Nova plataforma lançada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), e pelo Laboratório de Impacto Climático alerta para o impacto no clima, que pode afetar a vida das pessoas, da mortalidade aos meios de subsistência e uso de energia, provocando um aumento da desigualdade
Segundo comunicado da ONU à imprensa, se as emissões de carbono continuarem altas, o impacto das mudanças climáticas na saúde pode ser até duas vezes mais mortal do que o câncer em algumas partes do mundo. A constatação faz parte dos novos dados divulgados, nesta última sexta-feira (4), pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), e pelo Laboratório de Impacto Climático.
O estudo dá o exemplo de Dhaka, em Bangladesh, onde numa realidade de emissões muito altas até 2100, mortes adicionais devido às mudanças climáticas podem se tornar o dobro da taxa anual de mortalidade atual do país por todos os tipos de câncer, e 10 vezes por fatalidades anuais no trânsito.
As informações estão na nova plataforma Human Climate Horizons, que alerta também para o aumento das desigualdades se nada for feito para conter o aquecimento do planeta. Com base nas análises dos Relatórios de Desenvolvimento Humano de 2020, 2021 e 2022, e alimentados por diversas pesquisas, os dados mostram como as mudanças climáticas podem afetar a vida das pessoas, da mortalidade aos meios de subsistência e uso de energia.
Embora temperaturas mais altas e um clima mais quente coloquem os sistemas cardiovascular e respiratório sob estresse em todos os lugares, os resultados variam entre as regiões, de acordo com as comunidades que têm recursos para se adaptar e as que não têm. Os dados mostram que as mudanças climáticas podem aumentar as taxas de mortalidade em Faisalabad, no Paquistão, em quase 67 mortes por 100 mil habitantes, causando mais mortes do que derrames, a terceira principal causa de morte no país.
Temperaturas subindo
Em Riad, na Arábia Saudita, no entanto, rendas mais altas podem manter o número de mortos em 35 por 100 mil habitantes, ainda assim, uma taxa mais mortal do que a doença de Alzheimer, a sexta principal causa de morte no mundo.
De acordo com a pesquisa, desde o final do século 19, a temperatura média da Terra aumentou quase 1,2°C, alterando toda a superfície do planeta. No entanto, bilhões vivem em regiões que já experimentaram um aquecimento maior do que a média global. Como exemplo, a plataforma apontou Maracaibo, na Venezuela, lembrando que na década de 1990 tinha uma média de 62 dias anuais com temperaturas superiores a 35°C. No entanto, em meados do século, esse número provavelmente aumentará para 201 dias.
Impactos na energia e no trabalho
Para o Pnud, a disponibilidade de eletricidade e os combustíveis usados para gerá-la para alimentar ar-condicionado e aquecedores desempenham um papel crucial na capacidade de lidar com temperaturas extremas. Ainda assim, os impactos das mudanças climáticas no uso de energia variam localmente, à medida que indivíduos, comunidades e empresas se adaptam às condições usando os recursos disponíveis.
Em Jacarta, por exemplo, prevê-se que o consumo de eletricidade em resposta a temperaturas mais quentes aumente em cerca de um terço do consumo doméstico atual na Indonésia. Isso exigirá planejamento de infraestrutura adicional crítica.
Temperaturas extremas mais frequentes e severas também afetam os meios de subsistência, afetando a capacidade de realizar tarefas e influenciando a intensidade e a duração do trabalho.
Segundo dados da plataforma, o impacto das mudanças climáticas difere entre os setores da economia, com trabalhadores em setores de alto risco e expostos ao clima, como agricultura, construção, mineração e manufatura sendo os mais afetados. Em Niamey, no Níger, em setores como construção, mineração e manufatura, o calor excessivo foi responsável por 36 horas a menos de trabalho anualmente, afetando 2,5% no PIB futuro do país.
Consequências humanas
Como os impactos das mudanças climáticas não são distribuídos uniformemente globalmente, eles gerarão um aumento significativo nas desigualdades nos próximos anos e décadas. Mas ao destacar que o futuro não é predeterminado, o Pnud espera que a informação possa capacitar as pessoas em todos os lugares, para intensificar a ação climática.
A missão da plataforma é garantir acesso igualitário a dados sobre impactos futuros, informar a tomada de decisões e ajudar todos a entender as consequências humanas das mudanças climáticas em diferentes cenários.
Escolha econômica
Às vésperas das negociações climáticas da COP27, o Pnud também lançou o relatório “Como a transição justa pode cumprir o Acordo de Paris”, analisando tanto as promessas climáticas aprimoradas de curto prazo, conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas, quanto as estratégias de longo prazo nas quais os países descrevem seus planos para o líquido zero.
Os países que não reconhecem as oportunidades oferecidas por uma “revolução verde” correm o risco de aumentar a desigualdade social, agitação civil e economias menos competitivas se as transições propostas para caminhos de emissões líquidas zero não forem bem gerenciadas.
De acordo com o documento, à medida que os países transitam para economias sustentáveis, é fundamental que o processo seja feito de forma justa e equitativa. A noção de uma “transição justa” é fundamental para alcançar os objetivos climáticos globais do Acordo de Paris.
O relatório conclui que a “transição justa” agora é referenciada em 38% das últimas promessas climáticas nacionais sob o Acordo de Paris e em 56% das estratégias de longo prazo, mas ainda há mais trabalho.