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OMS diz que o adoçante artificial aspartame pode ser cancerígeno, mas não proibiu o uso

OMS diz que o adoçante artificial aspartame pode ser cancerígeno, mas não proibiu o uso | Foto: Freepik

O anúncio feito nesta semana pela Organização Mundial de Saúde (OMS), de que o aspartame, um adoçante artificial utilizado em refrigerantes e outros alimentos processados, pode ser cancerígeno, deixou a indústria que utiliza esse produto em polvorosa. Essa foi a primeira vez que a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) da OMS avalia o risco do consumo do aspartame. Reunidos entre 6 e 13 de junho, os especialistas concluíram que o adoçante “pode ser carcinogênico para os seres humanos”, e o incluíram no Grupo 2B da classificação da IARC.

A OMS teve o cuidado em dar a notícia. A entidade, vinculada à ONU, disse que a decisão foi baseada em “evidências limitadas” relacionadas ao câncer em humanos e especificamente o carcinoma hepatocelular – um tipo de câncer de fígado. Outros produtos incluídos nesta categoria são o extrato de aloe vera e o ácido cafeico. A OMS acrescentou que evidências limitadas de carcinoma hepatocelular também foram constatadas em animais de laboratório e demonstradas em três estudos realizados nos Estados Unidos e em dez países europeus.

OMS não recomendou a suspenção imediata do uso

Um outro colegiado também concordou com o anúncio da OMS. Foi Comitê Misto de Especialistas em Aditivos Alimentares da OMS e da FAO (Agência das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) também avaliou os riscos associados ao aspartame. O entendimento é que os dados não forneciam motivos suficientes para justificar uma modificação na dose diária estabelecida desde 1981, de 40 mg por quilo de peso corporal. Uma pessoa pode consumir “sem riscos” dentro desse limite.

“Aconselhamos as empresas a manterem seus produtos nas prateleiras e também não recomendamos aos consumidores que deixem de consumi-los completamente”, disse o diretor do Departamento de Nutrição, Saúde e Desenvolvimento da OMS, quando revelou as duas avaliações sobre o adoçante.

A formula química do Aspartame, o adoçante artificial utilizado pela Coca-Coca Zero | Imagem: Reprodução

O que diz a Coca-Cola

O Grafitti News entrou em contato com a direção da Coca-Cola no Brasil para ter um posicionamento, já que que o seu produto Coca-Cola Zero, utiliza o adoçante artificial proveniente do Aspartame. A empresa, por sua vez, contatou a sua matriz nos Estados Unidos e de lá veio um comunicado do Conselho Internacional das Associações de Bebidas, com a sigla em inglês (ICBA), com sede em Washington, DC. A nota, enviada a pedido da Coca-Cola no Brasil, contradiz a OMS.

“A Agência Internacional de Investigação sobre o Cancro (IARC), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Comité Misto de Peritos em Aditivos Alimentares (JECFA) da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) publicaram hoje avaliações dos impactos do adoçante sem açúcar aspartame na saúde. Citando “provas limitadas” de carcinogenicidade nos seres humanos, o IARC classificou o aspartame como possivelmente cancerígeno para os seres humanos (Grupo 2B do IARC) e o JECFA reafirmou a dose diária aceitável de 40 mg/kg de peso corporal”, inicia a nota.

“O aspartame é um adoçante artificial (químico) amplamente utilizado em vários produtos alimentares e bebidas desde a década de 1980, incluindo bebidas dietéticas, pastilhas elásticas, gelatina, gelados, produtos lácteos como o iogurte, cereais de pequeno-almoço, pasta de dentes e medicamentos como pastilhas para a tosse e vitaminas mastigáveis”, prossegue a entidade internacional que reúne os fabricantes de refrigerantes que utilizam o adoçante artificial em todo o mundo.

“O cancro é uma das principais causas de morte a nível mundial. Todos os anos, uma em cada seis pessoas morre de cancro. A ciência está em constante expansão para avaliar os possíveis fatores iniciadores ou facilitadores do cancro, na esperança de reduzir estes números e o número de vítimas”, afirmou o Dr. Francesco Branca, Diretor do Departamento de Nutrição e Segurança Alimentar da OMS e que foi citado na nota da ICBA,

. “As avaliações do aspartame indicaram que, embora a segurança não seja uma grande preocupação nas doses habitualmente utilizadas, foram descritos efeitos potenciais que devem ser investigados através de mais e melhores estudos”, continua o médico da OMS citado pela entidade da indústria internacional de refrigerantes.

