Estudo da Organização Meteorológica Mundial adverte que últimos oito anos foram os mais quentes já registrados, com o aumento do nível do mar e o aquecimento dos oceanos atingindo novos recordes; agravamento das mudanças climáticas trouxe mais secas, inundações e ondas de calor para várias partes do mundo, ameaçando vidas e meios de subsistência
O relatório da Organização Meteorológica Mundial, OMM, alerta que os últimos oito anos foram os mais quentes já registrados. Além disso, o aumento do nível do mar e o aquecimento dos oceanos atingiram novos recordes.
No documento publicado nesta sexta-feira, a agência da ONU aponta que o agravamento da mudança climática trouxe mais secas, inundações e ondas de calor em diversos lugares do mundo. As consequências são ameaçadoras para vida e para os meios de subsistência.
No Espírito Santo, número de evento extremos de temperatura triplicaram em 40 anos
O aquecimento global já é realidade no Espírito Santo, onde o número de eventos extremos triplicou em 40 anos, segundo um estudo inédito realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O estudo, publicado pelo Grafitti News na última quinta-feira (27) e que pode ser conferido clicando neste link. Eventos extremos ligados ao aumento de temperatura triplicou no Espírito Santo e dobrou em São Paulo e no Rio Grande do Sul, com possíveis impactos para a saúde e o agronegócio. “A mudança climática já está aqui”, comenta pesquisador.
Temperatura global
Com a recente comemoração do Dia Internacional da Mãe Terra, que ocorreu no último dia 22 de abril, o levantamento da OMM ecoou junto o apelo do secretário-geral da ONU, António Guterres, por “cortes de emissões mais profundos e rápidos para limitar o aumento da temperatura global a 1,5º grau Celsius”.
O chefe das Nações Unidas também pede pelo “aumento massivo de investimentos em adaptação e resiliência, particularmente para os países e comunidades mais vulneráveis que menos fizeram para causar a crise”.
O secretário-geral da OMM, Petteri Taalas, disse que em meio ao aumento das emissões de gases de efeito estufa e às mudanças climáticas, “as populações em todo o mundo continuam a ser gravemente afetadas por eventos climáticos e climáticos extremos”.
Ele enfatizou que, no ano passado, “a seca contínua na África Oriental, chuvas recordes no Paquistão e ondas de calor recordes na China e na Europa afetaram dezenas de milhões, causaram insegurança alimentar, impulsionaram a migração em massa e custaram bilhões de dólares em perdas e danos”.
Alerta precoce
A OMM destaca a importância de investir no monitoramento climático e nos sistemas de alerta precoce para ajudar a mitigar os impactos humanitários do clima extremo. O relatório também aponta que atualmente, a tecnologia aprimorada torna a transição para a energia renovável “mais barata e mais acessível do que nunca”.
Os dados divulgados pela OMM complementam o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, Ipcc, do último mês, que inclui dados até 2020.
Os novos números mostram que as temperaturas globais continuaram a subir, tornando os anos de 2015 a 2022 os oito mais quentes desde o início do rastreamento regular em 1850. A OMM observa que isso ocorreu apesar de três anos consecutivos de resfriamento do padrão climático La Niña.
Gases de efeito estufa
A OMM diz que as concentrações dos três principais gases do efeito estufa, que retêm o calor na atmosfera – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – atingiram níveis recordes em 2021, que é o último ano com dados consolidados disponíveis, e que há indicações de um aumento contínuo em 2022.
Segundo o relatório, “o derretimento das geleiras e o aumento do nível do mar – que novamente atingiu níveis recordes em 2022 – devem seguir por milhares de anos”. A OMM destaca que o gelo do mar Antártico caiu em sua menor extensão já registrada e o derretimento de algumas geleiras europeias foi, muito além do esperado.
A elevação do nível do mar, que ameaça a existência de comunidades costeiras e às vezes de países inteiros, foi alimentada não apenas pelo derretimento de geleiras e calotas polares na Groenlândia e na Antártida, mas também pela expansão do volume dos oceanos devido ao calor.
A OMM observa que o aquecimento dos oceanos tem sido “particularmente alto nas últimas duas décadas”.
