Estas eleições que se aproximam terão um forte componente ideológico, e isto pode ser muito salutar para a cultura política da sociedade, que anda muito rasa.
A própria militância de esquerda, esquecida da formação teórica, outrora regular, carece de conhecimento da concepção ideológica da sociedade e da compreensão do movimento da história, do papel das classes, do Estado e da organização institucional e real do poder no Brasil.
As baterias de fakes news e desinformações já começaram a lançar suas rajadas, ainda em treinamento, testando os juízes das regras e os adversários.
As baterias ‘antifakesnews’ também estão sendo montadas, mas causa apreensão, porque, aparentemente, a esquerda está letárgica, quero crer que é só aparência.
Numa guerra, seja de qual tipo for, a cada investida do opoente, uma contraofensiva deve ocorrer de imediato, a demora vai perpetrando o efeito deletério, e, quando vem tardiamente a reposta, o efeito maligno sequelou.
O processo de captação de votos deverá ser concomitante ao trabalho de politização do eleitor.
O Alckmin que é a nova versão da carta aos brasileiros, virou o bode na sala da esquerda, pode ser a peça da estratégia de longo prazo nesse xadrez.
Contudo, a chapa com ele diminuirá o fervor da militância de rua, não a militância dos cargos comissionados, cosmética, burocrática, que desaprendeu a falar com o povo, mas a militância ideológica, esta terá dificuldade para explicar um político extremamente conservador, autoritário e repressor dos movimentos sociais, num governo popular, salvo se suas funções forem a priori bem definidas.
E que sejam expostas e amplamente divulgadas e assumidas publicamente por ele, pois, se é inevitável ter um vice de direita na chapa do Lula, que seja um político cujo partido possa alavancar a vitória no primeiro turno.
Nesta hipótese, a aguerrida militância ideológica não esmorecerá.
Sem essa militância as forças democráticas institucionais sofrem de hipotrofia para construir a democracia popular e resistir aos ventos dos históricos golpismos.
Bolsonaro não deixará de tentar uma aventura violenta, tumultuante e insurgente ao resultado eleitoral, e, neste hipotético cenário, o que fazer? Como prevenir e como reagir se necessário for?
A militância ideológica terá papel fundamental nesse enfrentamento. Portanto, a criação de cinco mil comitês populares de sustentação democrática é pra ontem, e todo mês deve ser aferido, por toda a esquerda, quantos foram constituídos, como está a formação e treinamento de autodefesa
A iniciativa em qualquer contenda é fator impactante na correlação de forças, a letargia e muita narrativa acadêmica nem sempre é o combustível adequado à uma conjuntura como a atual.
As forças democráticas devem sair da defensiva, de ficar só na reação, o princípio da ofensiva significa obter, manter e explorar a iniciativa.
A ofensiva é sinônimo de iniciativa!
A iniciativa estimula e aumenta a segurança, a crença na vitória e a autoestima da militância.
Que a nossa esperança seja traduzida em ações dosadas pela estratégia e audaciosas na tática.
Ousar lutar, ousar vencer, sempre.
Francisco Celso Calmon, coordenador do canal pororoca e ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça