O objetivo de entregar o Radiun Hotel à Fecomércio/Sesc/Senac é de oferecer cursos de formação profissional, de apoio ao turismo
O histórico Radium Hotel, em Guarapari (ES) vai ser entregue pelo Governo do Espírito Santo ao Sistema Fecomércio, que abrange a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomércio-ES), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac-ES) e o Serviço Social do Comércio (Sesc-ES). O prédio construído pelo Governo estadual para ser uma escola naval, acabou virando na década de 1950 e 1960 um cassino de padrão internacional e foi responsável por alavancar o turismo de Guarapari.
Segundo a Fecomércio, a decisão do governo estadual em ceder o prédio, com uma área construída com 2.100 m² e uma área útil 8.796 m², de frente para a Praia da Areia Preta, ocorreu na última semana. Em uma reunião onde se encontra o staff do atual poder executivo, incluindo o governador Renato Casagrande (PSB), foi dito ao presidente da Fecomércio-ES, Idalberto Moro; ao diretor regional do Senac-ES, Richardson Schmittel; do diretor regional do Sesc-ES, Bruno Negris, que a entrega ocorrerá projetos de restauro, reforma e arquitetônico.
Projeto de restauro e obra com recursos públicos
Esses projetos, de acordo com a Fecomércio foram custeados pela Samarco, a mesma mineradora de propriedade da Vale e da BHP Billiton, que provocou o crime ambiental do Rio Doce com a quebra da represa de Marina. Os projetos de restauro, reforma e arquitetônico já foram realizados. A obra, no entanto, vai ser feita com dinheiro público e depende de uma licitação, a ser feita pelo Governo do Estado.
Para o presidente da Fecomércio-ES, Idalberto Moro, essa iniciativa tem sinergia com todos as frentes de trabalho que estão sendo desenvolvidas pela nova gestão da entidade, promovendo o desenvolvimento turístico e cultural do Espírito Santo. “O Senac-ES tem uma vocação educacional muito forte voltada para as áreas de turismo e gastronomia e está preparado para oferecer cursos na região. Já o Sesc-ES poderá promover exposições, levar atrações e movimentar a cultura local”, explicou.
O diretor regional do Senac-ES, Richardson Schmittel, reforça que Guarapari é uma cidade que atrai muitos turistas, todos os anos, interessados em conhecer as belezas naturais e a gastronomia capixaba. “Por isso, estamos nos preparando para prover todos os recursos necessários para investir em estruturação do espaço, formação e profissionalização, com o propósito de atender as demandas do segmento de comércio e turismo do município”.
O diretor regional do Sesc-ES, Bruno Negris, comentou que a entidade já possui uma unidade no município para hospedagem e eventos e terá a oportunidade de oferecer também as atividades culturais para Guarapari.
O empreendimento, que teve sua construção iniciada em 1947 e inauguração em 1953, na Praia da Areia Preta, no Centro de Guarapari, era um dos mais luxuosos hotéis do país, projetado para ser um verdadeiro hotel cassino de alto padrão internacional. No auge da jogatina liberada pela legislação em vigor, passaram pelo Radiun Hotel grandes nomes do capitalismo brasileiro e da política das décadas de 1950 e 1960.
Cassino do Radium Hotel
O cassino existiu devido ao arrendamento, por 15 anos, do bem público pelo então governador Jones dos Santos Neves ao empresário do ramo hoteleiro Alberto Quatrini Bianchi, dono da empresa Bianchi Hotéis e Turismo. Na época ele possui três aviões “Douglas”, e todos com capacidade para transportar 22 passageiros, que trazia os jogadores ricos para vir à Guarapari. Com isso, houve a necessidade de a cidade vir a ter o seu Aeroporto Reginal.
A proibição dos jogos de azar no Brasil foi estabelecida por força do Decreto-Lei 9.215, de 30 de abril de 1946, assinado pelo presidente Eurico Gaspar Dutra. Ou seja, a proibição veio antes da inauguração do Cassino do Radium Hotel. Mas, a proibição, segundo quem viveu naquela época era apenas para “inglês ver”. No entanto, o Decreto-Lei 9.215 somente passou a valer quando os militares promoveram o golpe de Estado e implantaram uma ditadura militar no Brasil., Foi quando o cassino do Radium Hotel parou de funcionar.
Passaram pelos salões da jogatina do Radium Hotel, de acordo com relatos de historiadores, o Conde Francisco Matarazzo, Maysa Matarazzo, Assis Chateaubriand, Rubens Braga, Ibrahim Sued, Carlos Lacerda, o próprio Jones dos Santos Neves, Eurico Resende, jogadores da Seleção Brasileira de Futebol que conquistaram o primeiro título mundial, em 1958, o jogador de futebol Garrincha que veio acompanhado da esposa, a cantora Elza Soares, o governador de São Paulo Adhemar de Barros, e até o então presidente da República, João Goulart.
Em três pavimentos, o hotel contava com 140 quartos, sendo duas suítes de alto luxo destinadas às autoridades; além de dois salões, um de jogos e outro de lazer. Ele funcionou até 1964 com a proibição dos jogos de azar. Três anos depois, as atividades retomaram no hotel, sendo interrompidas em 1992 após ação do liquidante da Emcatur, Antônio Carlos Pimentel Mello.
Foi quando o liquidante acionou o Corpo de Bombeiros para averiguar grave risco de incêndio com a fiação desencapada que passava sobre o madeirame da cozinha. Essa foi a alternativa prática de conseguir fechar o hotel, porque havia muita pressão política, já que havia no local duas suítes de alto luxo reservada para a classe política local. Em 1998 ele foi tombado pela Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e constitui importante patrimônio histórico.