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Centro Cultural homenageia a capixaba Luz del Fuego em Cachoeiro de Itapemirim (ES)

Centro Cultural homenageia a capixaba Luz del Fuego em Cachoeiro de Itapemirim (ES). Na foto Brenda Perim e Marco Antônio Reis , da Cia NOS de Teatro | Foto: Divulgação

Cinquenta e seis anos e dois meses após a morte de naturista, bailarina, atriz, escritora capixaba Dora Vivácqua, que ficou famosa como apelido que se auto denominou de Luz del Fuego, finalmente ela ganha uma homenagem no Espírito Santo. Foi inaugurado no último mês,em Cachoeiro de Itapemirim o Centro Cultural Luz del Fuego, um  espaço cultural criado pela Companhia NÓS de Teatro.

O Centro Cultural Luz del Fuego, que teve sua criação anunciada no portal oficial do Governo do Estado, oferece  apresentação de espetáculos e irá proporcionar às pessoas interessadas em artes e cultura aulas gratuitas de teatro e balé. O espaço cultural fica localizado na Rua  Newton Prado, 29, no bairro cachoeirense de  Ibitiquara.

Os idealizadores dizem que o projeto conta com apoio da Lei de Incentivo a Cultura Capixaba (LICC) através do patrocínio da empresa recém privatizada ES Gás,além do ppoio da da Secretaria de Estado da Cultura (Secult). Coordenadora do Centro Cultural Luz del Fuego, Brenda Perim conta que a ideia de criar o espaço teve início em 2021, após inúmeros espaços culturais importantes terem sido devastados com as enchentes que aconteceram em Cachoeiro de Itapemirim no ano anterior.

Ela cita, como exemplo, a Escola de Teatro Darlene Glória, o Teatro Rubem Braga e a Biblioteca Pública Municipal. “No momento, o único espaço teatral que temos na cidade, com uma estrutura cênica adequada, é o popularmente chamado ‘Pracinha da Cultura’, que fica no bairro Aeroporto. Por ser um bairro mais distante do Centro, há certa dificuldade de locomoção para a ocupação constante desse espaço. Construir um novo espaço cultural é uma forma de suprir essa necessidade e possibilitar um novo eixo cultural na cidade”, afirma Brenda Perim.

“Sociedade burguesa e moralista do país na década de 1950”

Luz del Fuego, nome artístico de Dora Vivacqua – nascida em Cachoeiro de Itapemirim –, foi escolhida como símbolo para o batismo do centro cultural por tudo o que representa, não apenas como artista e feminista, mas sobretudo por sua postura desafiadora que colocou em xeque os valores da sociedade burguesa e moralista do país na década de 1950.

“Sem apoio da família, ela percorreu sozinha um longo caminho. Mesmo vindo de uma classe social privilegiada, não há como negar sua resiliência para lutar pela liberdade. Liberdade que lhe foi roubada, quando a assassinaram brutalmente nos anos 60. A memória de Luz del Fuego nos lembra que não devemos nos acovardar diante das injustiças por medo de nosso fim. Sem mulheres como ela, não estaríamos aqui”, ressalta a coordenadora.

O Centro Cultural Luz del Fuego fica na Rua Newton Prado, 29, Ibitiquara, Cachoeiro de Itapemirim (ES) | Foto: Google View Street

O que o Centro Cultural oferece

Oferecidas como contrapartida social, atendendo aos requisitos da LICC, as aulas gratuitas oferecidas no Centro Cultural Luz de Fuego contam com cinco turmas, sendo duas de teatro e três de balé. Cada turma tem capacidade para 20 vagas, totalizando 100 alunos, variando de acordo com a faixa etária.

As aulas de teatro são ministradas por Marco Antonio Reis, e as de balé por Juliana de Sá Dias Lopes. Os cursos são abertos a toda a população, sobretudo à comunidade que reside no entorno do centro cultural. As inscrições são on-line, e os interessados podem acessar o formulário clicando neste link.

A contrapartida social inclui ainda duas apresentações gratuitas de teatro. Contudo, a previsão é de que outros espetáculos gratuitos ocupem o espaço, com recursos provenientes de outros editais e leis de incentivo – a exemplo dos editais do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo (Funcultura) e do programa Fundo a Fundo da Cultura, ambos da Secult, e da Lei Rubem Braga de Incentivo à Cultura, da Prefeitura Municipal de Cachoeiro de Itapemirim.

