No Brasil, usuários do TikTok que fazem críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro estão reclamando de que suas contas são desativadas ou bloqueadas pelo aplicativo chinês
A rede social chinesa TikTok, que vem recebendo muitas reclamações de usuários brasileiros por desativar ou bloquear perfis que fazem críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está sofrendo retaliações dos governos americano e canadense. Na última semana, um dia após a decisão dos Estados Unidos e do Canadá, O Parlamento Europeu decidiu proibir o uso do aplicativo da rede social de vídeos curtos em telefones e dispositivos de serviço de seus funcionários e dos eurodeputados e recomendou que ele não seja instalado em aparelhos pessoais. A suspeita é que o TikTok coleta informações de seus usuários.
O Parlamento Europeu justificou a decisão como sendo uma medida de segurança. Em nota, a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Mesola, e o secretário-geral, Alessandro Chiocchetti, afirmaram que a proibição do aplicativo chinês em celulares, tablets e laptops de serviço começa a partir de 20 de março.
“A partir desta data, o acesso ao TikTok na nossa rede corporativa também será bloqueado”, acrescenta o texto enviado aos cerca de 8 mil funcionários da instituição. A nota recomenda ainda que o aplicativo também seja removido de dispositivos pessoais e destaca que a decisão levou em conta “preocupações com cibersegurança” em relação à proteção e coleta de dados.
Anteriormente, a Comissão Europeia, que atua como como um braço executivo do bloco europeu, já havia proibido funcionários de usarem o TikTok em telefones de serviço, assim como em aparelhos pessoais que utilizem aplicativos corporativos. Para americanos, canadenses e europeus, as proibições do aplicativo ocorrem em reação a suspeitas de ingerência da China na plataforma. A chinesa ByteDance, proprietária do aplicativo, nega essas acusações.
Questionamentos
O Grafitti News entrou em contato com a Assessoria de Imprensa do TiKTok, através do e-mail press@bytedance.com , mas até o fechamento dessa edição não obteve retorno. Assim que a resposta for recebida, este texto será atualizado. Foram feitos, no idioma inglês. os seguintes questionamentos:
1) Há reclamações de que contas do Tiktok estão sendo desativadas ou bloqueadas, no Brasil, por motivos políticos, entre os usuários que fazem críticas ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Há alguma orientação da empresa proprietária do TikTok para vetar quem fizer postagens a favor do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva?
2) Qual é o critério do TikTok para banir contas que fez críticas ao ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro?
3) O TikTok não teme que, ao desativar essas contas por motivo político, possa interferir negativamente para a empresa, em momento que o Brasil se prepara para regulamentar as redes sociais?
4) Como o TikTok vê a proibição para que funcionários públicos dos Estados Unidos, Canadá e da Europa não utilizem mais essa rede social, por suspeita de espionagem?
5) Como o TikTok vê o debate, nos Estados Unidos, de banir essa rede social?
“TikTok assusta”, diz especialista européia
Em entrevista à imprensa europeia, Roxane Suau, diretora de marketing da Pradeo, empresa de segurança de smartphones e aplicativos, diz acreditar que a preocupação dos governos ocidentais é plausível. “O TikTok assusta porque coleta muitos dados pessoais dos usuários, como e-mails, números de telefone, mas também informações sobre a navegação na web dos usuários, o que pode ser visto como muito intrusivo para alguns”, explica.
Mas por que a súbita preocupação das autoridades com o aplicativo neste momento? Roxane Suau não tem a resposta exata, mas traça uma hipótese. “Sabemos que os aplicativos móveis fazem frequentemente atualizações de seus programas, e talvez tenha ocorrido nos últimos dias uma atualização que tenha mudado os dados coletados pelo aplicativo, fazendo os governos reagirem”, diz.
Para a especialista em segurança de dispositivos eletrônicos governamentais, essa é apenas a ponta do iceberg. Ela acredita que, nos próximos dias, vários outros países seguirão o exemplo dos Estados Unidos e da Europa. “Para o TikTok, isso pode resultar em um impacto forte em sua imagem e em uma diminuição no número de usuários, se o grande público estiver a par dos acontecimentos”, prevê.