Consequências mortais
O relatório também examina os impactos socioeconômicos do clima extremo, que causam impactos negativos na vida dos mais vulneráveis em todo o mundo. Cinco anos consecutivos de seca na África Oriental, em conjunto com outros fatores, como conflitos armados, trouxeram insegurança alimentar para 20 milhões de pessoas em toda a região.
Extensas inundações no Paquistão causadas por fortes chuvas em julho e agosto do ano passado mataram mais de 1,7 mil pessoas e cerca de 33 milhões foram afetadas. A OMM destaca que os danos totais e as perdas econômicas foram avaliados em US$ 30 bilhões e que, até outubro de 2022, cerca de 8 milhões de pessoas foram deslocadas internamente pelas enchentes.
Segundo o levantamento, além de deslocar dezenas de pessoas, ao longo do ano, o clima perigoso e os eventos relacionados ao clima “pioraram as condições” para muitos dos 95 milhões de pessoas que já tiveram que deixar suas casas.
Ameaça aos ecossistemas
Os impactos ambientais das mudanças climáticas são outro foco do relatório, que destaca uma mudança nos eventos recorrentes na natureza. O florescimento das cerejeiras no Japão é rastreado desde o século 9 e, em 2021, a data foi antecipada em1,2 mil anos.
Como resultado dessas mudanças, ecossistemas inteiros podem ser destruídos. A OMM observa que os tempos de chegada da primavera de mais de cem espécies de aves migratórias europeias ao longo de cinco décadas “mostram níveis crescentes de incompatibilidade com outros eventos da estação”, como o momento em que as árvores produzem folhas e os insetos voam, que são importantes para a sobrevivência das aves.
O relatório diz que essas incompatibilidades “provavelmente contribuíram para o declínio populacional de algumas espécies migratórias, particularmente aquelas que invernam na África subsaariana” e para a destruição contínua da biodiversidade.
O que diz a OMM
Do topo das montanhas às profundezas dos oceanos, as alterações climáticas continuaram a avançar em 2022, de acordo com o relatório anual da Organização Meteorológica Mundial (OMM). Secas, inundações e ondas de calor afetaram comunidades em todos os continentes e causaram perdas no valor de muitos milhares de milhões de dólares. A extensão do gelo marinho da Antártida recuou para mínimos históricos e o degelo de alguns glaciares europeus atingiu níveis sem precedentes.
O relatório “State of the World’s Climate 2022” destaca as alterações à escala global nas zonas terrestres, nos oceanos e na atmosfera causadas por níveis recorde de gases com efeito de estufa que retêm o calor. Em termos de temperatura global, o período de 2015 a 2022 foi o oito anos mais quente de que há registo, apesar do efeito de arrefecimento de um episódio de La Niña durante os últimos três anos. O degelo dos glaciares e a subida do nível do mar – que voltou a atingir níveis recorde em 2022 – vão continuar durante milhares de anos.
“As emissões de gases com efeito de estufa continuam a aumentar e o clima continua a mudar, enquanto as populações de todo o mundo continuam a ser gravemente afetadas por fenómenos meteorológicos e climáticos extremos. Por exemplo, em 2022, a seca persistente na África Oriental, as chuvas sem precedentes no Paquistão e as ondas de calor recorde na China e na Europa afetaram dezenas de milhões de pessoas, causando insegurança alimentar, impulsionando a migração em massa e causando milhares de milhões de dólares em perdas e danos”, afirmou o Secretário-Geral da OMM, Professor Petteri Taalas.
“No entanto, a colaboração entre as agências da ONU provou ser altamente eficaz na abordagem das consequências humanitárias de fenómenos meteorológicos e climáticos extremos, especialmente em termos de redução da mortalidade e das perdas económicas associadas. O objetivo da iniciativa “Alerta Rápido para Todos” da ONU é colmatar as atuais lacunas de capacidade para garantir que todos os habitantes da Terra estejam protegidos por serviços de alerta rápido. Atualmente, cerca de 100 países não dispõem de serviços meteorológicos adequados. Para levar a cabo esta ambiciosa tarefa, é necessário melhorar as redes de observação e investir nas capacidades dos serviços hidrológicos, climáticos e de alerta precoce”, afirmou.
