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FAO defende redução das emissões de metano do gado e do arroz


Novo relatório da agência oferece opções para sistemas agroalimentares eficientes, resilientes e ambientalmente sustentáveis; metano é responsável por cerca de 20% das emissões globais de gases de efeito estufa; dentro deste quantitativo, 32% tem origem na pecuária e 8% na produção de arroz


FAO defende redução das emissões de metano do gado e do arroz | Foto: Divulgação

As emissões do gás metano estão se tornando cada vez mais um motor da crise climática. Para reforçar a conscientização sobre possíveis ações que podem ser tomadas, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAO, publicou um novo relatório nesta segunda-feira.

O documento chamado “Emissões de Metano em Sistemas de Pecuária e Arroz” descreve estratégias de medição mitigação dos efeitos nocivos no sistema climático.

Combate ao aquecimento global

O metano é responsável por cerca de 20% das emissões globais de gases de efeito estufa e é pelo menos 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono para reter o calor na atmosfera.

A diretora-geral adjunta da FAO, Maria Helena Semedo, afirmou que os países que se comprometem a reduzir as emissões do gás contribuem para “sistemas agroalimentares mais eficientes, inclusivos, resilientes, de baixas emissões e sustentáveis.”

O relatório tem como objetivo fazer com que os sistemas agroalimentares contribuam com a Promessa Global de Metano.

A iniciativa é endossada por mais de 150 países, com foco em diminuir até 2030 as emissões de metano em 30% em relação aos níveis de 2020, o que evitaria mais de 0,2° C de aumento médio da temperatura global até 2050.

Sumidouros de metano

Além dos sistemas agroalimentares, outras atividades humanas que geram emissões de metano incluem aterros sanitários, sistemas de petróleo e gás natural, minas de carvão, dentre outras.

Cerca de 32% das emissões globais de metano resultam de processos microbianos que ocorrem durante a fermentação entérica do gado ruminante e sistemas de manejo de esterco, enquanto outros 8% vêm de arrozais.

Outro fator ambiental fundamental é como os solos servem de sumidouro de metano. A pesquisa realizada no relatório indica que os solos florestais de terras altas são os mais eficientes nisso, especialmente em biomas temperados, com taxas de armazenamento quatro vezes maiores do que as de terras agrícolas.

Estudo sobre sistemas de cultivo pré-germinado, mostrou que a emissão de metano pode ser 2 a 3 vezes maior quando se usa uma variedade de ciclo longo (140 dias por exemplo) | Foto: Divulgação/Magda Lima/Embrapa

Estudo da Embrapa quantifica emissão de metano em arroz irrigado

Um estudo feito no final de 2021 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apontou que em uma comparação entre sistemas de cultivo pré-germinado, mostrou que a emissão de metano pode ser 2 a 3 vezes maior quando se usa uma variedade de ciclo longo (140 dias por exemplo) e de alto potencial de emissão. Pesquisadores da Embrapa fizeram o estudo em uma das principais áreas produtores do estado de São Paulo, no município de Tremembé.

O experimento utilizou o método de câmara fechada e cromatografia gasosa e mostrou elevada emissão sazonal de metano na área estudada, atribuída, principalmente, ao longo do período de inundação e, possivelmente, às características da variedade utilizada.

Os pesquisadores constataram que o sistema de cultivo pré-germinado, no qual o solo permanece inundado por um período maior em relação aos outros tipos de manejo, pode alcançar um elevado fator de emissão de metano.

Além disso, explica a pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente Magda Lima, “o resultado pode também estar associado a cultivar utilizada, que por ser de ciclo longo pode aumentar o período de inundação do solo, o que propiciaria o processo de metanogênese (etapa final no processo global de degradação anaeróbica da matéria orgânica biodegradável) por microrganismos”, diz. Por isso, enfatiza Magda, “é preciso que o agricultor tenha cautela na escolha da variedade a ser cultivada no sentido de contribuir com o decréscimo das emissões de metano”, salienta a pesquisadora.

Os resultados do experimento em relação ao potencial de aquecimento global parcial (PAG) foram superiores aos relatados na literatura nacional. Esta informação poderá contribuir para futuros bancos de dados nacionais e regionais sobre fatores de emissão de metano, fundamentais ao aprimoramento de estimativas e inventários de emissão de gases de efeito estufa.

