Flávio Dino convidou o policial rodoviário federal Antônio Fernando Oliveira, ex-superintendente da PRF no Maranhão, para o cargo de diretor-geral da PRF no governo Lula. Sem o novo cargo, Casagrande garante mais quatro anos de Camata no cargo comissionado de Secretário de Estado

Logo após o lavajista carioca Edmar Moreira Camata, apoiador do ex-juiz Sérgio Moro, do ex-promotor federal Deltan Martinazzo Dallagnol e defensor da prisão de Lula ter sido desconvidado para ser o diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o governador reeleito do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) o prestigiou e renovou o seu cargo comissionado por mais quatro anos. A indicação que havia sido feita por Flávio Dino, futuro ministro da Justiça do governo Lula, provocou fortes reações negativas, por ser o sobrinho do ex-governador capixaba Gerson Camata, uma pessoa alinhada com os inimigos políticos do presidente eleito e diplomado Luiz Inácio Lula da Silva.
A indicação, que não durou 24 horas, provocou reação enérgica de dirigentes petistas e de integrantes do grupo Prerrogativas, que reúne advogados aliados de Lula e críticos da operação Lava-Jato, ardorosamente defendida por Edmar Camata, um policial que tem dentro da PRF um cargo pequeno, de agente de polícia. No Espírito Santo ganhou o cargo comissionado de secretário de Estado de Controle e Transparência, uma pasta sem nenhuma relevância política, como prêmio de consolação pela sua derrota para a tentativa frustrada de conseguir o cargo de deputado federal pelo PSB, nas eleições de 2018.
Poucas horas após o desconvite a Camata ter sido feito por Flavio Dino, o governador capixaba publicou no Twiiter a permanência de Camata por mais quatro anos em seu novo governo, que será reempossado no próximo dia 12º de janeiro. “Edmar Camata permanecerá no comando da Secretaria de Controle e Transparência em nossa próxima gestão. Seu trabalho contribuiu para colocar o Espírito Santo no 1º lugar em transparência do Brasil. Seguirmos trabalhando juntos para tornar este Estado cada vez mais eficiente”. De acordo com a Transparência do Governo do Estado, Camata entrou no cargo comissionado em 11 de janeiro de 2019 e tem uma remuneração mensal atual de R$ 16.421.,09.

Retirada do convite de Camata
“Nós tivemos uma polêmica nas últimas horas e o entendimento meu e da minha equipe foi que seria o mais adequado proceder essa substituição”, disse Dino à imprensa. “Preciso de uma equipe que, além de unida, tenha todas as condições de levar o seu trabalho adiante. Qualquer que seja o dirigente que esteja cercado de polêmicas, é muito difícil que, em uma área sensível, o dirigente consiga se dedicar com a largueza e a profundidade necessária. Esta foi a razão da substituição”.
Flávio Dino não revelou quem deu o nome do lavajista, defensor da prisão de Lula, como sugestão. A quem ventile que foi o governador capixaba Casagrande, do PSB, mesmo partido do ministro indicado para a Justiça. Edmar foi candidato a deputado federal pelo PSB, em 2018. O futuro ministro chegou a dizer aos jornalistas “que sabia que Camata tem perfil lavajatista”, mas que não considerou tal critério na escolha para a PRF. “Não se trata de um julgamento pretérito, mas à existência de condições políticas para liderar a equipe. Em face da polêmica, não reuniria condições para liderar a equipe”, assinalou Dino.
Camata pregou o ódio contra Lula
Mas, o futuro ministro da Justiça ressaltou que o desconvite a Camata não se deve a uma interferência de Lula e assumiu toda a responsabilidade em fazer a substituição. Em 2018, Camata escreveu em suas redes sociais: “Ver Lula como inocente significa acreditar que há uma trama extremamente complexa e articulada que condenou 220 empresários, servidores e políticos em várias instâncias. Tudo a troco de condenar Lula”.
Camata, que fez inúmeros elogios ao ex-juiz Sérgio Moro e ao ex-procurador da República Deltan Dallagnol (Podemos-PR) nas suas redes, mesmo sendo carioca concorreu ao cargo de deputado federal pelo Espírito Santo e usou a Lava Jato como sua bandeira de campanha. “Até agora, já foram condenadas 188 pessoas na Operação Lava-Jato. Se as penas fossem somadas dariam 1861 anos e 20 dias. Não podemos deixar a maior operação anticorrupção do país parar, você concorda?”, afirmava o seu cartaz eleitoral. Camata entrou na PRF por concurso público para o cargo de agente de polícia e como fã da Lava-Jato, decidiu fazer um mestrado em Políticas Anticorrupção pela Universidade de Salamanca, na Espanha.
O desconvidado para o cargo de dirigente nacional da PRF festou o seu encontro pessoal com Dellagnol e com Moro, demonstrando que tinha os dois como seus ídolos. Camata não tem nenhuma afinidade com Lula, nem as redes sociais. No Twitter, ele segue o derrotado Bolsonaro e não segue o presidente eleito e diplomado Lula. Em julho de 2017, compartilhou em suas redes fotos de um evento em que homenageou a força-tarefa e tietou Deltan Dallagnol. “Tive cinco minutos que certamente milhões de brasileiros gostariam de ter, e espero ter honrado”, afirmou. “À frente, o coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol. Pude falar do orgulho e confiança que a ampla maioria dos brasileiros tem na atuação desses profissionais, que de maneira inovadora se impõem contra a corrupção”.