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Homenagem ao fiscal desconhecido que segurou o suborno a Bolsonaro

Segundo as reportagens, o Almirante deu carteirada, depois o Itamaraty, depois os Bolsonaro, mas o colar permaneceu na alfândega
Reprodução Esradão

Reprodução/Jornal GGN/Luis Nassif

Na adolescência, uma das histórias que me tocou foi a de um guarda de trânsito inglês, que multou um carro da Rainha. Em plena ditadura brasileira, a ideia de uma democracia em que a própria Rainha era multada era um alento.

No episódio do suborno da Arábia Saudita aos Bolsonaro, transportado por uma “mula” graduada – o Almirante Bento Albuquerque – não apareceu o nome do único herói dessa trama, o fiscal anônimo que impediu o transporte da mercadoria.

Segundo as reportagens, o Almirante deu carteirada, depois o Itamaraty, depois os Bolsonaro, mas o colar permaneceu na alfândega, como prova inconteste do suborno pago.

Não é o primeiro caso que conheço de fiscal que cumpre seu dever.

Anos atrás, o Banco Santander montou uma operação destinada a reduzir o imposto de renda a pagar. Criou uma subsidiária que só dava prejuízo e, na consolidação de resultados, servia para abater o IR.

Um fiscal abriu um inquérito. Foi parar na Justiça. Nesse ínterim, o fiscal se aposentou, mas não largou o inquérito. Apresentou-o na forma de ação popular. O fiscal morreu e a causa foi assumida pelo Ministério Público Federal.

Chegou ao Superior Tribunal de Justiça e foi anulada. Motivo alegado: não haviam sido pagas as custas de 700 e poucos reais. A ação era de um bilhão de reais. Nem adiantou argumentar que o MPF está isento deste pagamento. A ação foi anulada e algum escritório de advocacia regiamente premiado.

Quando denunciei as falcatruas de Saulo Ramos, então Ministro de Sarney, um fiscal aposentado do Banco Central me procurou para entregar o inquérito da Financeira Ideal, onde as digitais de Saulo estavam nítidas. O inquérito parou no MPF, nas mãos de um procurador que, tempos depois, foi nomeado para o Tribunal Regional Federal, Pedro Rotta.

É hora de associações do setor levantarem essas histórias e alimentarem um monumento ao fiscal desconhecido.

Deu no Nascif: Leia os comentários dos leitores

Leitor 1: “Um fato que chama a atenção: Boçalnaro não tentou afastar o(s) fiscal(ais) da RF em Guarulhos. Afinal, já afastara vários delegados da PF quando alguma investigação chegava perto dele ou dos filhos.”

Leitor 2: “A fiscal que multou o juiz perdeu o emprego e ainda foi processada. O fiscal que multou o bolsonaro por pescar em águas proibidas, perdeu o emprego, o procurador da Sathia Graha que pretendeu ser o carcereiro do banqueiro ladrão, perdeu o emprego, teve que sair do país e ainda responde a processo. O servidor público deve servir, antes de tudo, ao poder, onde ele é apenas um instrumento a serviço dele. Não adianta querer fazer cumprir as leis. As leis devem ser cumpridas pelos comuns; para os poderosos as leis devem ser desafiadas porque ao final, são eles que as fazem.”

Leitor 3: “Resta saber se esse bravo funcionário público nao foi também demitido, como foi o fiscal do Ibama que multou o Bolsonaro por pesca ilegal!”

Leitor 4: “A famiglia tem que pedir a refinaria de volta, visto que não receberam o suborno que tinha que entrar já com os impostos recolhidos. Assim não pode, assim não dá rsrsr.”

Leitor 5: “Não daria pra investigar os 39 kg de coca junto com esse inquérito ai.”