O metano é um dos principais gases de efeito estufa provenientes de atividades agrícolas, sendo o arroz irrigado por inundação uma importante fonte. Estudos desse tipo têm sido incentivados em nível global com o intuito de subsidiar e refinar estimativas nacionais e estaduais de emissão, bem como validar modelos biogeoquímicos, explica o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Alfredo José Barreto Luiz.

“Com base na emissão sazonal foi possível estimar o fator de emissão de metano e o seu potencial de aquecimento global parcial, bem como o potencial de aquecimento global parcial escalonado pelo rendimento de grãos, que se apresentou no contexto da faixa de emissões sazonais encontrada em outras regiões do Brasil”, explica Luiz.

Arroz e emissões de metano

Cultivado e consumido em muitos países, este produto é a base alimentar de bilhões de pessoas. Com produção de aproximadamente 10,4 milhões de toneladas por ano em 2019, o Brasil está entre os maiores produtores mundiais do grão, de acordo com a FAO.

O cultivo do arroz é feito em sistema irrigado e de sequeiro, ocorrendo também em várzeas, sendo que a produtividade em sistemas de irrigação por inundação, em geral, tende a ser maior. Entre os sistemas de cultivo utilizados no país estão o sistema convencional, o plantio direto, o cultivo mínimo, o transplantio de mudas e o pré-germinado – este é utilizado em algumas regiões do país, como por exemplo, nos estados de Santa Catarina e de São Paulo, e caracteriza-se pelo uso de sementes pré-germinadas em solo previamente inundado.

Esta inundação do solo é feita, aproximadamente, 20 dias antes da semeadura para controle do arroz vermelho. Três dias antes da semeadura, o solo é drenado, e o barro é formado para o lançamento das sementes pré-germinadas. O metano é um potente gás de efeito estufa que influencia fortemente a fotoquímica da atmosfera e tem potencial de absorção de radiação 28 vezes maior do que o de dióxido de carbono e é considerado, dentre os gases de origem antrópica, o segundo em importância.

A agricultura contribui com aproximadamente 52% das emissões globais de metano, sendo o cultivo do arroz responsável por 8% do fluxo global deste gás para a atmosfera. No Brasil, a estimativa de emissão proveniente do cultivo do arroz irrigado por inundação foi de 0,46 milhões de toneladas em 2010 de um total de 12,42 milhões de toneladas proveniente do setor agrícola.

Magda explica que o arroz é uma planta semiaquática provida de aerênquima, tecido vascular que favorece a troca de gases entre as raízes e os tecidos acima da superfície da água, permitindo o transporte de oxigênio atmosférico para as raízes e de outros gases, como o metano produzido no solo anaeróbio. “A disponibilidade de compostos orgânicos lábeis, ou seja, de fácil decomposição, como os liberados pelo sistema radicular, são importantes substratos para as bactérias metanogênicas produzirem o metano”, destaca a pesquisadora.

Fluxos crescentes de metano observados ao longo do estádio vegetativo podem estar relacionados ao maior crescimento das plantas, incluindo tecido aerênquima e sistema radicular, e à maior exsudação de compostos orgânicos provenientes das raízes.

A variedade SCS 114 Andosan é caracterizada por apresentar alto perfilhamento, o que pode também ter contribuído para os elevados fluxos de metano nesta fase. A capacidade de perfilhamento de cultivares de arroz pode levar a maiores emissões de metano por aumentar os canais do aerênquima e acelerar o seu transporte.

Outros picos de emissão ocorreram próximo ao estádio de iniciação da panícula e floração, estádios em que ocorre maior produção de exsudatos. A emissão sazonal de metano registrada neste estudo está entre as mais altas registradas nos experimentos de medição realizados em arrozais no país, correspondendo a um fator de emissão de 6,20 kg CH4 ha-1 dia-1, ou seja, cerca de quatro vezes a média indicada pelo IPCC 2019.

O Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 91 é de autoria de Magda Aparecida de Lima, Rosana Faria Vieira, Alfredo José Barreto Luiz e José Abrahão Haddad Galvão da Embrapa Meio Ambiente.