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Relatório da ONU aponta recorde de emissões de gases de efeito estufa


Comparação entre duas décadas mostra desaceleração de 0,8%, mas montante não foi suficiente para conter disparada;  Ipcc adverte que manter emissões pode levar a aquecimento global médio de 3,2 °C até 2100, mais que o dobro da meta prevista no Acordo de Paris; secretário-geral ressalta que mundo está a passos rápidos para desastre climático


Devido à ganância do ser humano em lucrar sem se importar com as consequências, o planeta entra na fase decisiva, segundo a ONU. Ou se tenta conter as emissões de gases tóxicos, ou se acaba com o mundo | Foto: Ariel Javellan/OMS

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Ipcc), lançou um novo relatório revelando que as emissões globais médias de gases de efeito estufa atingiram os níveis mais altos da história. No entanto, a taxa de crescimento diminuiu para 1,3% na década até 2019, dos 2,1% da década anterior. A sexta edição da publicação, lançada esta segunda-feira  enfatiza que é preciso que as emissões líquidas sejam nulas para conter o aumento da temperatura. Cerca de 24 países baixaram as emissões de CO2 por mais de 10 anos.

Em mensagem apresentada no lançamento do informe, o secretário-geral António Guterres disse que o relatório do Ipcc é uma longa enumeração de promessas climáticas não cumpridas. Para o chefe da ONU, trata-se de um arquivo da vergonha, catalogando promessas vazias que colocam o mundo firmemente no caminho para uma realidade inabitável.

O secretário-geral da ONU, António Guterres,diz em vídeo que a catástrofe prevista não é um exagero | Vídeo: ONU

Cidades cobertas de água e extinção de plantas e animais

Guterres alertou sobre o caminho rápido para o desastre climático, com principais cidades debaixo d’água, ondas de calor sem precedentes, tempestades aterrorizantes, falta de água generalizada e a extinção de 1 milhão de espécies de plantas e animais. O Ipcc adverte que não será possível limitar o aquecimento global a 1,5°C se não houver reduções imediatas e profundas de emissões em todos os setores.

O documento destaca haver evidências crescentes de ação climática, que desde 2010 provocaram reduções sustentadas de até 85% nos custos de energia solar, eólica e baterias.

Desmatamento

Os cientistas argumentam que a série de novas políticas e leis melhorou a eficiência energética, reduziu as taxas de desmatamento e acelerou a implantação de energia renovável. O chefe da ONU ressalta que se deve parar de incendiar o planeta e começar a investir na abundante energia verde ao redor do mundo. Para ele, a prioridade deve ser triplicar a velocidade da mudança para matrizes limpas.

O relatório do Ipcc explica que a média anual de emissões dos gases de efeito estufa na década em análise esteve acima do que em qualquer década anterior, mas a taxa de crescimento foi menor do que entre 2000 e 2009. A previsão é que as emissões globais de gases de efeito estufam atinjam o pico entre 2020 e o mais tardar antes de 2025 em modelos que limitam o aquecimento a 1,5°C ou 2°C. Para ambos os caminhos são recomendadas reduções rápidas e profundas de emissões ao longo das décadas entre 2030 e 2050.

Devido ao efeito destrutivo das grandes empresas e do uso irracional de veículos automotores, o aquecimento global já uma realidade. Nos polos já há calor e as geleiras estão derretendo | Foto: Srikanth Kolari/Unicef

Se nada for feito, a temperatura global subirá em média 3,2ºC

Se não houver um reforço de políticas, além das que foram sendo implementadas até o final de 2020, as emissões devem aumentar além de 2025. A situação causará um aquecimento global médio de 3,2 °C até 2100. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas considera essencial que haja uma ação climática célere e justa na mitigação e adaptação aos impactos das mudanças climáticas em favor do desenvolvimento sustentável. As ações de mudança climática também podem resultar em alguns compromissos.

De acordo com o Ipcc, as compensações das opções em cada realidade podem ser gerenciadas por meio do desenho de políticas. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, da Agenda 2030 pode servir de base para avaliar a ação climática no contexto do desenvolvimento sustentável. O documento defende ainda algumas opções de mitigação viáveis que podem ser aplicadas no curto prazo, podendo ser ajustadas de acordo com setores, regiões, capacidades, velocidade e escala de implementação.

Outra recomendação é que sejam removidas barreiras à viabilidade e fortalecias condições de habilitação para implantar opções de mitigação em escala contra obstáculos como fatores geofísicos, ambientais-ecológicos, tecnológicos, econômicos, e especialmente institucionais e socioculturais. O relatório defende que sejam reforçadas ações de curto prazo além das contribuições nacionalmente determinadas antes da realização da recente Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, COP26.

