Economista alerta que os empréstimos são altamente arriscados, porque são voltados para consumo e não para investimento, o que aumenta ainda mais o risco
O vale-tudo para obter votos, adotado pelo atual presidente Jair Bolsonaro (PL), inclui até a ampliação do endividamento da camada mais pobre e miserável do Brasil. A partir desta semana, 12 bancos estão autorizados pelo atual governo de extrema-direita a realizar empréstimo consignado aos contemplados com o Auxílio Brasil e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). O uso da máquina pública na caça de votos da camada mais pobre, ainda inclui nesta terça-feira (11) o pagamento da parcela de outubro do Auxílio Brasil e a inclusão de mais 5,9 milhões de famílias no Auxílio Gás.
O crédito consignado é aquele concedido pelas instituições financeiras com desconto automático das parcelas em folha de pagamento do salário ou benefício, que foi elevado até dezembro para R$ 600,00 e que a partir de janeiro de 2023 volta a ser de R$ 402,00. De acordo com a lei sancionada por Bolsonaro, esse recurso destinado a pessoas sem renda para comprar alimentos, poderá fazer empréstimos de até 40% do repasse permanente de R$ 400 do programa. Dessa forma, eles poderão descontar até R$ 160 mensais, em um endividamento que tem prazo máximo de 24 meses.
Juros de 51,10% ao ano
Os banqueiros não querem saber se o empréstimo é para pessoas miseráveis ou não. O que importa é que a taxa de juros de 3,5% ao mês, trará uma lucratividade de 51,10% ao ano. Ou seja, o ganho do banco será acima da metade do valor emprestado. Estão participando desse tipo de empréstimo consignado as seguintes instituições financeiras habilitadas junto ao Ministério da Cidadania: Caixa, Banco Agibank; Banco Crefisa; Banco Daycoval; Banco Pan; Banco Safra; Capital Consig Sociedade de Crédito Direto; Facta Financeira S/A Crédito, Financiamento e Investimento; Pintos S/A Créditos; QI Sociedade de Crédito Direto; Valor Sociedade de Crédito Direto; e Zema Crédito, Financiamento e Investimento.
Os responsáveis familiares que se sujeitarem aos empréstimos vinculados ao Auxílio Brasil e titulares de Benefício de Prestação Continuada (BPC) foram autorizados pelo governo Bolsonaro a fazer o consignado diretamente nos bancos autorizados. “É aconselhado que cada responsável familiar entre em contato com os bancos para verificar a melhor proposta”, ainda alertou o Ministério da Cidadania. E o mesmo Ministério de Bolsonaro ainda disse que “os valores serão depositados pela instituição financeira na mesma conta onde é feito o pagamento do benefício, em até dois dias úteis após a contratação do empréstimo.”
Riscos de aumentar o endividamento
O economista e professor mineiro Charlles Franklin Duarte, ao ser ouvido pelo portal MaisMinas, resumiu o maleficio da medida da liberação política de empréstimo consignado à camada mais pobre da sociedade brasileira: “Operação de risco”. Ele lembra que ainda existem banqueiros éticos, além desses 12 que mergulharam de cabeça no projeto eleitoral de Bolsonaro, sem se preocupar com as consequências para o aumento da dívida entre o segmento mais vulnerável da população.
“O primeiro risco é a questão da perda desse benefício (Auxílio Brasil), porque tem um tempo limitado de recebimento desse benefício, inclusive a proposta do governo é colocar esse valor em torno de R$ 600, mas ninguém garante e o governo também não tem esse orçamento para manter esse valor no próximo ano. Então provavelmente vai cair para R$ 400”, iniciou. Os vulneráveis que já estão com a renda totalmente comprometida para sua sobrevivência, no consumo de bens para as suas necessidades pessoais acabam comprometendo a questão do empréstimo o que influencia bastante na devolutiva desse dinheiro para os bancos”, acrescentou.
Os bancos ainda ousam cobrar taxas de juros mais elevadas
“As taxas de juros são muito altas, não são baixas! Nem todos os bancos vão aderir a essa operação, quer queira quer não é operação de risco, porque você vai oferecer dinheiro para vulneráveis e tem a questão do vulnerável perder essa renda e depois como é que fica? Como os bancos vão reaver esses valores porque os vulneráveis vão dizer que não tem de onde tirar, então vai acontecer muita inadimplência. Tem risco de um lado e tem risco do outro”, afirmou o economista.