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Estudo na Ufes define indicador para medir índice de gordura em doentes renais crônicos

Estudo inédito define indicador para medir índice de gordura em doentes renais crônicos | Fotos: Marina Barreto

Uma pesquisa realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde (PPGNS/Ufes) é a primeira do Brasil a identificar um ponto de corte e mostrar a eficácia do índice de conicidade (um dos mais utilizados indicadores da distribuição da gordura corporal) como indicador diagnóstico de obesidade abdominal em indivíduos com doença renal crônica em hemodiálise. Até então inexistente na literatura da área, o ponto de corte é importante para a saúde por auxiliar na avaliação do estado nutricional do paciente, além de poder ser utilizado em estudos epidemiológicos e na prática clínica nessa população.

O estudo foi desenvolvido em todas as unidades que atendem indivíduos com doença renal crônica em hemodiálise na Região Metropolitana da Grande Vitória, atingindo 953 pessoas dos municípios de Cariacica, Guarapari, Serra, Vila Velha, Viana, Vitória e Fundão. Nutricionistas, professores do Departamento de Nutrição e estudantes do curso participaram da coleta de dados, que ajudaram a nutricionista Cleodice Martins a desenvolver a dissertação de mestrado intitulada Índice de conicidade como indicador de obesidade abdominal em indivíduos com doença renal crônica em hemodiálise: uma análise de classes latentes.

Inovação

A partir dessa pesquisa, os indivíduos com doença renal crônica em hemodiálise passaram a ter um ponto de corte do índice de conicidade específico para o diagnóstico da obesidade abdominal. Até então, era utilizado um ponto de corte realizado com a população saudável e, de acordo com Martins, existem alterações na composição corporal e na distribuição da gordura corporal em um doente renal crônico em hemodiálise. “Apesar de ter uma diretriz da prática clínica para a nutrição na doença renal crônica esclarecendo a importância de utilizar o índice de conicidade para avaliar o estado nutricional, ainda não havia ponto de corte específico para esses indivíduos”, ressalta ela.

A pesquisa inovadora foi orientada pelos professores do Departamento de Educação Integrada em Saúde (Deis) Luciane Salaroli e José Luiz Rocha, e as duas fases do trabalho foram publicadas na Nutrition e na PLOS One, periódicos científicos internacionais das áreas de nutrição e saúde. Segundo Rocha, ambos os artigos têm grande relevância, tanto para cientistas de todo o mundo quanto para o melhor manejo de indivíduos em hemodiálise. “Os produtos da dissertação mostram a importância dos investimentos em pesquisa científica, que são essenciais para o desenvolvimento de ferramentas e protocolos para o adequado cuidado destes pacientes”, avalia.

Achados

O índice de conicidade é considerado um indicador prático e de baixo custo, que pode ser incluído na rotina clínica e em pesquisas científicas por ser uma ferramenta útil de rastreamento de risco cardiovascular e complicações metabólicas. Os pontos de corte para o índice de conicidade definidos de forma pioneira ao longo do trabalho de Martins foram identificados de acordo com o sexo: 1.275 para homens e 1.285 para mulheres. Embora o ponto de corte do indicador seja maior para as mulheres, o estudo concluiu que a prevalência da obesidade abdominal foi maior no sexo masculino.

Em outros achados, a pesquisa constatou que fatores como idade, cor e ausência de companheiro estiveram associados com a obesidade abdominal em indivíduos com doença renal crônica em hemodiálise. “Tanto os homens adultos quanto as mulheres adultas mostraram mais chances de apresentar obesidade abdominal, bem como os indivíduos autodeclarados pardos e os homens solteiros”, observa Martins.

Mortalidade

A professora Salaroli considera a doença renal crônica um dos principais problemas de saúde pública da atualidade, devido à complexidade do seu tratamento e ao impacto na qualidade de vida das pessoas: “Esses indivíduos possuem multimorbidade (doenças associadas) e, além disso, o estudo de Cleodice confirma elevados índices de obesidade abdominal na população estudada, o que pode trazer complicações adicionais no curso da doença”.

Tendo em vista essas complicações, Martins deu prosseguimento aos estudos sobre o indicador no curso de doutorado, iniciado este semestre no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC/Ufes). Enquanto no mestrado o foco foi analisar o índice de conicidade como auxiliar no diagnóstico da obesidade abdominal, no doutorado os estudos se voltam para o índice como preditor de mortalidade.

“Agora, vamos investigar o impacto da obesidade abdominal e da massa muscular na mortalidade de indivíduos com doença renal crônica em hemodiálise na Grande Vitória, estimando, dentre outros fatores, a taxa e o perfil dessa mortalidade”, diz ela, que, sob orientação da professora Salaroli, deve concluir o doutoramento em 2027.

Assim como a pesquisa desenvolvida ao longo do mestrado, os estudos do doutorado recebem financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes).

Texto: Adriana Damasceno