Esse impulso poderia reduzir ou até evitar desafios de viabilidade de longo prazo do cenário global que limita o aquecimento a 1,5°C. Entre 2010 e 2015, a análise destaca que 43 dos 166 países alcançaram uma dissociação absoluta das emissões de CO2 baseadas no consumo do crescimento econômico, o que significa que esses países experimentaram um crescimento do Produto Interno Bruto, PIB, enquanto suas emissões se estabilizaram ou diminuíram.

Há casos de economias desenvolvidas, como algumas da União Europeia e os Estados Unidos, e algumas em desenvolvimento, como Cuba, que conseguiram uma dissociação absoluta das emissões baseadas no consumo  e crescimento do PIB. O Ipcc ressalta que esse resultado foi alcançado em vários níveis de renda e emissões individual, mas no geral, a redução absoluta nas emissões anuais foi superada pelo crescimento das emissões em outras partes do mundo.

O estudo defende ainda que se as emissões globais de CO2 continuarem altas taxas, o balanço global orçamento de carbono para manter o aquecimento em 1,5°C provavelmente se esgotará antes de 2030.

Para manter o lucro das grandes empresas petrolíferas, os veículos ainda usam a tecnologia de motor a explosão com combustível fóssil implantada no Século XIX. A poluição automotiva destrói a camada de proteção da Terra | Foto: Alexander Popov/ONU

População mundial está respirando ar impróprio, afirma OMS

Relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que exposição ao ar impuro aumenta danos à saúde humana, mesmo em baixos níveis; lançamento do documento antecipa a celebração do Dia Mundial da Saúde, neste 7 de abril; agência afirma que a redução de combustíveis fósseis é chave para reverter cenário.

A OMS revelou que quase toda a população global, ou 99%, respira ar fora da qualidade recomendada pela agência, o que é uma ameaça à saúde mundial. O relatório é lançado às vésperas do Dia Mundial da Saúde, celebrado em 7 de abril, e apresenta pela primeira vez medições terrestres das concentrações médias anuais de dióxido de nitrogênio, um poluente urbano comum.

Combustíveis fósseis

De acordo com a entidade, mais de 6 mil cidades em 117 países estão monitorando a qualidade do ar. Nelas, os residentes respiram níveis elevados de partículas finas e dióxido de nitrogênio, sendo as maiores exposições em países de baixa e média rendas. As descobertas levaram a OMS a destacar a importância de reduzir o uso de combustíveis fósseis e tomar outras medidas tangíveis para baixar os níveis de poluição do ar.

O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, afirmou que as preocupações atuais destacam a importância de acelerar a transição para sistemas de energia mais limpos e saudáveis. Para ele, os altos preços dos combustíveis fósseis, a segurança energética e a urgência de enfrentar os desafios de saúde da poluição do ar e das mudanças climáticas demonstram a urgência de se avançar em direção a um mundo menos dependente de combustíveis fósseis.

O banco de dados de qualidade do ar da OMS é o mais completo disponível. O documento aponta que cerca de 2 mil cidades estão registrando um aumento de quase seis vezes na quantidade de poluentes desde 2011, quando o monitoramento foi iniciado. A OMS alerta que vem crescendo rapidamente a base de evidências para os danos que a poluição do ar causa ao corpo humano e aponta para danos significativos surgidos mesmo com níveis baixos de muitos poluentes do ar.

Impactos cardíacos

Algumas partículas são capazes de penetrar os pulmões e a corrente sanguínea, causando impactos cardíacos, respiratórios e cérebro vasculares.  Já o dióxido de nitrogênio causa doenças respiratórias, especialmente asma, aumentando hospitalizações. A OMS também divulgou recomendações para melhorar a qualidade do ar, como implementar padrões nacionais que estejam de acordo com as últimas Diretrizes de Qualidade do Ar da entidade.

Também faz parte das orientações monitorar a qualidade do ar e identificar fontes de poluição do ar, bem como apoiar a transição para o uso exclusivo de energia limpa doméstica para cozinhar, aquecer e iluminar. As soluções também passam pelos sistemas de transportes e a criação de padrões mais rígidos de emissões e eficiência dos veículos.

Segundo a OMS, também é necessário melhorar a gestão de resíduos industriais e municipais e reduzir a incineração de resíduos agrícolas, incêndios florestais e certas atividades agroflorestais, como a produção de carvão.