No Espírito Santo, os beneficiários da reforma agrária têm aprimorado a qualidade da principal cultura agrícola do estado – o café – e buscado alternativas para garantir tantas novas fontes de renda, quanto a sustentabilidade ambiental, social e econômica das suas famílias.
Com realidade diferenciada de muitos assentamentos, o Teixeirinha, localizado no município de Apiacá (região Sul capixaba), busca a diversificação das ações produtivas dos lotes. Criada em dezembro de 2002, a área de reforma agrária de 294,2 hectares possui condições propícias para tal.
No imóvel rural originário do assentamento, havia considerável quantidade de seringueira para extração de látex (aproximadamente 350 exemplares plantados) e, por conta disso, 14 das 27 famílias beneficiárias passaram a explorar a atividade, justamente pela fácil adaptação. Aos poucos, foram inserindo outros cultivares à paisagem local, como o palmito pupunha e o café, no sentido de potencializar o faturamento.
Em 2009, com o surgimento da Associação dos Agricultores Assentados na Região Sul do Estado do Espírito Santo (Associação Chico Mendes), o cultivo de seringueira passou a ser visto como oportunidade de aumentar a renda e reduzir os impactos ambientais no local. De lá para cá, foram plantados 1.850 pés (em fase de formação) que, em dois anos, devem propiciar o primeiro corte (sangria), elevando o valor auferido pelos associados.
As famílias entregam quase 10 toneladas do produto, mensalmente, à cooperativa parceira, gerando ao grupo uma média de R$ 30 mil a R$ 40 mil – preço variável conforme a cotação mensal do produto, a classificação internacional da borracha (DRC) e os parâmetros técnicos de qualidade. Em 2022, o coletivo comercializou 111 toneladas de látex e, de janeiro a agosto deste ano, 58 toneladas.
Mais renda
O agricultor filho de assentados, Ivan Pereira Ferreira, nascido e criado na roça – como ele mesmo costuma afirmar –, é um dos extrativistas do látex. Pensando na diversificação como alternativa para alavancar os negócios do sítio, ele acrescentou ao seu portfólio produtivo o cultivo de palmito pupunha e, mais recentemente, a atividade de plantas ornamentais – gerida pela companheira, Regina Cristina Silvério Miranda.
No caso do palmito, os 800 pés plantados em 2004 garantiam o corte semanal e a participação do casal na feira do município vizinho de Bom Jesus do Itabapoana (RJ) até 2022. A venda do produto e de algumas hortaliças somava mais de R$ 500 ao orçamento mensal familiar.
Já as plantas ornamentais – cactos, suculentas e outras espécies (marantas, begônias, samambaias e espadas-de-são-jorge, entre outras) –, cultivadas em sistema de estufa e comercializadas também no ambiente digital, faturaram, aproximadamente, R$ 12 mil em 2022, e, em 2023, já ultrapassaram os R$ 6 mil. Pela conveniência, atualmente eles estão presentes na feira do município de Itaperuna (RJ), com renda de mais de R$ 1 mil mensais obtidos na venda de palmito, hortaliças e plantas ornamentais.
Além disso, a recente classificação em edital público do programa Compra Direta de Alimentos (CDA), da Secretaria Estadual de Trabalho, Assistência e Desenvolvimento Social (Setades), para fornecer palmito pupunha, hortaliças e temperos à prefeitura de São José do Calçado (ES), município vizinho ao assentamento, em contrato de um ano, pode render até R$ 8 mil à família.
“A ideia é ampliar o comércio de plantas ornamentais gerenciado por minha companheira e construir, em breve, outra estufa para abrigar a expansão dessa atividade, inclusive com alguns materiais já adquiridos”, conta Ivan.
Segundo ele, o investimento em café e outros cultivos também está nos planos, de forma a alcançar uma renda anual para garantir a viabilidade econômica do lote. “Em dezembro de 2023, devemos plantar 1,2 mil mudas de café conilon para renovar a lavoura e 800 mudas de cacau, em março de 2024, no sistema de consórcio com o café e a área reflorestada do lote”, destaca o agricultor.