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COP27 faz reflexão global sobre fim de combustíveis fósseis no Dia das Finanças


Líderes participantes na cúpula do clima no Egito acompanharam inventário de emissões globais usando dados de satélite e inteligência artificial; ativistas mencionaram Moçambique pelo dilema de cidadãos residentes em áreas com reservas de gás natural



A chamada Zona Azul, principal área do centro de conferências em Sharm el-Sheik, foi ocupada por mais de 50 ativistas | Foto: Laura Quinones/ONU

Nesta última quarta-feira (9), a 27ª. Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP27, no Egito, enfatizou o Dia de Finanças. O primeiro período temático teve uma manifestação pública da sociedade civil exigindo um esforço global para que centenas de bilhões de dólares agora investidos em combustíveis fósseis sejam redirecionados, por ano, a iniciativas comunitárias de energia renovável.

A chamada Zona Azul, principal área do centro de conferências em Sharm el-Sheik, foi ocupada por mais de 50 ativistas. De várias idades e origens, eles gritavam slogan “Parem de financiar combustíveis fósseis, parem de financiar a morte”. A ONU News conversou com Susan Huang, representante da ONG Oil Change Internacional. Ela testemunhou a cúpula do grupo das sete principais economias do mundo, G7, que no ano passado terminou em acordo para acabar com o financiamento público de combustíveis fósseis até 2022.

Huang apelou aos líderes que cumpram seus compromissos e parem de canalizar fundos públicos para combustíveis fósseis. Para a Agência Internacional de Energia,  a transição lenta para as energias renováveis agrava as crises climática e energética. Em discurso feito na ocasião, a ativista da ONG Friends of the Earth International, em Moçambique, Dipti Bhatnagar, falou de desapropriações de terras no país. Ela advertiu sobre o interesse de “países ricos em reservas de gás”  locais como um dos fatores que teria levado ao aumento de deslocados.

Produção de petróleo

Próximo do local, o secretário-geral da ONU enviou uma mensagem a governos e ao setor financeiro sobre investimentos em combustíveis fósseis. António Guterres acompanhou o lançamento do inventário independente de emissões de gases de efeito de estufa, criado pela Coalizão Climate Trace liderada pelo ex-vice-presidente norte-americano Al Gore.

A ferramenta combina dados com uso de satélites e inteligência artificial para mostrar as emissões em nível de instalação de mais de 70 mil locais em todo o mundo, incluindo empresas na China, nos Estados Unidos e na Índia. O recurso permitirá que os líderes conheçam a localização e a finalidade das emissões.

Guterres explicou que os dados gerados pela iniciativa mostram que as emissões são, muitas vezes, até maiores do que o que é reportado. Os desafios são a subnotificação de vazamentos de metano, a queima e outras atividades associadas à produção de petróleo e gás. Para ele, esse fato deve servir de alerta para tais setores, especialmente os que investem em combustíveis fósseis e promovem a poluição.

O Dia de Finanças na COP27 destacou que é preciso investir trilhões de dólares a cada ano para alcançar as transformações rápidas e de longo alcance | Foto: Omid Armin/ONU

Investir trilhões de dólares a cada ano

O secretário-geral da ONU ressaltou que a nova ferramenta será crucial para os líderes empresariais atuando para descarbonizar suas cadeias de suprimentos, para os governos que trabalham para alinhar políticas com planos climáticos e para os investidores seguindo o progresso do setor privado em direção à neutralidade da emissão de carbono.

Para o líder das Nações Unidas, o problema é ainda maior do que se crê. Por isso, pediu que o mundo trabalhe ainda mais para acelerar a eliminação de todos os combustíveis fósseis. O Dia de Finanças na COP27 destacou que é preciso investir trilhões de dólares a cada ano para alcançar as transformações rápidas e de longo alcance com vista a lidar com o impacto da crise climática e cumprir os objetivos do Acordo de Paris.

Questão de perdas e danos

Salas de conferências, pavilhões e os chamados “centros de ação”, incluindo sessões de negociações a portas fechadas, juntaram delegados, ativistas, banqueiros e outras partes interessadas no debate sobre a importância de se fechar a atual lacuna financeira em áreas críticas da ação climática. As principais são a mitigação, a adaptação e as perdas e danos.

Para os especialistas, a origem do impulso financeiro devem ser os setores público, privado, da dívida ou do patrimônio, ou ainda o comercial e filantrópico. O fecho da “lacuna de adaptação” foi uma das maiores convocações feitas durante o dia.  A Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, Unfcc, mobiliza os promotores de projetos e investidores a ter foco na preparação e no investimento de iniciativas sobre resiliência e protejam os mais vulneráveis dos impactos negativos das mudanças climáticas.

Outra meta é estimular a mudança sistêmica e a inovação em favor da transformação para carbono zero que seja resiliente ao clima, no contexto de uma transição justa, além da proteção e restauração do capital natural.

Nas promessas e novas iniciativas dos países para financiar perdas e danos destaca-se o anúncio de US$ 20 milhões da Nova Zelândia. O desembolso junta-se aos da Escócia, Noruega, Alemanha, Áustria, Bélgica para apoiar economias em desenvolvimento a custear danos de desastre causados pelas mudanças climáticas. O Reino Unido declarou que aceitaria que os países atingidos por desastres causados pelo clima tivessem uma prorrogação de seus pagamentos.