O novo relatório da OMM é acompanhado de vários gráficos que fornecem aos decisores políticos as informações sobre a evolução dos indicadores das alterações climáticas e mostram também como as tecnologias melhoradas estão a tornar a transição para as energias renováveis mais económica e acessível do que nunca.
Para além dos indicadores climáticos, o relatório presta especial atenção aos impactos. O aumento da subnutrição foi exacerbado pelos efeitos combinados dos riscos hidrometeorológicos e da pandemia da doença do coronavírus (Covid-19), bem como da violência e dos conflitos prolongados.
Ao longo do ano, segundo o relatório, os fenómenos meteorológicos e climáticos perigosos provocaram novas deslocações de populações e agravaram as condições de muitos dos 95 milhões de pessoas já deslocadas no início do ano.
O relatório também dá ênfase aos ecossistemas e ao ambiente, descrevendo a forma como as alterações climáticas estão a afetar fenómenos recorrentes na natureza, como o período de floração das árvores ou a migração das aves.
O relatório da OMM sobre o estado do clima no mundo foi publicado antes do Dia da Terra de 2023. As suas principais conclusões refletem a mensagem do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, por ocasião do Dia da Terra.
“Temos as ferramentas, os conhecimentos e as soluções. Mas temos de atuar mais rapidamente. Temos de acelerar a ação climática com reduções de emissões mais profundas e mais rápidas para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C. Temos também de aumentar drasticamente os investimentos na adaptação e na resiliência, em especial para os países e comunidades mais vulneráveis, que têm menos acesso ao financiamento climático. Temos também de aumentar drasticamente os investimentos na adaptação e na resiliência, em particular para os países e comunidades mais vulneráveis, que foram os que menos contribuíram para a crise”, afirmou António Guterres.
O relatório da OMM segue-se à publicação do relatório sobre o estado do clima na Europa, elaborado pelo serviço da União Europeia para as alterações climáticas, Copernicus. Este relatório complementa o Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC), que inclui dados até 2020.
O relatório contém contribuições de dezenas de peritos, incluindo os Serviços Meteorológicos e Hidrológicos Nacionais (NMHS) e centros de dados e análises globais, bem como Centros Regionais do Clima, o Programa Mundial de Investigação Climática (WCRP), o Observatório Global da Atmosfera (GAW), o Observatório Global da Criosfera (GCW) e o serviço de alterações climáticas Copernicus gerido pelo Centro Europeu de Previsão do Tempo a Médio Prazo (ECMWF).
Os parceiros da ONU incluem a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), a Organização Internacional para as Migrações (OIM), o Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o Gabinete das Nações Unidas para a Redução do Risco de Catástrofes (UNDRR) e o Programa Alimentar Mundial (PAM).
Indicadores climáticos
A temperatura média global em 2022 foi 1,15 [1,02 a 1,28] °C superior à média do período 1850-1900. O período de 2015 a 2022 foi o oitavo ano mais quente de que há registo, com base em registos instrumentais desde 1850. 2022 foi o quinto ou sexto ano mais quente. Isto apesar de três anos consecutivos de arrefecimento devido a um “episódio triplo” de La Niña, que só ocorreu três vezes nos últimos 50 anos.
As concentrações dos três principais gases com efeito de estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – atingiram os níveis mais elevados alguma vez observados em 2021, o último ano para o qual estão disponíveis valores globais consolidados (1984-2021). O aumento anual da concentração de metano de 2020 para 2021 foi o mais elevado desde que há registos. Os dados em tempo real de locais selecionados indicam que os níveis dos três gases com efeito de estufa continuaram a aumentar em 2022.
Os glaciares de referência para os quais existem observações a longo prazo registaram uma variação média de espessura superior a -1,3 metros entre outubro de 2021 e outubro de 2022. Trata-se de uma perda muito maior do que a média da última década. Seis dos dez anos com os balanços de massa mais negativos de que há registo (1950-2022) foram registados a partir de 2015. A perda acumulada de espessura desde 1970 é de quase 30 metros.