A nota ainda diz que os dois organismos realizaram análises independentes, mas complementares para avaliar o potencial perigo carcinogênico e outros riscos para a saúde associados ao consumo de aspartame. Esta foi a primeira vez que o IARC avaliou o aspartame e a terceira vez que o JECFA o fez. Depois de analisar a literatura científica disponível, ambas as avaliações assinalaram limitações nas provas disponíveis sobre o cancro (e outros efeitos para a saúde).

O IARC classificou o aspartame como possivelmente carcinogênico para os seres humanos (Grupo 2B) com base em provas limitadas de cancro em seres humanos (especificamente, carcinoma hepatocelular, que é um tipo de cancro do fígado). Existem também provas limitadas de cancro em animais experimentais e provas limitadas relacionadas com os possíveis mecanismos causadores de cancro.

O JECFA concluiu que os dados avaliados não indicavam qualquer razão suficiente para alterar a dose diária admissível (DDA) anteriormente estabelecida para o aspártamo, de 0-40 mg/kg de peso corporal. O comité reafirmou, portanto, que é seguro para uma pessoa consumir dentro deste limite por dia. Por exemplo, com uma lata de refrigerante dietético contendo 200 ou 300 mg de aspártamo, um adulto de 70 kg teria de consumir mais de 9 a 14 latas por dia para exceder a dose diária admissível, assumindo que não há ingestão de outras fontes alimentares.

As identificações de perigo do IARC são o primeiro passo fundamental para compreender a carcinogenicidade de um agente, identificando as suas propriedades específicas e o seu potencial para causar danos, ou seja, cancro. As classificações da IARC refletem a força das provas científicas sobre se um agente pode causar cancro nos seres humanos, mas não refletem o risco de desenvolver cancro a um determinado nível de exposição.

A avaliação de perigo da IARC considera todos os tipos de exposição (por exemplo, alimentar, profissional). A classificação de força de evidência no Grupo 2B é o terceiro nível mais elevado de 4 níveis e é geralmente utilizada quando existem provas limitadas, mas não convincentes, de cancro nos seres humanos ou provas convincentes de cancro em animais experimentais, mas não em ambos.

“As descobertas de provas limitadas de carcinogenicidade em humanos e animais, e de provas mecanicistas limitadas sobre a forma como a carcinogenicidade pode ocorrer, sublinham a necessidade de mais investigação para aperfeiçoar a nossa compreensão sobre se o consumo de aspartame representa um perigo carcinogénico”, afirmou a Dra. Mary Schubauer-Berigan do programa de Monografias do IARC.

As avaliações de risco do JECFA determinam a probabilidade de ocorrência de um tipo específico de dano, ou seja, cancro, em determinadas condições e níveis de exposição. Não é raro que o JECFA tenha em conta as classificações do IARC nas suas deliberações.

“O JECFA também considerou as evidências sobre o risco de cancro, em estudos com animais e humanos, e concluiu que as evidências de uma associação entre o consumo de aspartame e o cancro em humanos não são convincentes”, disse o Dr. Moez Sanaa, Chefe da Unidade de Normas e Aconselhamento Científico sobre Alimentação e Nutrição da OMS. “Precisamos de melhores estudos com um acompanhamento mais longo e questionários dietéticos repetidos nas coortes existentes. Precisamos de ensaios aleatórios controlados, incluindo estudos de vias mecanicistas relevantes para a regulação da insulina, síndrome metabólica e diabetes, particularmente no que diz respeito à carcinogenicidade.”

As avaliações do IARC e do JECFA sobre o impacto do aspartame basearam-se em dados científicos recolhidos numa série de fontes, incluindo artigos revistos por pares, relatórios governamentais e estudos realizados para fins regulamentares. Os estudos foram revistos por peritos independentes e ambos os comités tomaram medidas para garantir a independência e fiabilidade das suas avaliações. O IARC e a OMS continuarão a monitorizar novas provas e a encorajar grupos de investigação independentes a desenvolver mais estudos sobre a potencial associação entre a exposição ao aspartame e os efeitos na saúde dos consumidores.

Quem é o ICBA

Sobre o Conselho Internacional de Associações de Bebidas: A ICBA é uma organização internacional não governamental, fundada em 1995, que representa os interesses da indústria mundial de bebidas não alcoólicas. Os membros da ICBA incluem associações nacionais e regionais de bebidas, bem como fabricantes internacionais de bebidas que operam em mais de 200 países e produzem, distribuem e vendem diversas bebidas não alcoólicas com e sem gás, como refrigerantes, bebidas esportivas, energéticos, águas engarrafadas, águas aromatizadas e/ou aprimoradas, chás e cafés prontos para beber, sucos integrais de frutas ou vegetais, néctares e bebidas à base de laticínios.