O Centro de Artes lamentou a perda e manifesta sua solidariedade aos familiares e amigos do professor
O falecimento do artista plástico e professor aposentado Raphael Samú, ocorrido na última quarta-feira (31), aos 92 anos, levou a Ufes a lamentar a perda de uma pessoa que fez parte de um importante capítulo da história da universidade e, especialmente, do Centro de Artes. O artista é criador do mural em mosaico localizado na entrada da Ufes, um símbolo da instituição. Com 140 metros quadrados, o mural foi projetado e construído na década de 1970, retratando a vida universitária capixaba e temáticas da época, como a corrida espacial.
Nascido em São Paulo, o artista formou-se em escultura em 1955. Em 1961 foi convidado a lecionar na Ufes, que na época estava recém-oficializada, permanecendo na instituição até 1989. No Centro de Artes da Ufes Samú introduziu a disciplina de gravura, ministrou aulas de serigrafia e criou a disciplina de mosaico. uas obras integram o patrimônio artístico e urbanístico de Vitória, e estão presentes em prédios públicos e privados da cidade. Além das obras com o mosaico, Samú trabalhou com desenho, pintura e escultura.
Em 1961, já casado com a também artista plástica Jerusa Samú, o artista recebeu o convite para ser professor da recém-oficializada Universidade Federal do Espírito Santo, onde lecionou até 1989. No Centro de Artes, ele introduziu a disciplina de gravura, deu aulas de serigrafia e, posteriormente, criou a disciplina de mosaico. A idéia para a realização do mural partiu do então reitor Máximo Borgo, influenciado por uma iniciativa tomada, neste mesmo sentido, na Universidade de Minas Gerais. O intuito seria a humanização do Campus, retratando a vida universitária capixaba.
O então reitor Máxmo Borgo pediu para fazer o projeto do painel
O reitor pediu a participação de Raphael Samú para a elaboração e confecção do mural. Como professor do Centro de Artes ele aproveitou a fabricação do mural para ensinar a técnica do mosaico aos alunos, pois ainda era desconhecida na Universidade. O desenho foi elaborado pelo artista e aprovado pelo reitor, sem sofrer modificações. A intenção do artista foi mostrar a ficção antecipando a realidade: a leitura do mural feita da direita para a esquerda de quem vê dá uma noção de evolução científica.
A primeira cena é a história em quadrinhos, de autoria de Alexander Raymond, que narra à saga de Flash Gordon, Dr. Hans Zarkov e Dale Arden a bordo de um foguete em direção ao planeta Mongo. A segunda cena retrata a chegada do homem à lua abordo do módulo lunar. Na parte central do mural um aluno utiliza um microscópio retratando a pesquisa acadêmica. Para compor esta imagem o artista passou por um importante processo, no qual ele mesmo explica:
De acordo com registros do Centro de Artes, em 1977, Samú deu a seguinte declaração para explicar o mural: “Aproveitei para dar um sentido mais realista ao retrato de um aluno de engenharia fotografado pelo professor Walace Neves. Fotografia essa realizada em auto-contraste e onde obtive um resultado novo para painéis grandes, dando uma ideia de retícula. Que pode, fugindo ao tradicional, fazer uma fusão visual com o distanciamento do observador.”
Na sequência seguinte, o artista retrata os alunos reunidos em grupos no campus, trajados de acordo com a moda da época: calça jeans de diversos modelos. E na conclusão estão a logomarca da UFES, os cartões perfurados (com os números correspondentes ao lado) e um imenso computador da década de 70. O projeto foi elaborado em setembro de 1974, com a confecção de um croqui, em papel vegetal, feito em escala de um por dez, quadriculando-se o desenho em partes de cinco centímetros, que correspondem no painel a 50 centímetros.
Como foi elaborado o projeto do painel
No dia 12 de setembro de 1974 foi elaborado o projeto de execução do mural, nos mesmos moldes que Samú aprendeu na época que trabalhava na Vidrotil. A área do desenho foi quadriculada em partes de 0,31 x 0,31 m que corresponderia a uma folha de papel cenário (craft). O projeto foi dividido em faixas nomeadas por letras, cada letra corresponde a 7 colunas, cada coluna a 21 linhas, sendo 18 linhas de desenho e 3 linhas de contorno branco. Cada letra corresponde então a 112 folhas.
As faixas que contém o desenho vão da letra A a Q, sendo que esta possui apenas 2 colunas. Já o contorno lateral branco possui 3 colunas. Todos esses cálculos foram feitos para ter a precisão da dimensão do mural e para direcionar os pedreiros quanto à montagem do mesmo. Na imagem abaixo pode ser observado o cálculo feito no final do projeto que chega à área total de 168,27 m². Observa-se também, na lateral direita, a ordem cronológica de todo o processo, do desenho do projeto em setembro de 1974 à aplicação na parede em 1977.
O projeto foi feito por Samú com caneta esferográfica, vermelha e preta, caneta hidrográfica verde e lilás e anotações posteriores a lápis. Essas anotações são referentes à construção do mosaico, contendo datas de início de cada etapa. Segue a transcrição das anotações feitas na parte superior do projeto: da coluna 1 a 9 Samú escreveu a lápis: 1ª etapa: início 22 abril -75; da coluna 10 a 17: 6 março; da coluna 18 a 25: 19 maio; da coluna 26 a 34: 27 maio; da coluna 35 a 43: 12 junho; da coluna 44 a 50: 1º julho; da coluna 51 a 57: 1º agosto. Em março de 1975 foi feita a ampliação do desenho original através de um aparelho chamado epidiascópio, sobre papel em tamanho real.