Quatro dezenas de espécies de pequenos mamíferos da Mata Atlântica e do Cerrado terão seus habitats reduzidos pelas mudanças climáticas até 2070, colocando em risco 45% delas
Quarenta espécies de pequenos mamíferos na Mata Atlântica e no Cerrado perderão um quarto de seu habitat e quase metade delas estará ameaçada até 2070. Essa perda pode chegar a um terço do habitat, colocando em perigo ainda mais espécies encontradas nos dois biomas.
A extinção é possível, caso não haja políticas públicas de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e redução no uso dos combustíveis fósseis. Isso representa todas as espécies endêmicas do Cerrado e cerca de 35% das espécies endêmicas da Mata Atlântica analisadas no estudo publicado em 19 de fevereiro, no periódico Biological Journal of the Linnean Society.
Participação da Ufes
O estudo utilizou técnica de modelagem de nicho e foi realizado pelos pesquisadores Ana Carolina Loss, do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Bruno Henrique de Castro Evaldt e Yuri Luiz Reis Leite, ambos da UFES.
Na modelagem, os pesquisadores fazem simulações projetando áreas climaticamente adequadas para a ocorrência desses pequenos mamíferos, considerando o clima atual e quatro cenários futuros de mudanças climáticas a partir das projeções realizadas pelo Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC).
Urgência na proteção da biodiversidade
“Os dados obtidos levantam preocupações sobre o futuro dessas espécies e evidenciam a urgência na adoção de medidas para proteger a biodiversidade”, alerta Ana Carolina. Entre as espécies afetadas, algumas se destacam pelos impactos excessivos em sua área de distribuição, como o rato-do-mato (Cerradomys scoti) e o rato-do-chão (Calomys expulsus).
Enquanto algumas espécies enfrentam o risco de desaparecer dos locais onde ocorrem naturalmente devido às mudanças climáticas, outras podem começar a aparecer em regiões onde atualmente não são encontradas, sobretudo espécies mais adaptadas a áreas abertas.
Por exemplo, para os roedores Akodon cursor, Brucepatersonius iheringi e Nectomys squamipes, e para o marsupial Monodelphis iheringi, os modelos sugerem um aumento nas áreas adequadas de distribuição em todos os cenários de mudanças climáticas.“No entanto, esses casos são exceções. Para a maioria das espécies de pequenos mamíferos da Mata Atlântica e do Cerrado, as projeções são de redução significativa em sua área de distribuição”, explica a pesquisadora.
“Sem florestas, as espécies não sobreviverão”
O estudo destaca que, embora algumas regiões possam apresentar condições climáticas favoráveis no futuro para manter uma certa diversidade de espécies, a preservação dos ambientes é indispensável. “De nada adianta ter um clima propício se não houver conservação dos ecossistemas. Sem florestas e sem um ambiente saudável, as espécies não serão capazes de sobreviver, mesmo diante de condições climáticas favoráveis.
Portanto, ao estabelecer novas áreas protegidas e implementar estratégias de conservação, é essencial considerar a dinâmica das mudanças na distribuição das espécies em resposta às mudanças climáticas. Isso é particularmente importante para espécies endêmicas do Brasil, como o rato-do-mato (Juliomys ossitenuis) e o rato-de-espinho (Phyllomys sulinus), que correm o risco de uma redução extrema em sua área de distribuição. Por essa razão, essas espécies devem ser priorizadas em futuras iniciativas de conservação”, destaca Ana Carolina.