“A Cia NÓS de Teatro já trabalha com projetos culturais há um tempo. Em geral, todos gratuitos. Já tínhamos projetos aprovados para serem oferecidos gratuitamente à comunidade local, mas ainda sem um espaço para realizá-los. Com a inauguração do centro cultural, será possível agregar esses projetos à programação do espaço”, diz Brenda Perim.

Já estão previstos um curso de produção cultural e apresentações de contação de histórias, dos espetáculos teatrais “O mundo assombrado” e “#Palavrascruzadas”, além de um show de stand-up comedy do Rio de Janeiro (este com venda de ingressos).

“Nossa meta é trazer para o centro cultural os grupos da cidade, que hoje não têm um local para realizar apresentações. Diversos artistas locais vão se apresentar em nosso evento de inauguração, inclusive. Como o grupo Anônimos, com ensaio aberto do novo espetáculo ‘A metamorfose’, que também foi contemplado por edital da Secult”, ressalta.

De acordo com Brenda Perim, a meta é manter o Centro Cultural Luz del Fuego em movimento contínuo, com aulas, espetáculos de teatro e dança e diversas outras ações culturais. “Queremos expandir a grade de cursos e oferecer espetáculos todo final de semana. Agora, no início, ainda não conseguiremos, mas acreditamos que, à medida que os artistas forem conhecendo o espaço, eles poderão nos ajudar a fortalecer as atividades.

Dora Vivácqua, a Luz del Fuego, foi e continua sendo uma revolucionária no Brasil, por ter desafiado o falso moralismo da sociedade brasileira | Vídeos: Arquivos históricos/Internet

Quem foi Luz del Fuego

Segundo o portal ebiografia, Dora Vivácqaua nasceu nasceu em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo, no dia 21 de fevereiro de 1917, numa madrugada de Segunda-feira de Carnaval. Foi a décima quinta filha de José Antônio Vivacqua e Etelvina Souza Monteiro Vivácqua.. Uma família abastada e ultraconservadora. Entre os irmãos de Dora havia Attilio Vivácqua, que foi  jornalista, vereador presidente da Câmara de Cachoeiro de Itapemirim, deputado estadual, senador entre 1946 a 1961, secretário de Estado da Educação e presidente da OAB.

O irmão , atualmente desconhecido pelas novas gerações, recebeu uma homenagem no dia 30 de dezembro de 1963 dos deputados estaduais daquela época que ao aprovar a emancipação do distrito de Marapé, de Cachoeiro de Itapemirim, deram nome ao novo município de Attílio Vivácqua. Com o passar dos anos, as novas gerações associam o nome de Attilio como sendo “o irmão de Luz del Fuego”.

No início dos anos 20, a família Vivacqua mudou-se para Belo Horizonte. “Luz del Fuego” foi o nome artístico adotado posteriormente por Dora Vivacqua. Ao conhecer o serpentário do Instituto Ezequiel Dias, fez dele o seu passeio preferido. Geniosa, não aceitava ordens nem opiniões sobre sua vida. Queria ir para o Rio de Janeiro. Abominava o uso do sutiã. Desfilava pela praia de Marataízes de calcinha e bustiê improvisado com lenços, quando o biquíni ainda estava longe de constar do vocabulário nacional. Com o assassinato de seu pai, em agosto de 1929, “Luz del Fuego” para o Rio de Janeiro, então capital federal, sob a tutela de seu irmão Attilio.

A família Vivácqua chegou internar Dora em hospitais psiquiátricos

Em janeiro de 1936, aos 19 anos de idade, vive um romance com José Mariano Carneiro da Cunha Neto, que pertencia a uma das mais importantes famílias do Rio. Attilio,o que dá nome ao municipio no Sul capixaba, era, ssgundo a biografia, intolerante com o relacionamento da irmã, mandou-a de volta para Minas Gerais. Certo dia, Luz del Fuego é flagrada com Carlos, um dos maiores empreiteiros da época, marido de sua irmã Angélica, em sua própria cama.

