Durante fórum empresarial, presidente destaca que bloco formado por África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia tem potencial para crescer e atrair investimentos. Líderes dos cinco países tiveram agenda reservada no fim do dia. A Cúpula se encerra nesta quinta-feira (24)
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou na tarde desta terça-feira, 22/8, do Fórum Empresarial do Brics em Joanesburgo, na África do Sul. Em seu discurso, ele ressaltou o crescimento econômico do bloco e indicou que os países em desenvolvimento têm potencial de avançar ainda mais na comparação com países industrializados.
No fim do dia, ele e os representantes dos outros quatro países do bloco (China, África do Sul, Índia e Rússia) se reuniram para uma agenda reservada e posaram para a foto oficial do evento. Participaram os presidentes Lula, Xi Jinping (China), Cyril Ramaphosa (África do Sul), o primeiro-ministro Narendra Modi (Índia) e Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia.
“Já ultrapassamos o G7 e respondemos por 32% do PIB mundial em paridade do poder de compra. Projeções indicam que os mercados emergentes e em desenvolvimento são aqueles que apresentarão maior índice de crescimento nos próximos anos. Segundo o FMI, enquanto os países industrializados devem desacelerar o crescimento de 2.7%, em 2022, para 1.4% em 2024, o crescimento previsto para os países em desenvolvimento é de 4% neste ano e no próximo. Isso mostra que o dinamismo da economia está no Sul Global e o BRICS é sua força motriz”, destacou Lula em seu discurso no fórum.
Para o presidente, para que esse crescimento aconteça de forma mais ampla e sustentável, os países em desenvolvimento vão precisar encontrar novas formas de obter investimentos, já que o sistema financeiro internacional não tem atendido a essas demandas de maneira adequada. Dessa forma, alternativas como o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB na sigla em inglês) se tornam ainda mais necessárias.
“A decisão de estabelecer o Novo Banco de Desenvolvimento representou um marco na colaboração efetiva entre as economias emergentes. Nosso banco conjunto deve ser um líder global no financiamento de projetos que abordem os desafios mais urgentes de nosso tempo. Ao diversificar fontes de pagamento em moedas locais, expandir sua rede de parceiros e ampliar seus membros, o NDB constitui uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países em desenvolvimento”, afirmou.
Novo PAC
O presidente Lula também falou do recém-lançado Novo PAC, programa voltado para infraestrutura que ele considera que pode representar um leque de novas oportunidades para investidores dos países que fazem parte do BRICS – África do Sul, China, Índia e Rússia, além do Brasil.
“Esperamos mobilizar US$ 340 bilhões para a modernização de nossa infraestrutura logística, com investimentos em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos. Também daremos prioridade à geração de energia solar, eólica, biomassa, etanol e biodiesel. É enorme o nosso potencial de produção de hidrogênio verde. Estabeleceremos parcerias entre o governo e os empresários em todas essas áreas, sob a forma de concessões, Parcerias Público-Privadas e contratações diretas. Precisamos garantir mais credibilidade, previsibilidade e estabilidade jurídica ao setor privado”, concluiu.
BRICS
O BRICS é uma parceria entre cinco das maiores economias emergentes do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No total, o grupo representa mais de 42% da população mundial, 30% do território do planeta, 23% do PIB global e 18% do comércio internacional.
O principal objetivo do bloco é alterar, por meio da cooperação, o sistema de governança global, com uma reforma de mecanismos como o Conselho de Segurança da ONU, além de introduzir alternativas a instituições como o FMI e o BID para o fomento às economias emergentes, como é o caso do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês).
Em números
Fazem parte do grupo os dois países mais populosos do mundo, Índia e China, cada um com 1,4 bilhão de habitantes – o Brasil está em sétimo na lista, com 203 milhões, a Rússia em nono, com 143 milhões, e a África do Sul em 25º, com 59 milhões. No total, o BRICS tem uma população de cerca de 3,2 bilhões de pessoas.
Em termos de dimensões territoriais, no grupo estão o maior país do mundo (Rússia, com 17,1 milhões de km²), o terceiro maior (China, 9,6 milhões de km²), o quinto (Brasil, com 8,5 milhões de km²) e o sétimo (Índia, 3,2 milhões de km²). A África do Sul é o 24º na lista, com 1,2 milhão de km².
