O acordo de cooperação técnica trilateral entre Brasil, Portugal e Moçambique para o projeto Desenvolvimento Sustentável do Café no Parque Nacional Gorongosa/Moçambique em Sistema Agroflorestal Integrado no Contexto da Deflorestação, Alterações Climáticas e Segurança Alimentar foi estendido até 2023. Inicialmente o acordo terminaria em 2022, mas devido à pandemia da covid-19, as ações integradas vão durar mais um ano.
O projeto Gorongosa, assinado em dezembro de 2017, beneficia cerca de 500 famílias de agricultores africanos, com o objetivo de mitigar os efeitos da deflorestação, aumentando o rendimento e a segurança alimentar dos moradores da região, que necessitam de atenção social. A meta é a produção de um café de qualidade, orgânico, cultivado embaixo de espécies nativas do Parque Nacional de Gorongosa, em Moçambique.
Em quatro anos de trabalho integrado, os resultados na produção sustentável de café pelas comunidades tradicionais já são contabilizados. Segundo o coordenador brasileiro do projeto e professor da Ufes, Fábio Partelli (na foto, na primeira fileira, de camisa cinza), quando do início do projeto a produção não passava de 1,5 toneladas de café por ano. Em 2021, a produção foi de 19 toneladas de grãos. Já a previsão para este ano é superar as 36 toneladas “em cultivo arborizado, de forma orgânica e num Parque Nacional”, salienta o professor.
Por enquanto, o café produzido em Moçambique é do tipo arábica, mas o projeto prevê a introdução de conilon/robusta (Coffea canéfora) para este ano, área em que a Ufes se destaca em pesquisas científicas.
No calendário de atividades, também está programada uma nova missão técnica ao país africano, em agosto. Já para o início de 2023, está previsto o lançamento de um guia prático sobre manejo, cujo título provisório é Cultivo do Café sob Sistema Agroflorestal em Moçambique.
Mestres e doutores
Além da capacitação dos agricultores e dos expressivos resultados na lavoura, o professor Partelli destaca a produção científica decorrente dos estudos desenvolvidos em campo. Já são duas teses de doutoramento em curso, seis dissertações de mestrado em fase de conclusão, sete mestres já formados, duas pesquisas de mestrado a iniciar e dois estágios de licenciatura concluídos. A maioria das e dos estudantes é vinculada à Universidade de Lisboa. O professor da Ufes atua como co-orientador de um doutorando e dois mestrandos.
Há, ainda, um moçambiquenho que fez a coleta de amostras nas lavouras de café do Parque Nacional de Gorongosa e cursa mestrado no Programa de Pós-Graduação em Genética e Melhoramento (PGGM) da Ufes, em Alegre, tendo Partelli como orientador. “O estudante está avaliando diversas características biométricas da planta e do fruto e a parte nutricional de folhas e frutos de nove cultivares de café arábica, sendo dois existentes e sete novas que conseguimos implantar”, conta o professor.
A equipe executora do projeto é formada pela Ufes, pelo Instituto Superior de Agronomia (ISA) da Universidade de Lisboa e pelo Parque Nacional da Gorongosa. Já a equipe de coordenação e financiamento é integrada pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), pelo Ministério das Relações Exteriores; pela Administração Nacional de Áreas de Conservação (Anac), pelo Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural de Moçambique; e pelo Camões Instituto da Cooperação e da Língua de Portugal.