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Professor da Ufes e ambientalista conseguem declaração governamental de interesse público e social para arquivos do ecologista Ruschi


“Os jornais do Espírito Santo, comprometidos com o bandido (Élcio Álvares, ex-governador que quis destruir a reserva ecológica para beneficiar amigos empresários), se omitiram. Felizmente, o barulho que fizemos impediu a destruição. Agora, estou sabendo que ele quer ser governador de novo. Pode ter certeza de que já tem um adversário disposto: eu”.

Augusto Ruschi, ao jornal Folha de São Paulo, na década de 1970

Augusto Ruschi no seu escritório observando fotografias de orquídeas | Imagem: Arquivo/Museu Melo Leitão

Por iniciativa do professor do Departamento de Arquivologia da Ufes Taiguara Aldabalde e do ambientalista André Ruschi, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), declarou, através de documento oficial publicado no Diário Oficiala da União, que o acervo documental arquivístico do ecologista e naturalista capixaba Augusto Ruschi é de interesse público e sócia. Em nota, a Ufes informou que o primeiro acervo do estado a receber essa nomeação.

O professor e o e o ambientalista relataram na solicitação, que foi formulada ao Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), em 2011, que fosse feito o reconhecimento do acervo. Na alegação disseram que a documentação é de máxima relevância para a história da ciência e para a conscientização da sociedade brasileira, por trazer estudos que destacam a importância da preservação da flora e fauna do país.

A Portaria de reconhecimento de nº 119 foi publicada no Diário Oficial da União no último dia 4 de julho. Define-se com interesse público e social aquilo que a sociedade quer ver preservado, devido aos seus valores históricos e culturais.

A iniciativa foi do professor do Departamento de Arquivologia da Ufes Taiguara Aldabalde e do ambientalista André Ruschi, que solicitaram ao Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), em 2011, o reconhecimento do acervo do ambientalista capixaba como de interesse público e social. André Ruschi, filho de Augusto Ruschi, faleceu em 2016.

O Conarq é um órgão vinculado ao Arquivo Nacional do MJSP, que tem a finalidade de definir a política nacional de arquivos públicos e privados, bem como exercer orientação normativa visando à gestão documental e à proteção especial aos documentos de arquivo.

Portaria governamental que garante a preservação do acervo por ser de “máxima relevância para a história e ciência” | Imagem/DOU

Reconhecimento

O professor destacou a importância do reconhecimento do acervo: “Foi uma vitória para a ciência e para o nosso estado, pois se trata de acervo de um cientista capixaba reconhecido mundialmente. Augusto Ruschi foi o primeiro cientista a se preocupar com as mudanças climáticas, merece todo o nosso crédito e respeito. Agora, temos que trabalhar para que outros arquivos sejam reconhecidos, principalmente em um país com poucos arquivos e bibliotecas públicas. Vale lembrar que os arquivos e as bibliotecas são registros da nossa história e da nossa cultura, que resgatam e preservam a memória de uma sociedade”.

Atualmente, o acervo de Augusto Ruschi se encontra sob a guarda e propriedade da empresa André Ruschi ME. Boa parte do seu acervo está disponível para consulta na Estação Biologia Marinha Augusto Ruschi (Ebmar), localizada no município de Aracruz. Os responsáveis pelo acervo são os arquivistas formados pela Ufes Rafaela Dalvi e Júlio Marques.

O acervo é composto por documentos produzidos durante toda a vida do cientista. Segundo Aldabalde, são mais de 5 mil metros de documentos, como manuscritos, trabalhos científicos, troca de mensagens entre cientistas, livros, revistas, cartas, fotos, materiais iconográficos, fotografias, slides, negativos, ilustrações, CDs, medalhas, premiações, moedas e objetos pessoais, totalizando mais de 50 mil materiais.

Legado

Nascido no município de Santa Teresa (ES), em 12 de dezembro de 1915, Augusto Ruschi foi autor de mais de 20 livros e 450 trabalhos científicos, além de obras de grande importância sobre aves do Brasil, beija-flores, orquídeas, morcegos, macacos e trabalhos com propostas de solução para problemas ambientais de diversas regiões do país.

Foi agrônomo, ecologista, naturalista, cientista com projeção nacional e internacional, um dos primeiros a discutir os efeitos danosos dos agrotóxicos no meio ambiente. Foi professor e pesquisador do Museu Nacional, além de ter participado da implantação de diversas reservas ecológicas, como a do Parque Nacional do Caparaó, e de instituições científicas como o Museu de Biologia Professor Mello Leitão (MBML) e a Ebmar. Ruschi faleceu em 3 de junho de 1986, aos 70 anos.

Cédula de 500 Cruzados Novos homenageou Augusto_Ruschi_| Imagem: Museu de Valores do Banco Central do Brasil

Briga com governador e homenagem em cédula nacional

Em 1989, Augusto Ruschi foi homenageado com a foto sua acompanhada de imagens de orquídeas e colibri na nota de 500 Cruzados Novos (NCz$), a moeda brasileira que vigorou entre 16 de janeiro de 1989 a 15 de março de 1990. O cruzado novo foi consequência da reforma monetária promovida pelo Plano Verão, instituído pelo ministro Maílson da Nóbrega, em 1989. O cruzado novo correspondia a mil cruzados, ou seja, houve um corte de três zeros na data de 16 de janeiro de 1989. O código ISO 4217 desta célula era BRN. Ruschi morreu em 3 de junho de 1986, aos 70 anos.

Na década de 1970 Ruschi teve uma briga com o então governador biônico (pessoa sem representatividade popular que era nomeada pela ditadura militar para exercer o comando de um Estado), Élcio Álvares (15 de março de 1975 a 15 de março de 1979), que para beneficiar interesses privados quis destruir parte da Estação Biológica Santa Lúcia para beneficiar amigos que tinham interesse em instalar no local uma fábrica de palmitos. Houve até ameaça de morte. Élcio Álvares morreu por morte natural, aos 84 anos, em 9 de dezembro de 2016.

Naquela ocasião, um jornalista da Folha de São Paulo fez uma entrevista ping-pong, com perguntas e respostas a Ruschi. E a briga com o ex-governador do Espírito Santo, Élcio Álvares, como foi?, perguntou a Folha. Ele respondeu: “Aquele safado quis destruir a estação biológica de Santa Lúcia para favorecer amigos seus, industriais. Queriam plantar palmito lá. Chegou a tentar me tirar da direção da reserva para facilitar sua intenção. Falei que mataria este homem se fizesse este crime e acho que mataria mesmo. Lembro que, na época, o jornal ‘Movimento’ foi o primeiro a ficar do meu lado. Os jornais do Espírito Santo, comprometidos com o bandido, se omitiram. Felizmente, o barulho que fizemos impediu a destruição. Agora, estou sabendo que ele quer ser governador de novo. Pode ter certeza de que já tem um adversário disposto: eu.