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Entidade LGBTI+ nacional parabeniza Casagrande por veto em lei transfóbica

Atletas do time Casa dos Açores (RJ) denunciam transfobia ocorrida em novembro de 2021, durante torneio no campeonato Rota Sudeste de Vôlei Master, realizado no Sesc Guaraparino SESC de Guarapari (ES) | Vídeo: Instagram

A Aliança Nacional LGBTI+, veio a público nesta semana para agradecer e parabenizar o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB) pelo veto ao Projeto de Lei 184/2023 que estabelecia o sexo biológico como o único critério para a definição do gênero de pessoas competidoras em partidas esportivas oficiais do estado do Espírito Santo.

“Tal projeto, apresentado sem embasamento científico e com fundamentação amplamente transfóbica, foi construído sem participação da sociedade civil. Sequer foram consultados o movimento capixaba de pessoas trans e travestis. O texto do PL apresentava-se também, em desacordo com as determinações do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), sobre a temática em questão”, diz a entidade nacional. Leia a seguir a integra do veto do governador, em arquivo PDF:

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Só três votaram contra

O projeto transfóbico foi votado em meados deste mês de abril e foi noticiado pelo Grafitti News. De um total de 30 deputados estaduais no Espírito Santo, e com a exceção do presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Alexandre Marcelo Coutinho Santos, o Marcelo Santos (Podemos), que não vota, somente três deputados votaram contra o PL que denominam de transfóbico. Foram contra Camila Valadão (PSOL), Iriny Lopes (PT) e João Coser (PT).

Os outros 29 parlamentares estaduais votaram a favor ou se omitiram, saindo na hora de votação. Além dos deputados de direita e de extrema-direita, os bolsonaristas, houve voto a favor da lei de parlamentares do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Partido Democrático trabalhista (PDT), União Brasil, PSDB, Progressistas, Podemos, além dos que são declaradamente contrários aos direitos de pessoas LGBTQIA+, como os representantes do PL e Republicanos.

“O Espírito Santo parece uma ilha de exceção constitucional. Semana passada, o Legislativo estadual aprovou um projeto de intolerância religiosa na cultura e hoje, a despeito do brilhante relatório de presidenta da Comissão de Direitos Humanos, Camila Valadão, demonstrando a inconstitucionalidade da proposta, a maioria dos parlamentares aprovou uma proposta transfóbica e que, do ponto de vista da constituição e até das resoluções do STF, não encontram qualquer amparo”, disse na ocasião Iriny Lopes.

“Transfóbico e inconstucional! A Assembleia Legislativa do ES aprovou esse projeto de lei que segue a mesma cartilha de iniciativas transfóbicas pautadas em outros estados. Nosso parecer foi pela rejeição por entendermos que não podemos reproduzir a estigmatização e o preconceito com pessoas trans por total desconhecimento acerca das questões que envolvem o esporte”, disse Valadão nas redes sociais.

Transfobia

O projeto foi de autoria do deputado estadual Lucinio Castelo de Assumção, o capitão Assunção (PL), um parlamentar que vem usando tornezeleira eletrônica por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Na redação, a proposta rejeitada por Casagrande diz: “Fica determinado que o sexo biológico é o único critério definidor para a organização das equipes quanto ao gênero dos competidores em partidas esportivas oficiais no Estado do Espírito Santo, sendo vedada a atuação de transgêneros em tais equipes”.

A proposta aprovada e rejeitada estabeleceu uma “definição” própria do que seria, na opinião do parlamentar de extrema-direita, a pessoa “transgênero”. Foi esrito que esse cidadão “é a pessoa que tem identidade de gênero, ou expressão de gênero diferente do sexo biológico”. E completou: “Aos transgêneros fica garantida a participação apenas em equipes que correspondam ao seu sexo biológico”.

Aliança Nacional lembra de decisão do COI

No final de 2021, o COI (Comitê Olímpico Internacional) publicou as diretrizes para a inclusão de atletas trans em federações internacionais, no item de “não presunção de vantagem esportiva, lembra a Aliança Nacional LGBTI+ e cita a decisão: “Nenhum atleta deve ser impedido de competir ou deve ser excluído da competição com base em uma vantagem competitiva injusta não verificada, alegada ou percebida devido a suas variações de sexo, aparência física e/ou status de transgênero.”

“Além do claro teor desumanizador presente no projeto, há que se considerar o impedimento legal. A competência para legislar sobre a temática do esporte, são os órgãos esportivos, não as assembleias estaduais. Caso fosse sancionada, e houvesse respaldo legal, a lei impediria a realização de diversas modalidades esportivas no estado do Espírito Santo, já que o estado desobedeceria aos entendimentos internacionais sobre práticas esportivas”, diz a entidade em nota.

“Em seu parecer apresentado como justificativa para o veto, o excelentíssimo sr. governador Renato Casagrande, levou em consideração parecer produzido pela Aliança Nacional LGBTI+, conforme pode ser visto no decorrer do texto publicado”, diz a nota assinada por Toni Reis, diretor presidente da Aliança Nacional LGBTI+, Lyza Lima Leopoldino, coordenadora Titular da Área de Mulheres Trans e Travestis da Aliança Nacional LGBTI+  e coordenadora Titular da Aliança Nacional LGBTI+ no Espírito Santo, Gregory Rodrigues Roque de Souza, coordenador Nacional de Comunicação da Aliança Nacional LGBTI+ e Wagner Xavier de Camargo, coordenador Técnico de Esportes da entidade.

A Aliança Nacional LGBTI+ é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos, com coordenações de representação em todas as 27 Unidades da Federação e também em mais de 300 municípios brasileiros. Possui 57 áreas temáticas e específicas de discussão e atuação.

Tem como missão a promoção e defesa dos direitos humanos e da cidadania da comunidade brasileira de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, pessoas intersexo e de outras orientações sexuais e identidades e expressões de gênero (LGBTI+), através de parcerias com pessoas físicas e jurídicas.

A Aliança é colaboradora do Fórum de Empresas e Direitos LGBTI+. É pluripartidária e atualmente tem mais de 2.600 pessoas físicas afiliadas. Destas, 44% são afiliadas a partidos políticos, com representação de 30 dos 32 partidos atualmente existentes no Brasil.