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Governo Bolsonaro é criticado em Paris por embaixador participar de festa de gala

“Evidentemente era uma festa de brancos, da elite e da aristocracia. Em resumo, foi uma festa de brancos e nobres celebrando o bicentenário da Independência quatro meses antes, no dia 13 de maio. Eu tive a oportunidade de entregar em mãos a carta com estes questionamentos”

historiadora Marcia Camargos, do Alerta França Brasil
Convite para a realização de um jantar de gala em Paris, realizado no Dia da Abolição da Escravatura, apenas com pessoas brancas e ricas ao custo de € 210 (cerca de R$ 1.110) por pessoa | Foto: Reprodução/Convite

Na noite desta última sexta-feira (13), dia em que foi assinada a lei abolindo a escravidão no Brasil, o embaixador nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para representar o país na França, Luís Fernando Serra, participou de uma noite de gala em Paris e que gerou protestos do Parti de Gauche (Partido de Esquerda francês). Na festa, realizada no salão mais elegante do Hotel InterContinental de Paris, e onde só haviam pessoas brancas e ricas, o acesso aos convidados foi feito mediamente o pagamento de € 210 (cerca de R$ 1.110) por pessoa.

De acordo com noticiário da Rádio France Internaciona (RFI), o convite informava: “Noite de Gala Franco-Brasileira por Ocasião do Bicentenário da Independência do Brasil, sob o patrocínio de Luís Fernando Serra, embaixador do Brasil na França…”. Em seguida, tinha ainda como anfitriões nobres franceses, que integram as associações Liens Hors Frontières (Laços sem Fronteiras) e Le Lys de France (Lírio da França). O lírio simboliza a monarquia francesa.

O convite para a noite de gala para comemorar com quatro meses de antecedência a independência do Brasil

Carta ao embaixador

Integrantes do grupo Alerta França Brasil e do Parti de Gauche ficaram na porta do hotel até dois participantes do protesto terem conseguido entrar no salão da Noite de Gala e entregar uma carta ao embaixador de Bolsonaro na França. Os que participavam do protesto estavam questionando ao embaixador sobre o motivo de realizar uma suntuosa festa para comemorar o bicentenário da independência, que somente vai ocorrer daqui a quatro meses, em 7 de setembro de 1822) e o que motivava uma festa neste sentido sem a presença de nenhum afrodescendente.

Entre as duas pessoas que tiveram acesso até o embaixador brasileiro estava a responsável por questões da América Latina para o Parti de Gauche, Florence Poznansk. Segundo ela, Serra apenas disse: “A senhora venha da próxima vez com um afrodescendente. Venha à Embaixada e vamos conversar sobre isso, mas venha com um afrodescendente. Não sei se a senhora sabe, mas o meu bisavô foi abolicionista”. Para na RFI, apesar der o convite dizer que o embaixador era o anfitrião, ele disse: “Eu sou convidado. Eu sou o único que não paga o jantar aqui. Não é minha iniciativa  — é por ocasião do bicentenário — e não tem dinheiro público envolvido aqui”.

Contradições com o desemprego, fome e miséria no governo Bolsonaro

Florence conseguiu entrar por alguns minutos na festa e teve acesso ao embaixador, junto com a historiadora Marcia Camargos, do Alerta França Brasil. Elas entregaram ao embaixador um envelope com uma carta aberta que questionava a iniciativa e mostrava as contradições deste jantar de mais de mil reais com “o desemprego, a fome e a miséria que grassam sob a gestão de seu chefe”.

“Minha presença aqui é pela indignação de como se reproduzem as opressões a partir da ignorância e do desprezo. Nós podemos até acreditar que a escolha do dia 13 de maio foi por acaso, pois trata-se de uma festa comercial, mas, se for isso, é lamentável. Inclusive porque o embaixador, que representa a República brasileira, não pode desconhecer a importância desta data”, disse Florence aos jornalistas da RFI. “Além disso, convidar pessoas brancas unicamente e depois dizer que infelizmente os negros não puderam pagar porque o valor é muito alto e só ele poderia ser convidado é um desprezo muito grande com a maneira como se deve pensar a cidadania. E a gente vê muito bem neste governo Bolsonaro como esse racismo estrutural se reproduz através dessas ações. Nosso papel aqui é levantar essa voz. Temos que continuar porque estamos às vésperas de uma eleição super importante no Brasil e temos que elevar a voz dessas pessoas que foram oprimidas durante os quatro anos de governo Bolsonaro”, completou a dirigente do partido político francês.