O cálculo é do IBGE, divulgado nesta semana, e se refere às demissões que ocorreram no comércio e no setor de serviços em 2020
No primeiro ano da pandemia, o comércio brasileiro perdeu 4,0% de sua ocupação, 7,4% das empresas e 7,0% das lojas. Dos 404,1 mil trabalhadores que saíram do setor, 90,4% (ou 365,4 mil deles) estavam empregados no varejo. Nesse segmento, apenas duas atividades, consideradas serviços essenciais durante a crise sanitária, tiveram incremento de pessoal: a de hipermercados e supermercados (1,8 mil pessoas) e a de produtos farmacêuticos, perfumaria, cosméticos e artigos médicos, ópticos e ortopédicos (318 pessoas). Os dados são da Pesquisa Anual de Comércio (PAC) 2020, divulgada hoje (17) pelo IBGE.
Já a Pesquisa Anual de Serviços (PAS) 2020 mostrou um total de 1.368.885 de empresas, com queda de 1,1% em relação à 2019, devido principalmente à retração de 14,3% no segmento de serviços prestados principalmente às famílias. Essas empresas foram responsáveis por ocuparem 12,5 milhões de pessoas pagando R$ 373,5 bilhões em salários, retiradas e remunerações. Os dados foram divulgados hoje (24) pelo IBGE.
Maior queda verificada no comércio
Foi a maior queda na ocupação do comércio, no intervalo de um ano, desde o início da série histórica da pesquisa, em 2007. Também houve queda recorde do número de trabalhadores em dois dos três grandes segmentos do comércio: – 4,8%, no setor varejista, que emprega 73,7% dos trabalhadores do comércio, e -8,5% no segmento de veículos, peças e motocicletas.
Entre as atividades, a maior redução foi de um setor bastante atingido pelas medidas de distanciamento social adotadas para deter a Covid-19. Em um ano, o segmento varejista de tecidos, vestuário, calçados e armarinho sofreu retração de 176,6 mil trabalhadores, o que representa uma perda de 15,3% em seu contingente de ocupados. Além disso, o número de empresas desse setor caiu 15,6%. Isso corresponde a 32,6 mil estabelecimentos comerciais.
“O volume expressivo da queda nesse setor chama a atenção e representa de forma significativa aquelas lojas que tiveram suas atividades mais afetadas pela necessidade de isolamento social, seja no comércio popular, seja em shoppings. Todos esses estabelecimentos onde a venda presencial é muito importante para experimentar a mercadoria sentiram os efeitos da pandemia de forma mais acentuada nesse primeiro ano”, explica a gerente de Análise Estrutural do IBGE, Synthia Santana.
Outras fortes retrações de ocupação ocorreram nos setores varejistas de produtos alimentícios, bebidas e fumo (-81,5 mil trabalhadores) e de material de construção (-59,7 mil). Nesse primeiro segmento, estão as lojas especializadas, como os empórios, padarias e comércios de bebidas.
“Essa atividade, mesmo sendo considerada essencial na pandemia, registrou queda na comparação com 2019. Um dos fatores que podem explicar esse resultado é que a ida menos frequente a estabelecimentos comerciais, por causa da necessidade de isolamento social, fez com que os consumidores concentrassem suas compras em empresas com uma gama mais diversificada de produtos, como é o caso de hiper e supermercados”, analisa a pesquisadora.
Entre os três grandes segmentos investigados pela pesquisa, apenas o atacado teve aumento nessa comparação (2,2%, ou mais 37,9 mil trabalhadores), influenciado especialmente pelas contratações em três atividades: madeira, ferragens, ferramentas, materiais elétricos e material de construção (10,0%), produtos alimentícios, bebidas e fumo (4,4%) e mercadorias em geral (6,1%).
Esse resultado tem relação com o tipo de empresa que é considerado atacadista. Na pesquisa, para ser definida como varejista, a empresa deve vender os seus produtos diretamente ao consumidor final, para uso pessoal e doméstico. Já no atacado, a negociação é feita com outros estabelecimentos ou órgãos da administração pública. Em 2020, o setor atacadista foi impactado de forma positiva pelos resultados do comércio exterior.
“O atacado foi um pouco mais resiliente diante do primeiro ano de pandemia. As exportadoras, por negociarem diretamente com outras empresas ou entidades, fazem parte do atacado. O fato de, em 2020, o comércio internacional ter apresentado um comportamento mais expressivo também eleva o setor atacadista a resultados que divergem um pouco do que foi exibido pelo varejo, que teve queda no número de empresas e de pessoas ocupadas”, afirma Synthia.
Setor de serviços mais afetado
O setor mais afetado foi o de serviços prestados principalmente às famílias com queda de 16,4%, ou menos 467,9 mil ocupações. Dentro desse segmento, a influência negativa mais intensa veio dos serviços de alimentação: -18,7% ou menos 329,2 mil pessoas ocupadas. Agências de viagens, operadores de turismo e outras atividades de turismo também caíram forte (28,4%) assim como edição integrada à impressão (21,2%).
Entre as maiores altas, destaca-se a seleção, agenciamento e locação de mão de obra, que representa a terceirização, opção de muitas empresas durante a pandemia. “Foi o maior aumento de pessoas, em número absoluto (143,1 mil) e em percentual (22,2%)”, analisa Miranda.
O salário médio caiu em 10 anos
Entre 2011 e 2020, a média de ocupação do setor de serviços caiu de dez para nove pessoas por empresa. Das quatro atividades de empresas com maior porte, três estão no segmento de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, que tinha a maior média de ocupação: 15 trabalhadores por empresa. A atividade de transportes aéreo foi a que apresentou a maior variação negativa em termos absolutos (-41 pessoas).
“Em dez anos, o porte das empresas mudou pouco, passando de uma média de dez para nove pessoas ocupadas, com pouca variação, a não ser de serviços profissionais, administrativos e complementares e de outras atividades de serviços que caíram de 14 para 11 e de 13 para 10. Em relação aos salários, há queda em todos os segmentos, à exceção de outras atividades de serviços. O destaque é o segmento de serviços de informação e comunicação que paga o maior salário, mas também caiu”, diz o analista da PAS.
O salário médio mensal recuou, passando de 2,5 salários mínimos (s.m.), em 2011, para 2,2 s.m. em 2020. Serviços de informação e comunicação (4,5 s.m.) continuou com a maior remuneração em salários médios, mas foi o que teve a maior redução (1,0 s.m.). Esse resultado foi influenciado pela atividade de telecomunicações que reduziu 2,1 s.m. em 10 anos. Outras atividades de serviços (3,4 s.m.) e transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (2,6 s.m.) também continuaram a pagar, em 2020, salários acima da média do setor. Serviços prestados principalmente às famílias tiveram a média salarial mais baixa (1,4 s.m.).