Uma nova etapa do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa) começou neste mês de agosto e os voluntários do projeto estão sendo convidados a participar de novas entrevistas e de visitas presenciais ao Centro de Investigação, localizado no Centro de Ciências da Saúde (CCS), em Maruípe. O objetivo é dar prosseguimento à investigação, que verifica a incidência e os fatores de risco de doenças na população brasileira, em particular as doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e renais, o diabetes e os diversos tipos de câncer. A coleta das informações termina em julho de 2023.
Os participantes do projeto Elsa serão acompanhados durante 25 anos e a estimativa é que 850 pessoas participem desta nova etapa. “A visita ao Centro de Investigação do Elsa é chamada de onda e, agora, estamos na quarta onda do projeto, que teve início em 2008. Os participantes do estudo contribuirão com respostas a entrevistas que versam sobre fatores de risco para doença cardiovascular, condições de vida, diferenças sociais, estresse no trabalho, saúde familiar, saúde mental, questões de gênero e especificidades da dieta da população brasileira”, explica a professora Maria del Carmen Molina, vice-coordenadora do Elsa no Espírito Santo.
A pesquisadora reforça a contribuição de cada participante na construção deste projeto, que envolve importante recurso governamental e dedicação de muitos pesquisadores das seis instituições parceiras.
“A participação dos voluntários tem sido muito boa, visto que o percentual de desistência é um dos menores dentre os grandes estudos desenvolvidos nos países do hemisfério norte. Em 14 anos, a perda de participantes ficou em aproximadamente 15%. Mesmo os servidores que se aposentaram e foram morar em outras cidades são acompanhados e seguidos por entrevista telefônica. Além disso, destacamos a contribuição do Elsa-Brasil na produção do conhecimento qualificado e na formação de pesquisadores nas diferentes áreas, além da importância da participação de todos os voluntários nesta fase do projeto, para que possamos identificar as mudanças que impactam o perfil de saúde da população e, assim, compreender melhor esse cenário”, enfatiza a professora.
Professor José Geraldo Mill
O professor José Geraldo Mill, coordenador do Elsa no Espírito Santo, também aponta a importância desse estudo para a produção de conhecimento sobre a saúde da população brasileira e a possibilidade de subsidiar políticas públicas. Além disso, menciona o quanto o estudo tem inovado na incorporação de exames e técnicas que podem ser incorporadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). “O Elsa-Brasil representa um grande esforço de um grupo de pesquisadores de diversas áreas que, com o apoio decisivo do Ministério da Saúde, buscam soluções inovadoras para a prevenção de doenças crônicas na população brasileira”.
Segundo a professora Molina, durante a pandemia, o Projeto Elsa realizou uma pesquisa que avaliou as mudanças no estilo de vida dos voluntários. “O estudo possibilitou identificar e avaliar o impacto da Covid-19 sobre a saúde dos participantes do projeto, antes e durante o afastamento social, como hábitos alimentares, práticas de atividades físicas, distanciamento social e níveis de exposição à doença. “Poucos estudos conseguiram fazer análises precisas como as que foram feitas pelo nosso grupo”, avalia.
A pesquisa apontou que, durante o isolamento, 6,6% dos entrevistados relataram que voltaram a fumar; 25% tiveram insônia; mais de 30% diminuíram a frequência de consumo de peixes, refrigerantes, arroz e feijão; mais de 40% aumentaram a frequência de consumo de carne e tubérculos; 30% diminuíram a frequência de consumo de peixes, refrigerantes, arroz e feijão; 62,2% aumentaram o tempo de tela (celular, computador, TV ou notebooks); 60,9% aumentaram o tempo sentado, reclinado ou deitado; além de um aumento diário de 128% no consumo de bebidas alcoólicas.
Por outro lado, os dados também mostraram que 46,2% cumpriram a recomendação de atividade física no tempo livre; 67% aderiram totalmente ao distanciamento social; e mais de 90% adotaram as medidas de proteção recomendadas (usar máscara, lavar as mãos com água e sabão, cobrir o nariz e a boca ao tossir e espirrar, não cumprimentar pessoas).
Outros aspectos apresentados pela pesquisa indicaram que 66% dos homens sentiram falta de companhia, contra 76% das mulheres; 26% das pessoas que realizaram algum teste para diagnóstico de covid-19 testaram positivo; 15% tiveram dificuldades em conseguir atendimento médico; 55% foram afetados ou tiveram familiares afetados economicamente durante a pandemia; 39% ajudaram financeiramente algum membro da família; e 61% consideraram que as despesas semanais com a casa aumentaram.
Em se tratando de saúde mental, 14% dos voluntários avaliaram que sua saúde mental esteve regular ou muito ruim durante o isolamento social. Os dados também mostraram que 17% dos homens apresentaram sintomas de depressão. Entre as mulheres, a percentagem foi de 24%. A ansiedade atingiu 11% dos homens, contra 20% das mulheres. E o estresse esteve presente em 10% dos homens e em 17% das mulheres.
Sobre o projeto
O Elsa é realizado desde 2008 e é considerado o maior estudo epidemiológico já realizado na América Latina. Seu universo é composto por aproximadamente 15 mil voluntários em seis instituições públicas de ensino superior e pesquisa das regiões Nordeste, Sul e Sudeste do Brasil: Ufes; as universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Bahia (UFBA) e Minas Gerais (UFMG); a Universidade de São Paulo (USP) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Os voluntários são submetidos a vários exames e respondem a questionários sobre hábitos de vida. Dentre os exames, estão eletrocardiograma, ecocardiograma, ultrassonografia, cálculo antropométrico, medição da pressão arterial e coleta de sangue e urina. Além disso, quando um voluntário precisa ser internado, todo o processo é monitorado pela equipe do projeto para identificar a origem dos motivos que levaram à internação. Outras informações sobre o projeto estão disponíveis em http://www.elsa.org.br/oelsabrasil.html.