A obra iniciada em 2010 na gestão do ex-governador Paulo Hartung e que já consumiu mais de R$ 150 milhões, para abrigar teatro e museu. A elevado gasto de dinheiro público é questionado por segmentos da sociedade, já que após a conclusão da obra, as pessoas pobres pouco vão usufruir de um projeto tido como elitista
Entre os dias 17 e 19 de maio, a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) promovem um simpósio para discutir o uso do equipamento cultural Cais das Artes, localizado na Enseada do Suá, em Vitória (ES). O encontro, que será presencial e com transmissão ao vivo, busca debater temas pertinentes às atividades de museu, teatro e gestão do espaço. Dentro dos três dias de programação, o ‘Cais+Artes’ contará com uma conferência de abertura, visitas mediadas à obra do Cais das Artes e três mesas temáticas, que receberão palestras com convidados de referência, para promover e impulsionar o debate sobre o local. As atividades serão todas gratuitas, mediante inscrição clicando neste link.
De acordo com a Secult, a proposta foi idealizada “diante das sucessivas interrupções na construção deste importante equipamento cultural, o Cais das Artes”. Em busca de evidenciar os processos que permeiam este equipamento cultural desde a sua concepção do projeto até o futuro modelo de gestão, o simpósio propõe a exposição crítica de suas premissas, problemas e potencialidades, articuladas a um diálogo aberto com a sociedade. O encontro será realizado no Cine Metropólis, no campus da Ufes no Bairro Goiabeiras.
De acordo com os organizadores do evento, há ainda o interesse, “para além do espaço construído e de sua institucionalidade, indagar sobre as funções, ocupações, públicos, acervos e programações, abrindo este complexo cultural aos desejos e demandas do território ao seu redor, tornando-o vivo e poroso, tanto à participação da população, quanto às urgências do presente”. A formação de mesas pretende promover debates e conferências objetivando atingir três potentes vertentes do complexo cultural Cais: o museu, o teatro e a gestão de equipamentos culturais. A realização do evento é feita pela empresa Even3 (L3 Soluções em Tecnologia Ltda), com sede em Recife (PE).
Sobre a obra
O Cais das Artes começou a ser construído em 2010 e será a primeira obra do arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha, morto em 23 de maio do ano passado, em sua cidade natal. Com 150 metros de comprimento e 30 de altura, comporta um teatro de ópera e um museu. Segundo o projeto, o teatro terá capacidade para 1.300 pessoas, um palco de aproximadamente 600 metros quadrados e um vão livre com mais de 25 metros de altura até o teto, o que vai permitir a utilização de diversos cenários em uma mesma apresentação.
Já o museu terá grandes salões com diversas alturas livres e diferentes tamanhos, totalizando em torno de 3 mil metros quadrados de área expositiva climatizada. Completam ainda o projeto do museu um auditório com capacidade de 225 lugares, uma biblioteca e um café.
Pedido de providências feito pela Assembleia
NO último dia 27 de abril, durante discurso no plenário da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, o deputado estadual Sergio Majeski (PSB) cobrou providências ao governo do Estado em relação às obras inacabadas do Cais das Artes. Ele lamentou o fato de o empreendimento estar com a construção paralisada há sete anos, já tendo sido gastos mais de R$ 150 milhões, num processo que já registra várias interrupções desde o início em 2010, na gestão do ex-governador Paulo Hartung.
“A obra foi iniciada no governo de Paulo Hartung, mas teve continuação na gestão anterior de Renato Casagrande (governador), e agora Casagrande tem de decidir o que vai fazer com aquilo”, cobrou. O deputado afirmou que, devido ao “equívoco do projeto”, o Cais das Artes tem sido chamado por alguns críticos de “caos das artes”, disse Majeski. Ele ainda opinou que “talvez seja melhor entregar o empreendimento para a iniciativa privada, privatizando o espaço, para que seja dado outro destino ao empreendimento”.
O parlamentar considerou incoerente o fato de os governos de Hartung e Casagrande terem investido recursos públicos numa obra de grande porte para abrigar atividades de arte e cultura, já que praticamente não há fomento ao setor pelo estado. O mais sensato, conforme disse, seria primeiro os governos incentivarem em projetos de teatro, música, dança, cinema, literatura, formando assim um público consumidor de cultura, deixando para depois a construção de um “megaespaço” para receber o público.
Confira: a programação do “Cais+Artes”:
_Mesa 1: Cais+ [TEATRO]
O debate vai promover olhares, questões e cenários a respeito do impacto do teatro no campo da produção cultural local, nacional e global, sua escala e vocações institucionais.
_Mesa 2: Cais+ [MUSEU]
Neste encontro, vamos pensar em olhares, questões e cenários a respeito do impacto do museu no campo das artes local, nacional e global, sua inserção nas redes museais, suas vocações institucionais e as potencialidades deste espaço.
_Mesa 3: Cais+ [GESTÃO] O terceiro encontro busca olhar para questões e cenários a respeito do impacto no campo local, nacional e global, a viabilização da conclusão do projeto, a relação cultural e orçamentária com o estado e a cidade.