Em conjunto, os países do BRICS têm um PIB de US$ 24,7 trilhões. Segundo estimativas do Banco Mundial, o PIB da China chegou a US$ 17,7 trilhões em 2022, o segundo maior do mundo. A Índia ficou em sexto, com US$ 3,17 trilhões, seguida pela Rússia em 11º (US$ 1,7 trilhão), pelo Brasil em 12º (US$ 1,6 trilhão) e pela África do Sul em 32º (US$ 419 bilhões).
Comércio Brasil-Brics
O Brasil tem um comércio intenso com os países do BRICS. Em 2022, o volume de transações chegou a US$ 177,7 bilhões, sendo US$ 99,4 bilhões em exportações brasileiras para China, Índia, Rússia e África do Sul e US$ 78 bilhões em importações de produtos vindos desses países. De janeiro a julho de 2023, o volume já atingiu US$ 102,3 bilhões (US$ 63,2 bilhões em exportações e US$ 39 bi em importações).
Principal parceiro comercial do Brasil, a China comprou 90% de toda a exportação brasileira destinada ao BRICS, cerca de US$ 89,4 bilhões. A Índia importou 6,3% (cerca de US$ 6,3 bilhões), a Rússia foi destino de 2% das exportações (US$ 1,96 bilhão) e a África do Sul, de 1,7% (US$ 1,7 bilhão).
No sentido inverso, 78% das importações vindas do bloco foram de produtos chineses (US$ 60,7 bilhões), seguidos dos indianos (11% ou US$ 8,9 bilhões), russos (10%, US$ 7,9 bi) e sul-africanos (1,2% ou US$ 908 milhões).
No ano passado, o produto mais exportado pelo Brasil para o BRICS foi a soja, com 33% do total, seguida por petróleo (18%), ferro (18%) e carne bovina (8,2%). Em contrapartida, os produtos mais importados foram adubos e fertilizantes (10%), válvulas e diodos (8,9%), produtos químicos (7,9%) e produtos de telecomunicação (5,3%).
Ministros do Brics
Nesta última terça-feira (22), o Fórum Empresarial do BRICS ocorreu no Centro de Convenções Sandton, em Joanesburgo, província de Gauteng, reunindo líderes e representantes de empresas internacionais para discutir uma ampla agenda: a situação atual da cooperação comercial e de investimentos entre os países do BRICS e as perspectivas futuras nessa área, formas de estimular a recuperação econômica nos países do bloco, construir e fortalecer laços inter-regionais, criar um ambiente de negócios favorável e harmonizar as regras comerciais.
Cinco sessões de painel foram realizadas durante o fórum: “Interação e cooperação: desbloqueando as oportunidades de comércio e investimento do BRICS”, “Agricultura do BRICS: destaque”, “Garantindo uma transição justa”, “Oportunidades empresariais do BRICS e acesso ao mercado como fator-chave para o desenvolvimento de PMEs” e “BRICS na África: desbloqueando oportunidades por meio do Acordo de Livre Comércio Continental Africano (AFCFTA)”.
O Ministro do Comércio e Indústria da África do Sul, Ebrahim Patel, em seu discurso de boas-vindas, falou sobre a agenda global em rápida mudança. “Há apenas cinco anos, Joanesburgo sediou a 10ª Cúpula do BRICS em 2018 – aparentemente em uma era diferente, em um mundo diferente. Naquela época, há apenas 1.850 dias, o mundo parecia mais simples e menos volátil. Ainda não havia enfrentado os danos da pandemia da COVID ou a recessão mais profunda desde a Segunda Guerra Mundial”, observou ele.
Patel afirmou a urgência das questões relacionadas à mudança climática, bem como o rápido aumento da velocidade da inovação tecnológica. “Essas tendências estão mudando nossa economia e nossa sociedade – mais do que muitos de nós poderíamos imaginar. Acrescente a essas mudanças o rápido deslocamento do centro da atividade econômica dos locais tradicionais do norte para os novos motores industriais do leste e do sul, que estão começando a refletir a verdadeira demografia do mundo”, observou o ministro.
O que disse Frenando Haddad no encontro do BRICS
Fernando Haddad, Ministro da Fazenda do Brasil, dirigindo-se ao público, enfatizou o foco de seu país em uma economia e indústria verdes. Ele observou que a política do Brasil faz das questões climáticas e ambientais uma prioridade e isso tem um impacto sério sobre o desenvolvimento da indústria e da agricultura também.
