) para discutir as consequenciais dos fios da Luzzano | Foto: Ales

IPEM

O técnico do Ipem Luiz Langoni participou das vistorias e explicou que os testes foram feitos com diversos tipos de fios no local e, posteriormente, no laboratório do instituto com as amostras recolhidas aleatoriamente. “Fizemos o ensaio, todos eles estavam reprovados. Os fios com o maior índice de reprovação são os de 2,5mm, que são os fios mais utilizados em instalações desse alvo. Então, assim, tem aquela característica de fraude mesmo, não é uma característica de erro de fabricação”, sentenciou.

O especialista explicou ainda que todo fabricante desse tipo de material deve ter um laboratório de testagem idêntico ao do Ipem, onde foi feita a análise dos fios. Ele comentou que isso reforça ainda mais os indícios de fraude, já que a própria fabricante deveria reprovar os materiais em suas análises antes de colocar seus produtos à venda. O técnico informou que após as inspeções e testagens, todo o material recolhido foi encaminhado à Polícia Civil junto dos laudos.

Uma informação que chamou a atenção do presidente do colegiado, deputado Vandinho Leite (PSDB), foi a de que os fios testados pelo Ipem tinham entre 25% e 40% menos cobre do que deveriam ter, de acordo com as suas especificações. “Quem tem acesso aos fios, eu não sou engenheiro elétrico, mas quando eu peguei pela primeira vez você já percebe que tem fraude, não precisa ser especialista não. É borracha pura e um cobre fininho no meio, você compara com outro fio de mesma bitola e é um negócio escandaloso”, alerta o parlamentar.

Moradores X construtoras

O síndico Anderson Guimarães, responsável pelo Condomínio Solar dos Bem-Te-Vis, na Serra, lamentou a demora na resolução do problema. “Você compra um imóvel e aquele imóvel que você compra coloca em risco a vida dos moradores dos 80 apartamentos do condomínio”, disse. O síndico chamou a atenção para a situação de diversos proprietários que estão morando de aluguel em outras localidades aguardando que a situação seja resolvida para que possam habitar seus imóveis em segurança.

André Rezende, representante da empresa Vivace, construtora responsável pelo condomínio, informou que a empresa realizará a troca de todo o material que estiver em situação irregular. “Em tudo que a Luzzano for condenada, a Vivace não vai se abster de trocar”, informou. Ao ser questionado pelo presidente da comissão sobre o prazo para efetuar a troca, o representante informou que a Vivace contratou uma empresa de fora do estado para periciar toda parte elétrica do condomínio e que fará a substituição assim que o laudo for liberado, caso haja a constatação das irregularidades.

Representantes de três condomínios sob a responsabilidade da Construtora Kemp Engenharia também participaram da reunião e apresentaram suas queixas. “Essa construtora que fez um, dois, três, mais um que ficou na mídia, quatro só que a gente sabe aqui nessa conversa, não ter um engenheiro elétrico que verificou. Igual o senhor falou, qualquer leigo pega e vê que o fio está errado”, dirigiu-se ao presidente do colegiado a síndica Mayra Gomes Almeida, responsável pelo Condomínio Ilha de Veneza, localizado em Vila Velha.

O representante da Kemp Engenharia Alexandre Spadeto disse que a empresa não está se eximindo de suas obrigações. “A Kemp não está fugindo da responsabilidade da instalação, até mesmo porque ela é fabricante do produto apartamento. Então, diante da notícia que a gente recebeu, primeiramente da Decon, e depois veiculado na mídia, a Kemp não deixou de tomar atitude, compareceu nos apartamentos fazendo teste, verificando”, relatou.

Spadeto disse, ainda, que a empresa está periciando todos os empreendimentos para aferir o risco de incêndios e constatar demais  problemas das redes elétricas dos condomínios e deu prazo até o dia 14 de fevereiro para a apresentação desses laudos. “A construtora não quer provar a qualidade do fio. A construtora quer colocar em segurança, de imediato, os condôminos”, afirmou.

Deliberações

O presidente Vandinho Leite propôs que a comissão envie ofício aos proprietários de todos os apartamentos envolvidos, para que encaminhem relatos e denúncias ao colegiado. “Para que a gente embase aqui todo esse processo, inclusive a gente vai encaminhar para a Delegacia do Consumidor”, deliberou. A proposta foi acatada pelos deputados Carlos Von (Avante) e Delegado Danilo Bahiense (sem partido), que participaram da reunião.