Para manter a lucratividade alta, os fabricantes intensificaram nos últimos meses a venda de uma mistura contendo soro de leite misturado com aditivos químicos, açúcares e gorduras presente, entre outros produtos, que fazem mal à saúde
Em entrevista à BBC News nesta semana, o professor Rafael Claro, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apontou para o empobrecimento nutricional dos lácteos no Brasil governador pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). A gravidade acentuou nos últimos meses. O símbolo foi a brutal queda na qualidade do Leite Moça, da multinacional Nestlé, uma das marcas mais conhecidas e utilizadas pelos brasileiros. As gondolas dos supermercados, junto ao produto tradicional, cuja embalagem é azul, foram inundadas por uma nova versão, na cor marrom, de baixa qualidade.
Na parte inferior do rótulo, a caixa marrom diz que contém uma “mistura láctea condensada de leite, soro de leite e amido”. Segundo o entrevistado da BBC, “a estratégia é trocar um alimento in natura por ingredientes mais baratos e com baixa densidade de nutrientes. Ou seja: a pessoa compra um produto que parece leite, mas não é”, resumiu. Ele alerta que esses produtos de baixa qualidade não são ilegais, porque o governo Bolsonaro deu amparo legal através do seu Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ou pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Além do Leite Moça, o consumidor encontra produtos “falsificados legalmente” que substituem parte do leite por outros ingredientes, como o soro de leite, amido, açúcar, gordura vegetal e aditivos químicos, como conservantes e aromatizantes. Na maioria dos cremes de leite encontrados nos varejistas é encontrado um produto deniminado “mistura de creme de leite”. A oferta de produtos derivados do leite de baixa qualidade inclui o queijo ralado, que passou a se chamar de “mistura alimentícia com queijo ralado”. E o leite tradicional perdeu espaço nas prateleiras dos supermercados para a “bebida láctea “.
Para enganar o consumidor os fabricantes comercializam com embalagens muito similar à original, trazem no rótulo elementos que remetem ao leite — como vacas, pastos, tonéis e líquidos brancos — e são colocados nas mesmas prateleiras que os produtos tradicionais. Os “produtos falsificados” não são separados distantes dos produtos originais, feitos a partir do leite.
Também ouvida pela BBC, a pesquisadora da Embrapa Gado de Leite, de Juiz de Fora (MG), Kennya Beatriz Siqueira, encontrou uma justificativa para a queda na qualidade dos produtos lácteos. Foi a crise econômica do governo Bolsonaro, com a inflação alta e a escassez de matéria-prima no mercado que levou os fabricantes a usar as misturas, para manter a lucratividade. “Nos últimos dois anos, tivemos um aumento de 62% no custo de produção do leite”, lembra.
O alto custo da produção de toda a cadeia bovina, incluindo os preços abusivos da ração, energia elétrica, que mantém o funcionamento dos currais e do combustível utilizado para o transporte do leite, promoveram um alta que prejudicou os fabricantes. Para completar, ela diz que “por conta disso, muitos produtores se desfizeram de parte do rebanho e venderam as vacas menos produtivas para os abatedouros.” Com isso houve uma redução significativa na oferta do leite nas fazendas do Brasil. “Para completar, o meio do ano é o período de entressafra do leite, já que as pastagens não estão boas por causa do clima seco e da temperatura fria”, complementou.
Nutricionistas falam sobre os riscos à saúde das misturas lácteas
De acordo com nutricionistas, quando se oferece aos filhos essas bebidas, não está sendo oferecido apenas leite, mas uma gama de aditivos químicos que atuam na conservação e melhora do sabor, corantes que atuam melhorando a aparência, essências e aromatizantes artificiais, entre outros conservadores. Todos esses químicos podem desencadear diversas doenças e reações alérgicas, principalmente em crianças.
É lembrado que nessas misturas lácteas há grande quantidade açúcares e gorduras presente nessas bebidas que contribuem para o aparecimento de algumas doenças crônicas não transmissíveis como a obesidade. O leite em embalagens longas vidas também podem oferecer os mesmos riscos de contaminação que a bebida láctea, além de conter conservantes da mesma maneira. A recomendação é oferecer leite orgânico a seu filho, porque esse alimento ainda tem um controle rígido de aditivos diminuindo a exposição à químicos.