A maior parte da família preferiu acreditar nas mentiras de Carlos e pensando que sua cunhada era esquizofrénica a internou, durante dois meses, no Hospital Psiquiátrico Raul Soares, em Belo Horizonte.Preocupado com o estado da irmã, quando ela saiu do hospital, Achilles a convenceu a passar uma temporada na fazenda de Archilau, outro irmão, quatorze anos mais velho que ela.

Del Fuego passou a desfrutar de alguma liberdade, até que apareceu vestia apenas três folhas de parreira e duas cobras-cipós como braceletes, para o filho do administrador da fazenda, responsável em acompanhá-la onde quer que ela fosse. Quando repreendida por Archilau, jogou-lhe um vaso de cristal na testa. Toda essa rebeldia causou uma segunda internação, desta vez na Casa de Saúde Dr. Eiras, famosa clínica psiquiátrica do Rio de Janeiro.

Achilles interviu mais uma vez e a irmã Mariquinhas levou-a para morar com ela em Cachoeiro. Dora fugiu para o Rio de Janeiro e 1937, retomou seu romance com Mariano, mas não aceitou oficializar a relação.Aventurou-se como paraquedista, porém foi logo proibida por Mariano. As desavenças tornaram-se violentas, quando decidiu fazer um curso de dança na academia Eros Volúsia.

Em 1944 vira atração em circo

Em 1944, tornou-se a atração da noite no palco do picadeiro do Circo Pavilhão Azul, sendo anunciada como “a única, a exótica, a mais sexy e corajosa bailarina das Américas: Luz Divina e suas incríveis serpentes”. Fazia seu espetáculo na companhia do casal de jiboias Cornélio e Castorina.

No final da Segunda Guerra, havia treinamentos de blackout, que deixavam o bairro de Copacabana às escuras, preparando-se para imaginários ataques dos inimigos. Luz del Fuego anotava suas experiências pessoais em um diário. Em 1947, por sugestão do palhaço Cascudo, começou a adotar o nome artístico de “Luz del Fuego”, nome de um batom argentino recém lançado no mercado.

Conforme Cascudo, “nome atraía público”. A imagem do “fogo” representava bem a nova opção de vida da dançarina. Luz já havia salvado vários circos da falência com seus espetáculos, quando foi contratada pela primeira vez pelo casal Juan Daniel e Mary Daniel, donos do Follies, um pequeno teatro em Copacabana.

Suas falas, que ela nunca decorava, ficaram sob a responsabilidade de um jovem membro da família que, aos doze anos, ingressava na carreira artística: Daniel Filho. O espetáculo “Mulher de Todo Mundo” fez muito sucesso. As notas na imprensa começaram a aparecer e as atividades de Luz causavam incômodo à família. Attilio havia sido eleito senador e, ter uma irmã dançarina era um prato cheio para os adversários. Não bastasse isso, Luz resolveu publicar seu diário com o título de “Trágico Black-Out”.

Eram trechos comprometedores, como a sedução pelo cunhado, e fatos que aludiam a uma prostituição assumida. O senador conseguiu comprar mais da metade da edição, (mil exemplares) e colocar fogo nos volumes. Na orelha da capa do livro, Luz anunciava um segundo com o sugestivo nome de Rendez-vous das Serpentes.

A fama internacional com o naturalismo

Em 1950, começou a colocar em prática as ideias naturalistas de vegetarianismo e nudismo apresentadas em “Trágico Black-Out”. Segundo ela: “Um nudista é uma pessoa que acredita que a indumentária não é necessária à moralidade do corpo humano. Não concebe que o corpo humano tenha partes indecentes que se precisem esconder”.

Luz começou a tornar públicas suas ideias em um país onde ainda não se usava maiô de duas peças nas praias e o culto ao corpo se resumia aos concursos de Miss Brasil. Reunia um pequeno grupo de amigas na praia de Joatinga, próximo a sua casa na Av. Niemeyer. Era uma praia deserta devido ao difícil acesso. Acompanhada de Domingos Risseto, Miss Gilda e Miss Lana (estes dois, transformistas amigos de Luz), alguns cães e Cornélio e Castorina, recebeu a visita da polícia que levou todos para a delegacia.

Luz percebeu então que o nudismo lhe asseguraria a evidência. Publicou o livro “A Verdade Nua”. Nele lançava as bases de sua filosofia naturalista. A família não precisou se preocupar desta vez, porque as próprias autoridades deram sumiço no livro. A segunda edição foi vendida por reembolso postal. O dinheiro serviria para arrendar uma ilha na qual instalaria a sede de seu clube naturalista.