Nos Alpes europeus, o degelo dos glaciares atingiu valores recorde devido a uma combinação de baixa queda de neve no Inverno, uma intrusão de poeiras do Sara em março de 2022 e ondas de calor entre maio e o início de setembro.
Na Suíça, 6 % do volume de gelo dos glaciares perder-se-á entre 2021 e 2022, e um terço entre 2001 e 2022. Pela primeira vez na história, nenhuma neve sobreviveu à época de degelo do Verão, mesmo nos locais de medição mais elevados, pelo que não houve acumulação de gelo fresco. Um balão meteorológico suíço registou 0 °C a uma altitude de 5 184 m em 25 de julho, a linha de zero graus mais altos registados em 69 anos, e apenas a segunda vez que a altitude da linha de zero graus ultrapassou os 5 000 m. Foram estabelecidos novos recordes de temperatura no cume do Monte Branco.
As medições dos glaciares nas zonas de alta montanha da Ásia, da América do Norte ocidental, da América do Sul e de partes do Ártico revelam também perdas consideráveis de massa glaciar. Na Islândia e no norte da Noruega, registaram-se alguns aumentos de massa associados a precipitação acima da média e a um Verão relativamente fresco.
De acordo com o PIAC, a perda global de gelo dos glaciares excedeu 6 000 Gt durante o período 1993-2019. Este valor representa um volume de água equivalente ao de 75 lagos do tamanho do Lago de Genebra, o maior lago da Europa Ocidental.
O manto de gelo da Groenlândia terminou com um balanço de massa total negativo pelo 26º ano consecutivo.
O gelo marinho antártico diminuiu para 1,92 milhões de km2 em 25 de fevereiro de 2022, o nível mais baixo de que há registo e quase 1 milhão de km2 abaixo da média de longo prazo (1991-2020). Durante o resto do ano, esteve continuamente abaixo da média, com mínimos recorde em junho e julho.
Em setembro, no final do degelo estival, o gelo marinho do Ártico atingiu a 11ª extensão mínima mensal mais baixa de que há registo por satélite.
O teor de calor dos oceanos atingiu um novo máximo histórico em 2022. Cerca de 90% da energia retida no sistema climático pelos gases com efeito de estufa acaba nos oceanos, o que atenua parte do aumento da temperatura, mas apresenta riscos para os ecossistemas marinhos. A taxa de aquecimento dos oceanos tem sido particularmente elevada nas últimas duas décadas. Apesar da persistência de condições características de um episódio de La Niña, 58% da superfície oceânica registou pelo menos uma onda de calor marinha em 2022.
O nível médio global do mar continuou a subir em 2022, atingindo um novo recorde desde que existem registos de altímetros por satélite (1993-2022). A taxa de subida média global do nível do mar duplicou entre a primeira década do registo de satélite (1993-2002, 2,27 mm/ano) e a última (2013-2022, 4,62 mm/ano).
Durante o período 2005-2019, a perda total de gelo continental dos glaciares, da Groenlândia e da Antártida foi responsável por 36% da subida média global do nível do mar, enquanto o aquecimento dos oceanos (através da expansão térmica) contribuiu com 55%. As alterações no armazenamento terrestre de água contribuíram com menos de 10%.
Acidificação dos oceanos: O CO₂ reage com a água do mar, resultando numa diminuição do pH, designada por “acidificação dos oceanos”, que ameaça os organismos e os serviços dos ecossistemas. O sexto relatório de avaliação do PIAC concluiu que, com um grau de confiança muito elevado, o pH da superfície do oceano aberto está agora no seu nível mais baixo desde há pelo menos 26 000 anos e que a actual taxa de alteração do pH não tem precedentes desde pelo menos essa altura.
Impactos socioeconómicos e ambientais
A seca causou estragos na África Oriental. A precipitação tem sido inferior à média durante cinco estações chuvosas consecutivas, a pior dos últimos 40 anos. Em janeiro de 2023, estimava-se que mais de 20 milhões de pessoas enfrentavam uma grave insegurança alimentar na região, devido aos efeitos da seca e de outros choques.
