Gabinete paralelo do MEC: Ribeiro afirmou que a ordem para favorecer com distribuição de dinheiro público os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, que não possuem cargos comissionados no governo de Jair Bolsonaro, partiu do presidente da República
A gula de pastores evangélicos bolsonaristas por dinheiro público trouxe um novo escândalo para o pastor da Igreja Metodista de Santos (SP), que ocupa o cargo de ministro do governo Bolsonaro para a Educação. Com um áudio vazado e publicado originalmente pelo jornal Folha de São Paulo, tornou-se pública a existência de um gabinete paralelo no Ministério da Educação. A farra se resume na formação de uma fila de pastores para sugar dinheiro público.
Em janeiro deste ano, o mesmo Milton Ribeiro foi formalmente acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter praticado crime de homofobia. Ribeiro, numa entrevista em setembro de 2020 ao jornal conservador O Estado de S.Paulo, ao fazer a ligação de “famílias desestruturadas” a estudantes “adolescentes que optam por ser gays”. Naquela ocasião ele disse “Acho que o adolescente, que muitas vezes, opta por andar no caminho do homossexualismo, tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas”
“Falta atenção do pai, falta atenção da mãe. Vejo menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem de fato, e caminhar por aí. São questões de valores e princípios”, disse o homem que comanda o MEC, utilizando inclusive um termo ofensivo e fora de uso, “homossexualismo”, que remete à época que uma orientação sexual diferente da heteronormatividade era considerada doença”.
Farra na distribuição de dinheiro público para pastores
Agora, o escândalo mais recente é a distribuição de dinheiro público para pastores evangélicos. E com a agravante de que o próprio ministro ter dito em áudio que é sob determinação do presidente Jair Bolsonaro (PL). Agora, ficou evidenciado um crime contra o patrimônio público e diante disso o senador capixaba Fabiano Contarato (PT-ES) protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia-crime contra o ministro de Bolsonaro para a Educação.
Na denúncia, Contarato diz que foi divulgado pela imprensa a existência de um gabinete paralelo para atender pedidos orçamentários de pastores evangélicos no Ministério da Educação. O senador ainda parlamentar também solicita que sejam investigados os demais membros da cúpula do ministério envolvidos no escândalo. Em ano eleitoral pastores engajados com políticos em busca de votos, tem o hábito de negociar os votos dos membros da congregação que administram, em busca de barganha para proveito pessoal. É a obtenção futura de cargos comissionados na administração pública ou o recebimento de dinheiro público.
No Espírito Santo é comum essa barganha em ano eleitoral. Quando os próprios pastores não se filiam a um partido político, para concorrer a uma vaga parlamentar, confiando nos votos de cabresto, garantem apoio de sua comunidade religiosa a um determinado político. Há deputados estaduais, deputados federais e prefeitos da Região Metropolitana de Vitória que conseguem se eleger com esses votos e em troca distribui cargos comissionados.
Ação Civil Pública por improbidade administrativa
No relato da notícia-crime, o senador do PT capixaba destacou que no áudio vazado, o pastor-ministro confessa que, à pedido de Bolsonaro, está direcionando recursos para aliados dos pastores que formam o gabinete paralelo para a construção de igrejas. Contarato ainda o acusa formalmente de praticar advocacia administrativa e prevaricação. Além disso, considera que houve tratamento desigual das religiões, prática vedada a servidores públicos pela própria Constituição. O senador ainda solicita que seja aberta ação civil pública por improbidade administrativa. Leia a seguir a íntegra da notícia-crime protocolada por Contarato no Supremo, em arquivo PDF:
noticia-ccrime-senador-contarato-pdfNa sétima página do documento, o senador Contarato termina com o seguinte pedido aos ministros do STF: “Por todo o exposto, requer o recebimento da presente notícia-crime para que requeira, ao procurador-geral da República, a abertura de inquérito investigativo em face do sr. Ministro da Educação, Milton Ribeiro, por eventual infração penal, além da possível propositura de ação civil pública em razão de ato de improbidade administrativa, pela afronta a princípios administrativos, conforme os fatos narrados,. Requer, também, que o procurador-geral da República realize a oitiva de todos os envolvidos, incluindo o próprio ministro, presidente da República e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura”.
Pastor evangélico exigiu propina em dinheiro e mais um quilo de ouro
Bem diferente dos ensinamentos de Jesus Cristo, que constam da Bíblia que o pastor usa em seu templo e de acordo com o jornal O Estado de São Paulo desta quarta-feira (23), o mesmo pastor Arilton Moura, que está na lista de agraciados em receber dinheiro público distribuído pelo pastor-ministro da Educação, é o que está envolvido na prática de corrupção junto a prefeitos. O prefeito do município de Luiz Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB), disse em entrevista ao jornal paulista que o pastor é conhecido pelos demais gestores municipais de sua região por intermediar distribuição de verbas no governo Bolsonaro. Moura é pastor da Igreja Cristo para Todos.
No áudio, o prefeito maranhense relata que teve encontro com o pastor em um restaurante em Brasília (DF). Na conversa, o pastor evangélico pediu inicialmente R$ 15 mil para protocolar o pedido de liberação de recursos do governo Bolsonaro. Quando a verba estivesse prestes a ser liberada, era para dar mais um quilo de ouro. Braga lembrou que o seu município fica em uma região onde é explorado (clandestinamente) ouro, cuja atividade ilegal o governo Bolsonaro faz vistas grossas.