O doutor em Linguística pela Ufes, Felipe Guimarães, que também é servidor técnico-administrativo na Secretaria de Relações Internacionais (SRI), recebeu, no mês passado, o Prêmio Extraordinário de Doutorado da Universidade Pablo de Olavide (UPO), de Sevilha, na Espanha, onde cursou parte de seu doutorado. Guimarães apresentou, em sua tese, uma proposta de política linguística em favor do multilinguismo, para promover a internacionalização das universidades.
A necessidade de políticas linguísticas surgiu no esteio do programa Ciência sem Fronteiras, criado em 2011 pelo governo federal, que incentivou experiências acadêmicas no exterior e no Brasil. “Havia uma dificuldade inicial na comprovação de proficiência em idiomas. Em consequência, foi necessário estabelecer políticas linguísticas: nacionalmente, foi criado o programa Idiomas sem Fronteiras, e cada universidade teve de se organizar internamente nessa direção”, afirma Guimarães.
Em seu doutorado, realizado em regime de cotutela (em que se obtém o diploma de mais de uma instituição), o pesquisador analisou as estratégias e as políticas linguísticas de universidades federais, buscando identificar as características predominantes. Seu estudo foi orientado, no Brasil, pela professora Kyria Finardi, e na Espanha, por Patricia Frances Moore Johansen.
A Universidade de Genebra (Suíça), que é uma referência em relação a políticas linguísticas, indica as dimensões em que essa política pode orientar a instituição em relação ao uso de línguas: a admissão, o ensino, a instrução, a pesquisa, a administração e a comunicação externa. “O conhecimento linguístico em outro idioma pode ampliar o acesso a informações e traz a oportunidade de tomar decisões informadas, fazer escolhas e se relacionar com outros atores”, detalha Guimarães.
Resultados e propostas
Os resultados indicam que nem todas as universidades federais brasileiras tinham uma política linguística formalizada e, quando ela existia, muitas vezes não estava conectada ao plano de internacionalização da instituição. Além disso, indica que as políticas existentes tendem a favorecer o inglês e o português como língua estrangeira.
Em sua tese, intitulada Internacionalização e multilinguismo: uma proposta de política linguística para as universidades federais, Guimarães propõe que as políticas linguísticas tenham uma perspectiva multilíngue, ou seja, envolvendo vários idiomas, de modo a atender às necessidades de internacionalização de cada instituição, contemplando a diversidade de países e idiomas na cooperação acadêmica entre instituições.
Segundo Guimarães, a pesquisa contribuiu também para repensar rotinas na área de idiomas, oferecendo mais oportunidades de testes de proficiência e de iniciativas de apoio em relação aos idiomas para fins acadêmicos, seja em língua estrangeira ou portuguesa. “O prêmio foi um reconhecimento acadêmico do doutorado, mas também profissional, uma vez que me dedico a essa área de atuação desde 2013”, afirma. Outro reconhecimento foi a seleção para uma bolsa de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem na Universidade Estadual de Londrina (UEL), concedida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sob a orientação da professora Telma Gimenez, da UEL, Guimarães deu continuidade aos estudos na área de políticas linguísticas.