“O Brasil pretende ser fonte de energia limpa pra si próprio porque é um país que pretende se reindustrilizar. O país pretende exportar energia limpa, e também na forma de produtos verdes. O Brasil quer ser uma base, uma plataforma de exportação de aço verde, de alumínio verde, de muitos produtos para que sejam manufaturados, precisam de energia limpa”, disse Haddad.
Piyush Goyal, Ministro do Comércio e Indústria da República da Índia, falando sobre o fortalecimento dos laços dentro do bloco, observou: “Os países membros do BRICS podem encontrar um novo canal de comunicação – a Aliança de Mulheres de Negócios do BRICS – para promover a igualdade de gênero”.
Ele elogiou a contribuição do Fórum Empresarial do BRICS para o desenvolvimento das relações econômicas entre os países membros do bloco. E também observou que o fórum permite o compartilhamento de realizações conjuntas em uma variedade de áreas: economia, finanças, no campo da inovação e na experiência de responder às condições em constante mudança da agenda global “Eu acho que temos a oportunidade de aproveitar o enorme potencial de comércio e investimento dos mercados emergentes para ajudar nossas economias”, disse Goyal.
O que disseram os russos e chineses
Em seguida, houve um painel de discussão sobre “Interação e cooperação: desbloqueando as oportunidades de comércio e investimento do BRICS”. Entre os palestrantes estava Serguei Katyrin, Presidente da parte russa do Conselho Empresarial do BRICS e Presidente da Câmara Russa de Comércio e Indústria (CCI).
Falando sobre o potencial de desenvolvimento econômico dos países membros do bloco, ele explicou: “O potencial mais importante está nas relações de trabalho normais, honestas e humanas com as pessoas. É maravilhoso perceber que nossas relações com as pessoas com quem assinamos a Carta do Conselho Empresarial do BRICS há dez anos não só foram preservadas, mas estão se desenvolvendo ativamente”.
De acordo com Katyrin, são essas relações que possibilitam a realização de um trabalho frutífero e a tomada de decisões conjuntas. Caracterizando a economia do bloco, Katyrin espera que, até 2050, o equilíbrio de poder no cenário mundial mude drasticamente e a aliança do BRICS tenha uma enorme vantagem competitiva.
Shaogang Zhang, vice-presidente do Conselho Chinês para a Promoção do Comércio Internacional (CCPIT), falando na sessão, enfocou o desenvolvimento das PMEs da China e seu papel na economia: “As PMEs representam 50% de nossa tributação, 60% de nosso PIB nacional, 70% de nossa inovação e 80% de nossos empregos. Elas são a espinha dorsal de nossa economia. No entanto, as PMEs podem ser muito diversificadas.”
Zhang delineou medidas que ele acredita que o governo deveria tomar, incluindo a criação de um ambiente favorável para as PME, em particular preferências fiscais; otimização da política fundiária e, finalmente, criação de um ambiente educacional para as PME para que elas possam se manter atualizadas com os últimos desenvolvimentos em ciência, economia, finanças e responder rapidamente às mudanças nas circunstâncias, ciência e tecnologia.
A Cúpula do BRICS foi iniciada em Joanesburgo (Gauteng, África do Sul) nesta última terça-feira (22) e prossegue até quinta-feira (24). É a reunião mais representativa de chefes de estado e de governo do Sul global nos últimos anos. Líderes de 54 países africanos responderam aos convites. De acordo com o serviço de imprensa do Kremlin, os acordos finais serão registrados na Declaração de Joanesburgo da XV Cúpula do BRICS, segundo relato da TV BRICS, emissora do próprio banco.
Discurso lido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o Fórum Empresarial do BRICS, em Joanesburgo, na África do Sul, em 22 de agosto
Gostaria de saudar o governo sul-africano pela realização deste Fórum Empresarial.
Quero expressar minha satisfação por compartilhar este evento com os demais líderes dos países do BRICS.
Agradeço também a todos os empresários presentes, em especial a direção do Conselho Empresarial, que completa dez anos.
O estabelecimento de parcerias entre os setores privados é uma dimensão muito relevante do BRICS e que dá vida e continuidade às relações entre os países.
Desde a primeira Cúpula de Chefes de Estado e de Governo, nossa participação na economia global vem se ampliando.
