fbpx
Início > Garimpeiros brasileiros invadem a Guiana em busca de ouro e ONG pede intervenção de Macron

Garimpeiros brasileiros invadem a Guiana em busca de ouro e ONG pede intervenção de Macron

A mesma destruição da natureza e o envenenamento dos rios nos territórios dos índios brasileiros, é pratica pelos garimpeiros neste Parque Amazónico da Guiana Francesa | Foto: Divulgação/WWF France

A ONG internacional WWF (World Wide Fund for Nature), através do chefe do escritório na Guiana Francesa, Laurent Kelle, ao presidente francês, Emmanuel Macron, uma “ação diplomática urgente” com o Brasil e o Suriname contra o garimpo ilegal de ouro, uma fonte de poluição significativa na Guiana Francesa. Os criminosos brasileiros têm invadido o departamento ultramarino da França, que em uma faixa de 730 quilômetros faz fronteira com o Estado brasileiro do Amapá.

Os invasores brasileiros vêm provocando no território francês o desmatamento, poluição e o empenamento das águas com mercúrio e transformando a região fronteiriça com o Brasil e o Suriname em área devastada. “Apesar das múltiplas intervenções para combater a extração ilegal de ouro na Guiana Francesa, a situação permanece muito preocupante, especialmente na bacia do Maroni. A WWF França apela ao Presidente Emmanuel Macron a tomar medidas diplomáticas urgentes para reforçar a cooperação entre o Brasil, o Suriname e a França”, diz o comunicado ao presidente francês.

Área impactada pelos criminosos brasileiros em busca do ouro ilegal (em laranja) na bacia do Maroni (em azul) entre 2001 e 2018 | Imagem:-WWF France

Onde o crime ambiental ocorre

“O Rio Maroni está a morrer”, afirma a ONG internacional. Em dezembro passado, o conselho científico do Parque Amazônico da Guiana Francesa, o maior parque nacional da França e da Europa, alertou para o Estado do Rio Maroni, localizado entre o Suriname e a Guiana Francesa se encontra devastado pela extração ilegal de ouro. Apesar dos compromissos assumidos, dos recursos despendidos na Guiana Francesa e dos numerosos avisos de associações e cientistas, a extração ilegal de ouro continua a um nível elevado. Em quinze anos, o número de hectares afetados na bacia transfronteiriça de Maroni aumentou quase dez vezes: de 4.800 hectares afetados em 2001 contra 45.000 em 2018.

A extração ilegal de ouro não afeta apenas as florestas, mas também polui a água do rio e dos seus afluentes. O mercúrio, um metal que é proibido na Guiana Francesa, ainda é comumente utilizado por uma maioria de garimpeiros brasileiros em busca do ouro ilegal. Durante uma missão realizada no final de janeiro de 2023, equipes da WWF França na Guiana Francesa mediram altos níveis de turbidez (sedimentos na água) em vários afluentes do Maroni – uma média de 900 unidade de medida de turbidez (NTU), em comparação com menos de 10 NTU para água de boa qualidade – um sinal de intensa atividade ilegal de extração de ouro a montante. Lançado nos ecossistemas, o mercúrio entra nas cadeias alimentares das regiões mineiras de ouro, contaminando as populações dos rios Maroni e Lawa que vivem e dependem destes ecossistemas, informa a entidade.

Divisa do Brasil com o Departamento Ultramarino da França. a Guiana Francesa, fica em local deserto e com vigilância frágil | Fotos: Redes sociais

Maioria dos garimpeiros são do Brasil e o equipamento vem do Suriname

“O Brasil, o Suriname e a França devem mobilizar-se em conjunto contra este flagelo sanitário, social e ambiental”, cobra a ONG. Na bacia do Maroni, a chave para este tráfego é a cooperação transfronteiriça: 95% do pessoal envolvido na exploração ilegal do ouro são provenientes do Brasil e 80% da logística é transportada a partir das margens do rio Maroni no Suriname. Pôr fim à exploração ilegal do ouro exige, portanto, necessariamente uma resposta estatal a nível do Suriname, do Brasil e da França, reforça a entidade no documento enviado a Macron.

Laurent Kelle ainda lembra no documento que durante visita que o presidente francês fez ao território ultramarino, em outubro de 2017, ele fez a seguinte a observação: “Devemos, portanto, condicionar a nossa ajuda e as relações diplomáticas com os nossos dois vizinhos, em particular, à cooperação policial e judicial contra a extração ilegal de ouro.

“A exploração ilegal de ouro continua a ser uma triste realidade em torno do rio Maroni, na fronteira. Missão após missão, somos confrontados com margens e florestas destruídas, águas poluídas e populações diretamente afetadas. E temos de admitir que os compromissos assumidos ainda não nos permitiram inverter a tendência. Contudo, a questão da extração ilegal de ouro não é insolúvel: a curto prazo, é absolutamente necessário que a França prossiga os seus esforços para combater e monitorizar o problema, mas isto não será suficiente. A médio e longo prazos, a solução reside na cooperação transfronteiriça, que a WWF tem vindo a solicitar há anos. O Brasil, o Suriname e a França devem trabalhar em conjunto contra este flagelo sanitário, social e ambiental”, completou.