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Vereador de Linhares acusado de mandar matar ativista tem mandado de prisão decretado e está foragido

O vereador foragido de Linhares, Waldeir de Freitas Lopes, é o que está no detalhe da foto acima ” Fotos: Divulgação e Facebook

O vereador de Linhares (ES), Waldeir de Freitas Lopes (PTB), de 59 anos, está foragido da Justiça após ter a sua decretação de prisão feita pela 1ª Vara Criminal daquela cidade do Norte capixaba. A decretação de prisão preventiva foi em atendimento ao pedido apresentado pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio da Promotoria de Justiça Criminal de Linhares, a Justiça determinou na última terça-feira (3). O vereador encontra-se foragido e quem o avistar deve comunicar à Polícia, através do telefone 190.

Ele foi denunciado pelo MPES por mandar matar o ativista político Jonas da Silva Soprani. O vereador chegou a ser preso em julho de 2021, mas a prisão foi revogada durante as investigações. Em março deste ano, o Ministério Público ingressou com recurso e requereu novamente a prisão. Nesta última noite de quinta-feira (5), a defesa do vereador foragido disse que ele pretende se entregar e que está “resolvendo pendências pessoais” antes de ir para o presídio.

No recurso, o órgão ministerial sustentou que Waldeir de Freitas coloca em risco a instrução processual e a ordem pública, em razão do cargo de vereador e da gravidade dos fatos – o assassinato de pessoa que fiscalizava o acusado enquanto político no município de Linhares. “A credibilidade da Justiça também está em jogo posto que todos os outros envolvidos na execução da vítima tiveram as suas prisões decretadas, somente o mentor, a pessoa com maior cunho econômico e de melhor status social na sociedade teve a sua prisão preventiva indeferida”, salienta o MPES no documento. Leia a seguir a decisão da Justiça em arquivo PDF:

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Por sua vez, a decisão judicial cita que o vereador já respondeu a outra ação penal como suspeito de ser mandante de homicídio. Assim, a prisão preventiva se impõe para a garantia da ordem pública, diante da extrema gravidade concreta dos delitos supostamente praticados, além da “necessidade de se acautelar o meio social, e em razão do risco concreto de reiteração criminosa”. “Acolho o requerimento do Ministério Público e decreto a prisão preventiva do réu Waldeir de Freitas Lopes, como medida de garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e para assegurar a aplicação da lei penal”, afirma o Juízo da 1º Vara Criminal de Linhares, na decisão.

Também a pedido do Ministério Público, a Justiça retirou o sigilo do caso, tendo em vista que as investigações já se encerraram e não existe, no momento, risco de que a publicidade possa prejudicar a produção das provas e a instrumentalidade do processo.

Waldeir de Freitas foi denunciado pelo MPES por homicídio qualificado por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa da vítima Jonas Soprani da Silva e homicídio qualificado tentado por motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa de outro homem que foi baleado na mesma ocasião. Os demais réus foram denunciados por crimes diversos, como homicídio qualificado, porte e comércio ilegal de arma de fogo e integrar organização criminosa. O Ministério Público pede, na denúncia, que todos sejam submetidos a julgamento perante o Tribunal Popular do Júri e sejam condenados, entre outros pedidos.

Entenda o caso

O crime ocorreu na noite de 23 de junho de 2021, em Linhares. Na ocasião, Jonas da Silva Soprani foi atingido por vários disparos por dois homens, quando estava em um bar, no Bairro Novo Horizonte (BNH). Ele era “ativista político” e atuava fiscalizando políticos da cidade, o que causava incômodos, inclusive ao vereador, conforme foi apurado.

As investigações apontaram que Waldeir de Freitas foi o autor intelectual e mandante do crime. Foi apurado que ele auxiliou em parte da execução, no dia do homicídio, indicando exatamente o local onde a vítima estaria. O crime foi cometido com a participação de dois intermediários, além dos dois executores. Todos foram denunciados pelo MPES.

Durante a apuração do caso, ficaram comprovadas as relações entre o primeiro intermediário, Cosme Damasceno, e o vereador. Cosme trabalhou na campanha eleitoral de Waldeir, foi nomeado por ele para trabalhos políticos e recebia ajuda de custo mensal, sem nenhuma contraprestação. Nos meses que antecederam ao crime, Cosme esteve ao menos oito vezes de forma registrada na Câmara de Linhares, para visitar o vereador.