Já ultrapassamos o G7, e respondemos por 32% do PIB mundial em paridade do poder de compra.
Projeções indicam que os mercados emergentes e em desenvolvimento são aqueles que apresentarão maior índice de crescimento nos próximos anos.
Segundo o FMI, enquanto os países industrializados devem desacelerar seu crescimento de 2.7%, em 2022, para 1.4% em 2024, o crescimento previsto para os países em desenvolvimento é de 4% neste ano e no próximo.
Isso mostra que o dinamismo da economia está no Sul Global e o BRICS é sua força motriz.
O comércio total do Brasil com o BRICS aumentou de 48 bilhões de dólares em 2009 para 178 bilhões em 2022 – um crescimento de 370% desde a criação do grupo.
O estoque de Investimento Externo Direito do BRICS no Brasil cresceu 167% entre 2012 e 2021, atingindo 34,2 bilhões de dólares. Hoje, quase 400 empresas do bloco operam no Brasil.
Depois dos últimos seis anos de retrocesso e estagnação, o Brasil vai voltar a gerar empregos de qualidade, a combater a pobreza e a aumentar a renda das famílias brasileiras.
Apresentei há duas semanas o novo PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. O Plano prevê a retomada de empreendimentos paralisados, aceleração dos que estão em andamento e seleção de novos projetos.
Trata-se de um programa amplo, com muitas oportunidades que podem interessar aos investidores dos países do BRICS.
Esperamos mobilizar 340 bilhões de dólares para a modernização de nossa infraestrutura logística, com investimentos em rodovias, ferrovias, hidrovias, portos e aeroportos.
Também daremos prioridade à geração de energia solar, eólica, biomassa, etanol e biodiesel. É enorme o nosso potencial de produção de hidrogênio verde.
Estabeleceremos parcerias entre o governo e os empresários em todas essas áreas, sob a forma de concessões, Parcerias Público-Privadas e contratações diretas.
Para que o investimento volte a crescer e gerar desenvolvimento, precisamos garantir mais credibilidade, previsibilidade e estabilidade jurídica para o setor privado.
Por essa razão tenho defendido a ideia de adoção de uma unidade de conta de referência para o comércio, que não substituirá nossas moedas nacionais.
As necessidades de financiamento não atendidas dos países em desenvolvimento continuam muito altas. A falta de reformas substantivas das instituições financeiras tradicionais limita o volume e as modalidades de crédito dos bancos já existentes.
A decisão de estabelecer o Novo Banco de Desenvolvimento representou um marco na colaboração efetiva entre as economias emergentes.
Nosso banco conjunto deve ser um líder global no financiamento de projetos que abordem os desafios mais urgentes de nosso tempo.
Ao diversificar fontes de pagamento em moedas locais, expandir sua rede de parceiros e ampliar seus membros, o NDB constitui uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países em desenvolvimento.
Nessa estratégia, o engajamento com o Banco Africano de Desenvolvimento será central.
No plano multilateral, o BRICS se notabilizou por ser uma força que trabalha em prol de um comércio global mais justo, previsível, equitativo.
Não podemos aceitar um neocolonialismo verde que impõe barreiras comerciais e medidas discriminatórias, sob o pretexto de proteger o meio ambiente.
A partir de dezembro, o Brasil ocupará a presidência do G20. A presença de três membros dos BRICS na troika do G20 será uma grande oportunidade para avançarmos temas de interesse do Sul Global.
Já contamos com a participação da África do Sul, mas a representatividade do grupo será ampliada com o ingresso da União Africana e de outros países do continente.
Senhoras e senhores,
Ao voltar a presidência de meu país, estou retomando as diretrizes da política externa brasileira.
Começamos a reconstruir a integração sul-americana. Retomamos nossas parcerias com os Estados Unidos, a China e a União Europeia.
Sediamos a reunião de Cúpula dos Países Amazônicos.
Ainda nos faltava o retorno do Brasil à África.
É inaceitável que, em 2022, o comércio do Brasil com a África tenha diminuído em um terço com relação a 2013, quando era de quase 30 bilhões de dólares.
O fluxo comercial com a África ainda corresponde a apenas 3.5% do comércio exterior do Brasil.
Nossa rede de acordos comerciais também é incipiente. Os acordos do Mercosul com a África Austral e com o Egito datam de meu segundo mandato.
Hoje, mais de 65% das exportações do Mercosul para a África foram para países com os quais não há acordo em vigor.
