Medida beneficia colegas de motociatas e consumidores de suplementos alimentares. “O governante tem que ser amigo de 215 milhões de brasileiros”, ensina Lula
Com mais de 33 milhões de cidadãos brasileiros passando fome no seu governo e com a classe rica na fila de espera para comprar um automóvel de luxo de R$ 3,5 milhões ou a compra desenfreada de imóveis caros, o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) não pensou duas vezes em beneficiar o topo da pirâmide social. Na última semana, Bolsonaro anunciou através do Comitê-Executivo de Gestão (Gecex) da Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Ministério da Economia a redução definitiva de 10% da tarifa externa comum (TEC) do Mercosul, que ele já havia reduzido em novembro de 2021.
Em seguida, para bajular os ricos, em uma live em suas redes sociais, disse que a sua medida era uma ajuda aos que participam de motociatas e que a redução vai proporcionar uma “ajuda pessoal que malha”, segundo a definição para a redução na alíquota das importações do Mercosul. Segundo a Agência Brasil, as tarifas de importação de airbags para proteção de motociclistas, proteínas do soro do leite, complementos alimentares; coletes e jaquetas, impermeáveis, em tecido de poliamida de alta tenacidade entre sete itens beneficiados, que variavam de 11,2% a 35%, serão zeradas ou reduzidas a 4% a partir de 1º de setembro.
Uma boa parte das motocicletas que participam das motociatas de Bolsonaro são da elite, que custam mais caro do que uma habitação popular do antigo programa Minha Casa, Minha Vida, cujo valor do imóvel está entre R$ 180 mil e R$ 200 mil.. No início deste ano, uma motocicleta Harley-Davidson tinha o preço de tabela entre R$ 104.100 e R$ 246.700. Este último é o valor do modelo CVO Road Glide Limited, da Harley-Davidson.
Reduziu alíquota de supérfluos
As alíquotas de lactalbumina, incluindo concentrados de proteínas de soro de leite. O subproduto da produção de queijos passou a ser oferecido nos supermercados após o estouro do preço do leite, mas não tem as qualidades do leite convencional porque perde gorduras. Como o leite tem vitaminas absorvidas apenas na presença de gordura, o consumo dessa sobra pode causar deficiências nutricionais.
Imediatamente após a live, Bolsonaro começou a ser cobrado sobre reduções em alimentos que a maioria da população efetivamente consome. E tentou se explicar no Twitter. “Por que não anuncia redução de imposto sobre alimentos? Por que (sic) já anunciamos há meses! Os impostos sobre itens da cesta básica têm sido reduzidos e zerados continuamente desde 2020 para combater os efeitos do ‘fica em casa que a economia vê depois’ e da guerra”, afirmou, mais uma vez distorcendo a realidade.
Lula fala sobre a arrogância de Bolsonaro em MG
No comício da última quinta-feira (18), em Belo Horizonte, Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar Bolsonaro, mesmo sem citar seu nome. “O governante não tem que ser arrogante, pedante, tem que ser um companheiro, um amigo de 215 milhões de brasileiros”, afirmou o líder nas pesquisas para ocupar o Planalto em 2023.
A crise econômica que jogou o Brasil em um cenário de fome, insegurança, carestia e inflação nos anos de Bolsonaro pode ser combatida, argumenta Lula. “O Brasil de hoje está pior do que o Brasil de 2003, quando eu tomei posse. Quando tomei posse, em 2003, a inflação estava em 12%. Nós puxamos para 4,5%. Vocês estão lembrados? O Brasil tinha uma dívida de 65%, reduzimos para 39%. Pagamos a dívida com o FMI e emprestamos 15 bilhões. Hoje temos reservas juntadas nos governos do PT”, finalizou.
Redução de taxa de importação não baixou preço de alimentos
A redução da taxa de importação anunciada em maio para diversos produtos, inclusive alimentos, na prática não ajudou o consumidor, que continua pagando caro. Os maiores beneficiados foram o importador e o comércio, que aumentaram as margens de lucro, denunciou na época o diretor-técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Fausto Augusto Junior.
Para Fausto, o desgoverno Bolsonaro está perdido em relação ao combate à inflação e “atira para todos os lados”. Segundo ele, enquanto não for alterada a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobrás, que impacta nos aumentos do diesel, utilizado no transporte e na agricultura, a inflação vai continuar em alta.
A variação negativa (-0,68%) do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em julho, por exemplo, foi um efeito temporário do baixo preço da gasolina, devido à queda de impostos. “Mantida a política da Petrobrás, reajustes da gasolina virão quando houver alta do preço, consumindo a queda oriunda do imposto”, pondera Bruno Moretti, assessor da Bancada do PT no Senado. “Além disso, o diesel segue nas alturas.”
“Para 2023 já está contratado o reajuste com a retomada dos tributos federais. Só a queda do ICMS é permanente, prejudicando gastos de Educação e Saúde na ponta”, acrescentou o economista, lembrando que os preços dos alimentos seguem em alta, prejudicando principalmente as famílias mais pobres.
Desmonte de políticas públicas por Bolsonaro fez carestia e fome avançarem
“O governo desmontou todas as estruturas de silagem, de estoque reguladores de grãos, de arroz, feijão e não construiu nenhuma alternativa para a agricultura familiar, responsável por 70% do que o brasileiro põe à mesa. E a carne, somos o maior exportador do mundo”, afirma o diretor-técnico do Dieese.
A carestia dos alimentos tem feito brasileiros e brasileiras deixarem até produtos da cesta básica nos carrinhos de supermercados ao chegarem na boca do caixa. Leite, óleo e biscoito estão entre os dez que registraram as maiores quedas nas vendas no varejo de autosserviço no primeiro semestre deste ano, conforme levantamento da NielsenIQ. Leite, café, óleo, carnes e biscoitos também são os que mais registram altas de preços nos últimos meses. Só o leite acumula alta de 57% este ano.
Com a demanda em queda livre por conta da inflação, as redes de supermercados têm trabalhado com estoques cada vez menores. O índice geral de rupturas (produtos que faltam nas prateleiras) calculado pela Neogrid, empresa especializada em cadeias de suprimentos, aponta que os supermercados estão com o menor estoque em dois anos.