As chuvas recorde de julho e agosto causaram inundações generalizadas no Paquistão, matando mais de 1 700 pessoas, afetando 33 milhões e deslocando quase 8 milhões. O valor total dos danos e das perdas económicas foi estimado em 30 mil milhões de dólares. Julho (181% acima do normal) e agosto (243% acima do normal) foram os meses mais húmidos de que há registo no país.
Ondas de calor sem precedentes afetaram a Europa durante o Verão. Em algumas zonas, o calor extremo foi acompanhado de condições de seca excepcionais. O excesso de mortalidade relacionada com o calor na Europa ultrapassou as 15 000 mortes no total entre Espanha, Alemanha, Reino Unido, França e Portugal.
A China registou a mais longa e duradoura vaga de calor desde que há registos no país, que durou de meados de junho até ao final de agosto e resultou no Verão mais quente de que há registo, com uma margem de mais de 0,5°C. Foi também o segundo Verão mais seco de que há registo. Foi também o segundo verão mais seco de que há registo.
Insegurança alimentar: Em 2021, 2,3 mil milhões de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar, das quais 924 milhões em situação de insegurança alimentar grave. Estima-se que 767,9 milhões de pessoas estavam subnutridas em 2021, ou seja, 9,8 % da população mundial. Metade destas pessoas encontra-se na Ásia e um terço em África.
As vagas de calor na época que antecedeu a monção de 2022 conduziram a colheitas mais baixas na Índia e no Paquistão. Este facto, combinado com a proibição das exportações de trigo e as restrições às exportações de arroz na Índia na sequência do início do conflito na Ucrânia, ameaçou a disponibilidade e a estabilidade dos alimentos básicos nos mercados alimentares internacionais, bem como o acesso aos mesmos. Esta situação colocou igualmente grandes riscos para os países já afetados pela escassez de alimentos de base.
Deslocações: Durante o ano, cerca de 1,2 milhões de pessoas foram deslocadas internamente na Somália devido à fome e aos efeitos catastróficos da seca nos meios de subsistência pastoris e agrícolas, e mais de 60 000 pessoas atravessaram a fronteira com a Etiópia e o Quénia durante o mesmo período. Ao mesmo tempo, a Somália acolheu cerca de 35 000 refugiados e requerentes de asilo em zonas afetadas pela seca. Na Etiópia, foram registadas mais 512.000 deslocações internas relacionadas com a seca.
As inundações no Paquistão afetaram cerca de 33 milhões de pessoas, incluindo cerca de 800 000 refugiados afegãos acolhidos nos distritos afetados. Até outubro, cerca de 8 milhões de pessoas tinham sido deslocadas internamente devido às inundações e cerca de 585 000 estavam alojadas em locais de socorro.
Ambiente: As alterações climáticas têm consequências significativas para os ecossistemas e o ambiente. Por exemplo, de acordo com um estudo recente sobre a região única de elevada altitude que rodeia o Planalto Tibetano – a maior reserva de neve e gelo fora do Ártico e da Antártida – o aquecimento global está a provocar a expansão da zona temperada.
As alterações climáticas também afetam fenómenos recorrentes na natureza, como a época de floração das árvores ou a migração das aves. Por exemplo, a floração das cerejeiras no Japão está documentada desde 801 e tem vindo a ocorrer mais cedo desde o final do século XIX, devido aos efeitos das alterações climáticas e do desenvolvimento urbano. Em 2021, a data de plena floração foi 26 de março, a mais precoce de que há registo em mais de 1200 anos. Em 2022, a data de floração foi 1 de abril.
Nem todas as espécies de um ecossistema respondem às mesmas influências climáticas ou ao mesmo ritmo. Por exemplo, as datas de chegada à Primavera de 117 espécies de aves migratórias europeias, observadas ao longo de cinco décadas, revelam níveis crescentes de desfasamento com outros fenómenos primaveris, como a foliação das plantas e o voo dos insetos, que são fundamentais para a sobrevivência das aves. É provável que estes desfasamentos tenham contribuído para o declínio das populações de algumas espécies migratórias, nomeadamente as que invernam nos países da África Subsaariana.