Há muito espaço para crescer.
Além de um passado que nos une, também compartilhamos uma visão comum de futuro.
Em meus dois primeiros mandatos, o continente africano foi uma prioridade. Fiz doze viagens à Africa e estive em vinte e um países.
O Brasil está de volta ao continente de que nunca deveria ter se afastado.
A África reúne vastas oportunidades e um enorme potencial de crescimento.
Para discutir o relançamento do comércio com o continente, o Brasil reuniu os chefes dos setores de promoção comercial de todas as nossas representações em países africanos aqui em Joanesburgo, em junho passado.
A África está construindo um ambicioso projeto de zona de livre comércio: 54 países, 1,3 bilhão de pessoas e um PIB de mais de US$ 3 trilhões.
Neste continente, que é o mais jovem do mundo e será o mais populoso em 2100, são inúmeras as oportunidades para produtos brasileiros como alimentos e bebidas, petróleo, minério de ferro, veículos e manufaturas de ferro e aço.
A África tem 65% das terras agricultáveis disponíveis no mundo e forte vocação para ser uma potência agrícola, com capacidade para alimentar seu povo e oferecer soluções para a segurança alimentar global.
Aliando investimento e tecnologia, o Brasil desenvolveu técnicas modernas de agricultura tropical que podem ser replicadas com sucesso.
Por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, fizemos do Cerrado uma área de alta produtividade agrícola e podemos replicar essa experiência na Savana africana.
Meu governo também retomou as políticas públicas de apoio à agricultura familiar, imprescindível para combater a insegurança alimentar e a fome que atinge nossos continentes.
O Programa Mais Alimentos, que relancei em junho passado, permite que pequenos produtores possam ter acesso a financiamento para compra de tratores, implementos e colheitadeiras.
Assim como no passado, uma versão do Mais Alimentos para a África deve ser retomada como mais uma vertente da cooperação Sul-Sul brasileira.
A África também está no coração das transições digital e energética.
A cobertura de Internet já abrange a maior parte da população africana e se multiplicam centros de inovação digital e empresas de serviços tecnológicos financeiros.
O fortalecimento do complexo industrial da saúde brasileiro pode gerar amplas oportunidades de colaboração.
Como a América do Sul, o continente africano possui importantes reservas de minerais críticos, como lítio e cobalto, que desempenharão papel estratégico.
Para não permanecermos como meros exportadores de produtos primários, devemos aproveitar para forjar a integração de nossas cadeias produtivas e agregar valor aos bens e serviços que produzimos de forma sustentável.
A África é a região do mundo que menos emite gases do efeito estufa. Nem por isso deixa de enfrentar as consequências mais perversas do aquecimento global, como secas, inundações, incêndios e ciclones.
O Brasil e vários países africanos possuem planos abrangentes de renovação de suas matrizes energéticas.
Compartilhamos a responsabilidade de cuidar de florestas tropicais e preservar a biodiversidade. Temos em comum a preocupação de combater processos de desertificação.
Os serviços ambientais e ecossistêmicos que as florestas tropicais fornecem para o mundo devem ser remunerados de forma justa e equitativa.
Os produtos da sociobiodiversidade podem gerar emprego e renda e oferecer alternativas à exploração predatória de recursos naturais.
Esses são os pilares do Plano de Transformação Ecológica que lançaremos em breve.
Para que nossa integração econômica e produtiva floresça, será preciso ampliar as conexões marítimas e aéreas entre os dois lados do Atlântico.
É inexplicável que ainda não tenhamos voos diretos entre São Paulo e Joanesburgo, Cairo ou Dacar, essenciais para o aumento do fluxo de pessoas, comércio e turismo.
É muito pertinente a proposta do Conselho Empresarial dos BRICS, do estabelecimento de um acordo multilateral de serviços aéreos do grupo, contando com as principais autoridades nacionais de transporte e aviação.
Senhoras e Senhores,
O BRICS tem uma chance única de moldar a trajetória do desenvolvimento global.
Vocês, empresários, fazem parte desse esforço. Nossos países, reunidos, representam um terço da economia mundial.
Essa relevância vai crescer com a entrada de novos membros plenos e parceiros de diálogo.
A colaboração entre o setor público e privado é vital para aproveitar esse potencial e alcançar resultados duradouros.
Muito obrigado.