O órgão federal responsável pela política indigenista brasileira passou a ser denominado Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). A mudança consta na Medida Provisória nº 1.154, de 1º de janeiro de 2023, que estabelece a organização dos órgãos da Presidência da República e dos ministérios.
Criada por meio da Lei nº 5.371, de 5 de dezembro de 1967, a Funai é a principal executora da política indigenista do Governo Federal. Sua missão institucional é proteger e promover os direitos dos povos indígenas no Brasil. Antes vinculada ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, a autarquia integra agora a estrutura do recém-criado Ministério dos Povos Indígenas.
Cabe à Funai promover estudos de identificação e delimitação, demarcação, regularização fundiária e registro das terras tradicionalmente ocupadas pelos povos indígenas, além de monitorar e fiscalizar as terras indígenas. A Funai também coordena e implementa as políticas de proteção aos povos isolados e recém-contatados.
É, ainda, seu papel promover políticas voltadas ao desenvolvimento sustentável. Nesse campo, a Funai promove ações de etnodesenvolvimento, conservação e a recuperação do meio ambiente nas terras indígenas, além de atuar no controle e mitigação de possíveis impactos ambientais decorrentes de interferências externas às terras indígenas.
Compete também ao órgão estabelecer a articulação interinstitucional voltada à garantia do acesso diferenciado aos direitos sociais e de cidadania aos povos indígenas, por meio do monitoramento das políticas voltadas à seguridade social e educação escolar indígena, bem como promover o fomento e apoio aos processos educativos comunitários tradicionais e de participação e controle social.
A atuação da Funai está orientada por diversos princípios, dentre os quais se destaca o reconhecimento da organização social, costumes, línguas, crenças e tradições dos povos indígenas, buscando o alcance da plena autonomia e autodeterminação dos povos indígenas no Brasil, contribuindo para a consolidação do Estado democrático e pluriétnico.
Joenia Wapichana será a 1ª mulher indígena a assumir a Presidência da Funai
Pela primeira vez em 55 anos de história, o órgão federal responsável pela política indigenista brasileira será presidido por uma mulher indígena. A advogada Joenia Wapichana estará à frente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), à qual cabe a proteção e promoção dos direitos das diferentes etnias do país.
Joenia tem bacharelado em Direito pela Universidade Federal de Roraima (UFRR) e Mestrado em Direito Internacional pela Universidade do Arizona. Natural de Boa Vista, estado de Roraima, acumula uma longa trajetória de defesa dos povos originários. Ela foi a primeira mulher indígena a exercer a advocacia no país e também a primeira deputada federal indígena do Brasil.
Nesta segunda-feira (2), Joenia Wapichana participou de um ato na Sede da Funai, em Brasília, organizado pelas duas associações de servidores do órgão, a Indigenistas Associados (INA) e a Associação Nacional dos Servidores da Funai (Ansef). Intitulado “Retomada da Funai”, o evento reuniu lideranças indígenas, servidores e indigenistas sob discurso de reconstrução e fortalecimento da instituição, celebrando a ocupação de espaços estratégicos da política brasileira pelos povos originários em 2023.
Além da futura presidente da Funai, estiveram presentes a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, a deputada federal eleita pelo Estado de Minas Gerais Célia Xakriabá, o cacique Raoni Metuktire e outros nomes de destaque, como Eloy Terena, Júlio Yanomami, Agnelo Xavante, o pajé Tanawy Xukuru Kariri e Weibe Tapeba, que será secretário de Saúde Indígena do Governo Lula.
Em seu discurso, a futura presidente se comprometeu a atuar de forma coletiva e transparente. Sob gritos de “demarcação já” entoados pelos presentes, mencionou priorizar a criação de Grupos Técnicos (GT) que procedem à primeira fase do processo demarcatório, os estudos de identificação. Relembrou, ainda, o falecimento do indigenista Bruno Pereira e de indígenas vítimas de ataques, como os Pataxó e Guarani, além dos Yanomami, que correm constante risco devido à escalada do garimpo ilegal.