Por Ingrid Castilho/Comunicação do CFC
O tema “O protagonismo feminino no cenário pós pandemia” abriu a programação de palestras do Conexão Contábil, edição Centro-Oeste, em Campo Grande, nesta semana. Marcado por dados e experiências sobre empreendedorismo feminino, as palestrantes abordaram os desafios e as soluções encontradas por mulheres para abrir, gerir e dar continuidade aos próprios negócios, além de ocuparem cargos de liderança nos mercados e se tornarem inspiração para outras pessoas.
O painel foi moderado pela presidente da Abracicon, Maria Clara Bugarim, e teve como debatedora a presidente do Conselho Regional de Contabilidade de Goiás (CRCGO), Sucena Hummel.
Inspiração
O primeiro relato foi da CEO da Empoderamento Contábil, Ludmila da S. Hastenreiter. Em 2017, a contadora criou sua empresa com o intuito de alavancar negócios em comunidades semelhantes as quais cresceu. Para Ludmila, sempre existiu um grande potencial de empreendedorismo em bairros periféricos, encabeçados especialmente por mulheres negras, que por muitas vezes ficam na informalidade por falta de entendimento. Ela explicou que deixou de trabalhar em grandes empresas para “justamente democratizar o conhecimento de gestão financeira e contabilidade e mostrar os benefícios que essas microempreendedoras têm ao formalizarem e estruturarem melhor suas atividades”.
A CEO também ressaltou que sente orgulho de ser empreendedora e fazer parte da classe contábil, principalmente por ser uma mulher negra e com esse trabalho estar ocupando um cargo de liderança, que antes só era ocupados por homens. “A nossa representatividade também vem da nossa competência profissional. Se aperfeiçoando e se adaptando às mudanças que o mercado tem exigido de nós”, disse.
A fim de completar a fala, a presidente do CRCGO, explicou que o empoderamento feminino não é uma moda. Para ela, a pandemia acelerou o processo de mostrar para os brasileiros, a potência que é o empreendedorismo feminino. “Você fala justamente sobre a formalização do negócio para abrir portas às linhas de crédito. Na maioria das vezes, as empresárias são a principal renda da família. Por isso é importante estar formalizada e ter acesso às políticas públicas de financiamento e de crédito”, pontuou a presidente.
Soluções para o empreendedorismo
A fim de fomentar o empreendedorismo feminino no Brasil, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas criou, em 2019, o Sebrae Delas, cuja sigla significa “Desenvolvendo Empreendedoras Líderes Apaixonadas pelo Sucesso”. Essa ação e a visão de mercado mundial sobre o protagonismo profissional das mulheres foi tema da participação da analista técnica da instituição, Maristela França.
Durante a palestra, Maristela explicou que o empreendedorismo está ligado a uma tendência mundial: a ascensão feminina. Os dados são da pesquisa do Euromonitor International, que apresenta as “10 Principais Tendências Globais de Consumo 2023”. Neste campo, o relatório informa que os consumidores se recusam a permanecer em silêncio sobre a desigualdade de gênero, representação justa, equidade e inclusão. Esses temas, inclusive, estão na vanguarda das decisões de compra das mulheres.
“A ascensão feminina é uma pauta internacional, nas instituições nacionais e estrangeiras. É uma pauta que traz a questão de igualdade, de nós estarmos em outros espaços, mas traz também a questão da produtividade das mulheres. Média e grandes empresas estão estudando como de elevar do nível gerencial, as mulheres para carreiras CEOs”, afirmou Maristela.
Liderança
A diretora jurídica e de Desenvolvimento de Negócios da AstraZeneca, Angelica Ravagnani, compartilhou a sua experiência de liderança na empresa, em especial, durante a pandemia. A AstraZeneca foi uma das primeiras vacinas a chegar no Brasil em meio à crise mundial de Covid-19 e foi ela a responsável por fechar os contratos com a Fiocruz na época.
Para Angelica, “a pandemia foi devastadora e construtora ao mesmo tempo”. Ela destacou que o momento trouxe consequências como perda de emprego e aumento da carga de cuidados e de violências domésticas. Mas, também teve efeitos positivos como flexibilidade no trabalho e um progresso acelerado em relação a igualdade de gênero.
“Diferenças de longas datas que eram enterradas, começaram a vir à tona porque em paralelo, muitos homens perderam seus empregos e as mulheres assumiram a chefia das famílias. Você trocou quem era o provedor, mudou o protagonista”, falou a diretora.
Angelica também falou sobre o valor que o tempo passou a ter para as pessoas. Ela destacou uma fala do ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica que diz que “quando compramos algo, não compramos com dinheiro. Compramos com o tempo que tivemos que gastar para ter esse dinheiro”. Essa afirmação fez ela e muitas pessoas pensarem sobre como estavam levando suas vidas, em meio à pandemia.
A reflexão de Angelica acompanhou a fala da presidente da Abracicon, Maria Clara que finalizou o painel agradecendo os participantes do evento e as falas das protagonistas, que foram muito motivadoras. Ela também propôs uma outra análise sobre a alegria das mulheres em suas vidas e carreiras profissionais. “Nós precisamos continuar estudando, se colocando com muita responsabilidade nos locais de poder e contribuindo com um mundo melhor. Mas, a essência feminina deve estar ligada principalmente à felicidade”, finalizou.