A relação da arqueologia histórica com a pesquisa em sítios históricos e os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos no Espírito Santo nos últimos anos são os temas gerais a serem discutidos durante o IV Encontro Capixaba de Arqueologia (Enca), que terá início nesta terça-feira (21). Os debates sobre gestão do patrimônio, acervos arqueológicos e arqueologia pré-colonial, além das apresentações de trabalhos previamente inscritos, acontecerão no Auditório do prédio IC II, no Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN, no campus de Goiabeiras) até a quinta-feira, 23. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas até o dia 21 por meio deste link.
Promovido bianualmente, o Enca é organizado pelo Instituto de Pesquisa Arqueológica e Etnográfica (Ipae) e pelo Grupo Extensionista de Arqueologia (GEA/Ufes). De acordo com o coordenador do encontro, Igor Erler, o evento tem como objetivo criar um ambiente acadêmico, científico e pedagógico que proporcione o debate acerca da arqueologia capixaba, colocando-se em sintonia com as discussões que envolvem a arqueologia brasileira.
“A ideia é proporcionar à sociedade civil o acesso dinamizado em relação ao conhecimento sobre os bens arqueológicos e, com isso, ser um instrumento de estímulo às ações voltadas à preservação deste rico patrimônio cultural tão expressivo em nosso estado”, avalia Erler, servidor técnico-administrativo da Ufes.
O historiador e arqueólogo Paulo Zanettini fará a conferência de encerramento, na qual abordará a temática Arqueologia histórica no âmbito das pesquisas de arqueologia preventiva. O IV Enca conta com o apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/ES).
Outras informações sobre o evento podem ser obtidas no perfil do Enca no Instagram e na página do encontro no Facebook.
Texto: Adriana Damasceno, com informações da organização
O que diz o Iphan sobre a arqueologia histórica capixaba
Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), no Espírito Santo, há inúmeros sítios arqueológicos cadastrados, a maior parte situada na região costeira, sobretudo no norte do estado, nos municípios de Linhares, São Mateus e Conceição da Barra. A região metropolitana de Vitória, principalmente Serra, Vitória, Vila Velha e Cariacica, também apresenta um grande potencial arqueológico.
As primeiras pesquisas arqueológicas no Espírito Santo remontam ao início da década de 1940, quando os geógrafos Alberto Ribeiro Lamego e o Othon Henry Leonardos identificaram sítios monumentais de populações sambaquieiras, às margens do rio Itabapoana. Na mesma época, pesquisas amadoras foram realizadas pelo médico sanitarista Aldemar de Oliveira Neves. Em 1943, neves publicou na Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo um artigo intitulado O ceramio de Sapucaia, onde relatou as escavações feitas em um sítio arqueológico situado no vale do rio Cricaré.
Outra relevante pesquisa ocorreu nesse período e consistiu na visita organizada pelo Museu Nacional, em que o museólogo e antropólogo Luiz de Castro Faria recebeu a “honrosa incumbência de colaborar com a Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), atual Iphan, no trabalho de elaboração do inventário preliminar das obras de valor arqueológico e etnográfico do estado do Espírito Santo”.
Um pouco mais tarde, o naturalista Augusto Ruschi publicou no Boletim do Museu de Biologia Professor Mello Leitão o artigo Contribuição à Arqueologia de Santa Tereza, no estado do Espírito Santo: Objetos de Pedra de Origem Indígena, no qual discutiu o conjunto de artefatos líticos coletados por ele nessa região, entre 1934 e 1953.
Pioneirismo nas pesquisas ocorreu entre os anos 1940 e 1950
As pesquisas realizadas entre os anos 1940 e final dos anos 1950 foram pioneiras para a arqueologia do estado, mas não chegaram a propor um modelo de culturas arqueológicas regionais, o que só se efetivou com as investigações realizadas no âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (Pronapa). Em 1958, uma expedição geográfica organizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificou alguns sítios de sambaquieiros no município de Aracruz, cujos artefatos em solo foram registrados nas imagens do fotógrafo Tibor Jablonsky.
Ainda em 1958, os professores Ernesto de Mello Salles Cunha (Odontologia na Universidade Federal Fluminense/UFF) e Alberto Stange (Antropologia na Universidade Federal do Espírito Santo/Ufes) realizaram pesquisas em diversos sambaquis nos arredores de Vitória. No ano seguinte, Salles da Cunha publicou os resultados dessas pesquisas no artigo Patologia Odonto Maxilar dos Homens dos Sambaquis, na Revista Brasileira de Odontologia, onde relatou ter notícia de outros sambaquis implantados no norte de São Mateus (no rio Santa Maria) e na Ilha do Gaspar (em Vitória).
Década de 1960
A década de 1960 marcou o início da arqueologia profissional no Brasil. É neste contexto que os arqueólogos iugoslavos Adam e Elfriede Orssich de Slavetich realizaram levantamentos e escavações, entre 1964 e 1965, sob o apoio institucional do Iphan. Tais pesquisas abrangeram mais de dez municípios do Espírito Santo e seus resultados foram reunidos anos mais tarde em uma publicação da Revista de Cultura da UFES (1981), sob o título Relatório Arqueológico do Espírito Santo. A revista incluiu 12 relatórios desse período, publicados em 1968.
No ano de 1968, o arqueólogo paranaense Celso Perota chegou ao Espírito Santo para desenvolver pesquisas em grande parte do estado, no âmbito do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (Pronapa). Tal momento representou a construção de um primeiro modelo de ocupação pré-colonial no território capixaba, onde foram definidas algumas culturas arqueológicas e cronologias regionais para as tradições cerâmicas conhecidas em outras regiões do Brasil.
Durante as décadas seguintes e até os dias atuais, Celso Perota continuou desenvolvendo pesquisas e passou a atuar na formação de outros profissionais, que atualmente seguem com investigações arqueológicas no âmbito acadêmico e no licenciamento ambiental.