O ano eleitoral, quando os políticos procuram mostrar uma face de bondade que não usam após serem eleitos, não impediu de os deputados estaduais capixabas aprovassem o projeto de lei de autoria do governador e secretário nacional do PSB, Renato Casagrande, que permite privatizar o Banestes. A medida desagradou os bancários, que através do Sindicato da categoria no Espírito Santo, vem lutando contra a privatização do bando público e da Banestes Seguros. Diante disso fizeram um proteste neste último final de semana.
A manifestação ocorreu no último sábado (21) no Sesc Praia Formosa, em Santa Cruz, em Aracruz, onde o Banestes realizava o “Encontro de Gigantes”, evento promovido anualmente pela direção do Banestes, aberto a todos os funcionários do banco, mas que não foi realizado presencialmente nos últimos dois anos devido à pandemia do Covid. A temperatura de 17 ºC não impediu aos sindicalistas de ficarem do lado externo com faixas de protestos. Os bancários chegavam de carros ou de ônibus dispostos a denunciar a privatização.
Compromisso não cumprido
Uma das faixas (acima) alertava: “Casagrande mente ao povo capixaba e rasga o termo de compromisso em defesa do Banestes e de suas subsidiárias”. Um folheto entregue aos participantes explicava por que o governador do PSB havia mentido ao negar a privatização. Jonas Freire, diretor do Sindicato dos Bancários/ES, entidade que coordena o Comitê em Defesa do Banestes Público e Estadual, avaliou que foi muito boa a recepção dos bancários e das bancárias ao ato.
“Os diretores e as diretoras também relataram um clima positivo no rápido bate-papo que fizemos no ato de entrega do panfleto. Os bancários se mostraram interessados em entender as críticas ao governador e as ameaças de privatização ao banco”, destaca Jonas. O texto do panfleto rememora que na ocasião da disputa eleitoral de 2018, o então candidato Renato Casagrande assinou um termo se comprometendo a não privatizar o Banestes e suas subsidiárias.
Aprovação na Assembleia sem debate
“Em agosto do ano passado o governo deu início ao processo de venda dos ativos da Banestes Seguros. Na última segunda-feira, 16, dando sequência ao processo de desmonte do banco, a Assembleia Legislativa aprovou, sem nenhum debate, com apenas cinco votos contrários, o PL 77/2022, que permite ao Conselho de Administração do Banestes constituir subsidiárias, empresas controladas ou definir participação em sociedades”, narra o Sindibancários em comunicado.
“O papel do Comitê, como proponente do termo de compromisso que está sendo rasgado pelo governador, é alertar a sociedade capixaba e os banestianos sobre o cheque em branco que a Assembleia acaba de dar para o Casagrande. Com a aprovação do PL, não demorará para a direção do Banestes impor um grande projeto reestruturação, com desativação de setores e fechamento de mais postos de trabalho e agências. Não podemos mais confiar na palavra do governador. Casagrande quebra as suas promessas”, assinala o dirigente.
“Privatização disfarçada”
Segundo Jonas, embora Casagrande negue que a intenção do governo é privatizar o banco e suas subsidiárias, o dirigente adverte que o PL abre caminho para uma privatização disfarçada. “Tem cara, jeito e cheiro de privatização, mas Casagrande prefere chamar por outros nomes: parceria, sociedade ou algo do gênero”.
O dirigente lembra que hoje há outras maneiras de se transferir os ativos de uma empresa pública para uma privada sem que necessariamente essa operação leve o selo de privatização no sentido clássico do termo. “É exatamente o que ocorre com a Caixa hoje, com o fatiamento dos ativos mais valiosos da instituição”, sublinha.
Jonas acrescenta que o mesmo processo que se inicia no Banestes vem se repetindo com os outros bancos públicos estaduais. Ele cita os casos do Banrisul, BRB (Banco de Brasília), Banese (Bando do Estado de Sergipe) e Banpará. “As grandes instituições privadas, caso do banco Genial – que conduz as negociações dos ativos da seguradora -, partiram para cima dos últimos cinco bancos públicos estaduais que restam no país.
“Interessa a essas empresas as raízes de credibilidade e confiança que esses bancos públicos conquistaram com a população desses estados ao longo de décadas de prestação de serviços. Sem contar a estrutura que vai no pacote. Por exemplo, aqui, quem levar a Banestes Seguros leva junto o balcão do banco, único presente nos 78 municípios do Espírito Santo, com mais de dois mil funcionários e funcionárias. Quem não quer uma estrutura dessas?”, questiona.
Presidente do banco nega privatização
Enquanto o Comitê concluía a ação de mobilização do lado de fora do evento, o presidente do Banestes, Amarildo Casagrande, passava suas primeiras mensagens aos banestianos na abertura do “Encontro de Gigantes”. O presidente ratificou o discurso do governador e reafirmou que não há planos para privatizar o Banestes e suas subsidiárias. Silvio Grillo, diretor de Relação com Investidores e Finanças, também desdenhou da ameaça de privatização ao afirmar que o governo detém hoje mais de 92% das ações banco e mesmo que vendesse uma parte e continuasse com 51%, ainda seria o controlador majoritário do Banestes.
Grillo omitiu, porém, que o modelo de negócio desenhado para a seguradora, conforme contou aos membros do Comitê o próprio Amarildo, prevê que a nova empresa de seguros criada seja majoritariamente controlada pelo parceiro privado. O Comitê, independentemente do PL ter sido aprovado, vai continuar cobrando que Casagrande cumpra o compromisso firmado com o povo capixaba de manter o Banestes público e estadual. Há mais de três décadas, o Comitê vem enfrentando e vencendo as investidas de diferentes governadores que tentaram vender o Banestes. Até agora resistimos. A luta continua. Vamos fazer tudo para impedir que Casagrande tire o Banestes dos capixabas”, avisa Jonas.