O carro utilizado pelos executores para cometer o crime pertencia a Cosme, que, inclusive, dirigiu o veículo após o homicídio e fugiu do local com os outros dois denunciados. A Polícia Civil encontrou o carro utilizado no crime em Cariacica, no dia 5 de julho de 2021, 12 dias após o homicídio.

Na ocasião, também foi encontrado um veículo com o brasão da Câmara de Vereadores de Linhares estacionado ao lado do carro de Cosme.  A Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi instada a parar esse veículo da Câmara no retorno para Linhares, e, com isso, verificou que Waldeir de Freitas, um assessor dele e um advogado estavam no automóvel. Leia a seguir a denúncia do MPES, em arquivo PDF:

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O que diz a denúncia do MPES

“Consta do Inquérito Policial que acompanha esta Denúncia, que no dia 23 de junho de 2021, por volta das 18h40min, na Avenida Prefeito Samuel Salustiano, Nº 06, BNH, Linhares/ES, em frente ao açougue São José, no interior do “Bar do Seu Paulo”, os denunciados Waldeir de Freitas Lopes, Cosme Damasceno, Genebaldo Carlos Fonseca  Júnior e José Natalino Alves dos Santos, previamente ajustados, com vontades livres e conscientes, em unidade de ações e em uma completa divisão de tarefas, concorreram para executarem Jonas da Silva Sioprani que foi atingido por diversos disparos de arma de fogo (conforme descrito no Laudo Cadavérico”, narra o MPES.

“Conforme consta da presente investigação, os executores designados para o ato (José Natalino Alves dos Santos e Jhulian Harlei Alves de Souza este último falecido) adentraram ao estabelecimento onde a vítima Jonas se encontrava e dispararam com uma pistola 7,65mm, usando cal. 32 (apreendida) diversas vezes, alvejando não somente aquela, mas também José Roberto Bobbio por erro nos meios de execução, que teve ferimento no pé e foi atendido prontamente no Hospital Geral de Linhares. De acordo com várias informações que constam da presente investigação, bem como é fato notório, a vítima fatal era “ativista político”; atuava “fiscalizando” diversos políticos nesta Cidade, tendo sua morte causado considerável perturbação social”, é o que diz a inicial da denúncia.

Acusado de ser o mandante gastou só R$ 907,50 na campanha

De acordo com os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o vereador acusado de ser o mandante do assassinato declarou oficialmente ter gasto, com a campanha que o elegeu, apenas R$ 907,50. E o TSE aceitou a informação e deu como aprovada a prestação de contas eleitoral. Esse foi o valor declarado como receita, sendo ele o único doador da sua própria campanha.

E gastou R$ 555,00 desse valor com Miryan C. R. da Silva Viguini, pagando R$ 340,00 para a confecção de “santinhos” e mais R$ 215,00 com adesivos conhecidos como “preguinhas”,. Também pagou R$ 232,50 para a empresa Marques Produções Ltda,, para fazer adesivos, através de três pagamentos: R$ 18,00, R$ 120,00 e R$ 94,50. E o restante, no valor de R$ 120,00,, pagou a Ingral Indústria Gráfica Ltda para fazer material impresso denominado “colinha”.

Na declaração ao TSE, o vereador Waldeir se declarou que exerce a função de servidor público municipal, é casado e tem o ensino médio completo. Ele disse para o TSE que não possui nenhum imóvel em seu nome e que tem apenas um automóvel Palio 2009, no valor de R$ 22 mil. Ainda de acordo com o TSe essa foi a primeira eleição que conseguiu se eleger, já que não foi eleito pelo PPS na eleição de 2012, ficou como suplente do PTY em 2016.

Jonas Soprani foi assassinado na noite de 23 de junho de 2021, em Linhares | Foto: Redes sociais

A vítima

Jonas da Silva Soprani era muito conhecido em Linhares, principalmente pela divulgação de vídeos nas redes sociais onde promovia uma fiscalização trabalho da prefeitura e da Câmara Municipal. Em 2020, foi candidato a vereador pelo PSB, teve 57 votos e não foi eleito. Na ocasião do assassinato chamou atenção da imprensa o fato de os líderes estaduais do partido não terem se manifestado sobre o caso.

Na época, a irmã da vítima, Gleiciane Soprani, relatou à imprensa que a família estava chocada com o assassinato. Segundo ela, a forma como ele falava era uma preocupação para os familiares. “Foi um choque. Não esperávamos que seria dessa forma, sentimos muito. Ficamos cientes pelos sites, redes sociais, parentes. Nós estamos muito sentidos, sofrendo muito e queremos que o culpado não fique impune, que a justiça seja feita”, disse a irmã de Soprani.