O corpo do Papa emérito Bento XVI foi sepultado nesta manhã de quinta-feira (5) no Vaticano, em uma cerimônia presidida pelo Papa Francisco e sob intenso nevoeiro que cobriu Roma e o Vaticano. Bento XVI, que morreu no último sábado (31), aos 95 anos, foi sepultado na cripta vaticana às 9h30 (horário de Roma), que pelo horário de Brasília era 5h30. Além do atual Papa Francisco, a concelebração contou com a presença de 120 cardeais, mais de 400 bispos e quatro mil sacerdotes. Mais 100 mil fiéis e 1.100 jornalistas credenciados acompanharam a cerimônia fúnebre.
No entanto, a imprensa europeia registrou que poucos líderes mundiais compareceram ao sepultamento e quase nenhum da América Latina. No velório compareceram o presidente da Itália, Sergio Mattarella; o presidente polonês, Andrzej Duda, e seu primeiro-ministro, Mateusz Morawiecki; a presidente húngara, Katalin Novàk; e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban. No funeral compareceu a rainha Sofia da Espanha; rei Felipe da Bélgica; além dos presidentes de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa e a eslovena Natasa Pirc Musar.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden preferiu enviar o embaixador americano na Santa Sé, Joe Donnelly, como seu representante. O vizinho presidente da França, Emmanuel Macron não foi e enviou seu ministro do Interior, Gérald Darmanin como representante. Da América Latina, apenas a Colômbia enviou um funcionário de governo graduado ao Vaticano, através do ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Alvaro Leyva. Os demais se limitaram enviar o embaixador de seus países, que fica sediado no próprio Vaticano.
Como foi o funeral
Segundo a agência de notícias Vatican News, o funeral seguiu o protocolo de um Papa reinante, com algumas modificações. Na homilia, o Papa Francisco comentou a leitura extraída de Lucas 23, 46, de modo especial a seguinte frase: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”.
“São as últimas palavras que o Senhor pronunciou na cruz; quase poderíamos dizer, o seu último suspiro, capaz de confirmar aquilo que caraterizou toda a sua vida: uma entrega contínua nas mãos de seu Pai. Mãos de perdão e compaixão, de cura e misericórdia, mãos de unção e bênção”, disse Francisco. Ele citou Bento uma única vez, no final, mas as referências são extraídas de textos do Papa emérito: a Encíclica “Deus caritas est”, a homilia na Missa Crismal de 2006 e a missa do início do seu pontificado.
Para Francisco, Bento XVI cultivou a consciência do pastor que não pode carregar sozinho aquilo que, na realidade, nunca poderia sustentar sozinho e, por isso, soube abandonar-se à oração e ao cuidado do povo que lhe está confiado. “É o Povo fiel de Deus que, congregado, acompanha e confia a vida de quem foi seu pastor. E o faz com o perfume da gratidão e o unguento da esperança, com a mesma unção, sabedoria, delicadeza e dedicação que o Papa emérito soube dispensar ao longo dos anos”, completou o atual Papa.
1802, o último funeral de um Papa celebrado pelo seu sucessor
A cerimônia do funeral de Bento XVI na Praça de São Pedro teve como precedente mais recente o que aconteceu com Pio VI, que morreu no exílio em Valence, em 1799, como prisioneiro do ditador francês Napoleão Bonaparte. Três anos depois, quando seus restos mortais foram trazidos de volta a Roma, foi realizado um funeral solene celebrado por Pio VII, lembra a Vatican News.
Essa última cerimônia semelhante com a que ocorreu nesta quinta-feira aconteceu em fevereiro de 1802, com o solene funeral de Pio VI, celebrado na Basílica de São Pedro por seu sucessor Pio VII. Pio VI, que nasceu com o nome de Giannangelo Braschi (Cesena 1717 – Valence 1799), foi eleito pontífice em 1775, depois de um longo reinado faleceu no exílio na França, prisioneiro de Napoleão. O funeral foi realizado em Valence, imediatamente após sua morte, enquanto os “novendiali” (os nove dias de missas de sufrágio antes do início da votação no conclave) foram realizados em Veneza, na cidade onde os cardeais se reuniram para eleger o sucessor.
Pio VII, eleito em 14 de março de 1800, mandou vir os restos mortais de seu predecessor de volta a Roma. A exumação foi feita em dezembro de 1801 e os restos mortais saíram de Valence para Marselha e de lá de navio para Gênova. Ao desembarcar na Itália, o corpo do Pontífice exilado começou uma triunfante peregrinação, com solenes exéquias celebradas em cada etapa da viagem. Em 17 de fevereiro de 1802, aconteceu “a magnífica entrada triunfal em Roma”, com os cardeais aguardando os restos mortais na Ponte Milvio. A solene cerimônia fúnebre foi celebrada na Basílica de São Pedro com a presença do Papa Pio VII.
Porém os restos de Pio VI não tiveram paz: o coração e o “precórdio” (antigo nome para os órgãos e formações anatômicas da cavidade torácica que circunda o coração, considerados a sede dos afetos, dos sentimentos e da sensibilidade) de Pio VI foram levados de volta a Valence, a pedido explícito do governo de Paris, em uma longa viagem de retorno através de várias paradas na França em 1802. Mas em 1811 o coração foi novamente devolvido a Roma.