Assim, na primeira metade dos anos 50, Luz del Fuego causava furor por onde passava e começou a ser conhecida em todo o país. Seus shows eram garantia de bilheteria certa e levavam todos ao delírio. Era o tempo das vedetes: Mara Rúbia, Virgínia Lane, Dercy Gonçalves e Elvira Pagã, sua maior rival. Luz chegou a ser capa da revista Life, nos Estados Unidos. Foi detida, várias vez, por desacato à autoridade. Seus irmãos se destacavam na política, no comércio e na área artística. O parentesco era inoportuno e eles a perseguiam.

Luz tirava proveito da situação e, quando necessitava de dinheiro, ameaçava dançar nua nas escadarias do Senado. Attilio a chamava de chantagista, mas ela dizia que estava apenas cobrando a parte que lhe surrupiaram da herança paterna. Dizia que seu banco preferido era o “Preconceito S.A.”, de propriedade dos seus irmãos. Luz se cercava de amigos homossexuais e de seu principal parceiro no palco, era Domingos Risseto. Luz criou o PNB, Partido Naturalista Brasileiro, e conseguiu isto à custa de espetáculos gratuitos, seminua, nas escadarias do Teatro Municipal. Attilio impediu o registro do partido.

Luz seduziu o ministro da Marinha para conseguir a cessão de uma ilha para a sede de sua colônia, a ilha de Tapuama de Dentro, que tinha dois terços de seus oito mil metros quadrados formados de rochas, cactos e arbustos secos. A partir da segunda metade dos anos 50, a Ilha do Sol passou a ser uma das grandes atrações do Rio de Janeiro, apesar de não fazer parte dos roteiros turísticos oficiais.

Aviso que havia na entrada da Ilha do Sol, localizada na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro

Famosos que estiveram na Ilha do Sol

Várias estrelas do cinema americano conheceram a ilha: Errol Flynn, Lana Turner, Ava Gardner, Tyrone Powel, César Romero, Glenn Ford, Brigitte Bardot e Steve MacQueen, que encerrou sua temporada de uma semana na ilha depois de acordar com uma das jiboias de Luz sobre seu peito.Em 1959, a atriz Jayne Mansfield e seu marido aportaram na ilha, mas foram proibidos de descer, pois Jayne não queria ficar nua.

Nos anos 60 Luz passou a viver na Ilha do Sol. Suas reservas financeiras foram terminando, a idade foi chegando e o mito começou a desaparecer. Seus amantes já não eram homens influentes e ricos. Envolveu-se com Júlio, um pescador musculoso e analfabeto, com quem manteve uma relação de muitos meses. Seu último amor foi o guarda portuário Hélio Luís da Costa.

Os amigos quiseram alertá-la para um possível perigo do envolvimento com pessoas “deste nível”. Ela respondia que não se preocupassem e arrematava: “Eu sou uma Luz que não se apaga”. Em 19 de Julho de 1967 os irmãos Alfredo Teixeira Dias e Mozart “Gaguinho” Dias armaram uma emboscada para Luz del Fuego. As ações criminosas de Mozart haviam sido apontadas à polícia por Luz e ele queria se vingar. Atraiu Luz ao seu barco e a matou. Fez o mesmo com o caseiro Edgar

O crime só foi desvendado duas semanas depois, a partir do depoimento que um coveiro deu aos jornalistas Mauro Dias, do jornal O Dia, e Mauro Costa, do jornal Última Hora. Alfredo foi preso e confessou a participação nas mortes. Os corpos foram resgatados no dia primeiro de agosto. Gaguinho escapou de forma espetacular, trocando balas com a polícia durante quinze dias. Somente depois de ter matado um cabo, foi preso e condenado a pena máxima. Cumpriu sua pena no manicômio judiciário do Rio de Janeiro.

Luz del Fuego atuou em alguns filmes, como “No Trampolim da Vida” (1956) e “Comendo de Colher” (1959). Em 1982, a vida de Luz foi contada no filme “Luz del Fuego”, protagonizada por Lucélia Santos.

Serviço:

Local: Rua Newton Prado, 29, Ibitiquara, Cachoeiro de Itapemirim (ES)

Mais informações no site do centro cultural, clicando neste link.