A Polícia Federal já deu início à apuração para apurar quais as circunstâncias que levaram o ex-presidente Jair Bolsonaro ficar escondido na Embaixada da Hungria por dois dois, durante o Carnaval, quatro dias após a Polícia Federal (PF) ter confiscado seu passaporte, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O fato de ter se escondido na embaixada húngaro levantou a suspeita no STF de que ele queria pedir asilo político.
O assunto veio a público nesta última segunda-feira (25), após o jornal americano The New Yoork Times, publicar uma matéria jornalística com a manchete “Video: Bolsonaro, Facing Investigations, Hid at Hungarian Embassy” (Bolsonaro, Enfrentando Investigações, Escondido na Embaixada da Hungria). O ministro Alexandre de Moraes deu um prazo de 48 horas para que Bolsonaro explique o motivo de se hospedar na embaixaba húngara, em Brasília.
Segundo a Agência Brasil, a PF vai verificar se o ex-presidente violou alguma restrição imposta pelo Supremo Tribunal Federal. De acordo com o jornal The New York Times, Jair Bolsonaro permaneceu durante o Carnavel deste ano, entre os dias 12 e 14 de fevereiro na embaixada da Hungria. O ex-presidente deu entrada na embaixada às 21h34 da segunda-feira de Carnaval, dia 12 de fevereiro.
Recepcionado pelo embaixador húngaro
Segundo imagens divulgadas pelo jornal, Bolsonaro ingressou na embaixada em 12 de fevereiro, sendo recebido pelo embaixador da Hungria no Brasil, Miklós Halmai, e ficou até a Quarta-feira de Cinzas, dia 14 de fevereiro. Ele estava acompanhado de dois seguranças no local. Ao longo do mandato, o ex-presidente cultivou uma relação com o presidente de extrema-direita da Hungria, Victor Orban.
Após a circulação do vídeo nas redes sociais e na imprensa brasileira, o ministro Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais, declarou que as imagens mostram que Bolsonaro é “fugitivo confesso”, relata a Agência Brasil. Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou que cabe ao ex-presidente dar as explicações devidas.
Em nota, os advogados do ex-presidente confirmam que ele se hospedou na embaixada em Hungria. Segundo a defesa, Bolsonaro conversou com inúmeras autoridades do país, atualizando o cenário político das duas nações. A nota diz ainda que quaisquer outras interpretações que extrapolem essas informações constituem obra ficcional. Procurada, a embaixada da Hungria no Brasil não se manifestou.
Embaixador foi chamado ao Itamaraty para dar explicações
O embaixador da Hungria em Brasília, Miklos Halmai, foi convocado nesta última segunda-feira para dar explicações no Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty. No entanto, segundo relatos de diplomatas que participaram do encontro à imprensa, Halmai foi evazido ee evitou dar as explicações com mais profundidsade. O embaixador húngaro ficou no Itamaraty por apenas 20 minutos, na maior parte do tempo mexendo no celular, e mais ouviu do que falou.
De acordo com diplomatas, a explicação breve que Halmai deu fdi repetir o que Bolsonaro havia dito ao jornal americano. Ele disse, de forma breve, que o ex-presidente realmente esteve hospedado na embaixada por dois dias, “para manter contato com autoridades da Hungria.” Antes de publicar a matéria, o News York Times, citou jornais brasileiros, como o Metropoles, onde Bolsonaro fez as seguintes afirmações: “Não vou negar que estive na embaixada. Tenho um círculo de amigos com alguns líderes mundiais. Eles estão preocupados.”
O jornal americano ainda pçrocurou o advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, que preferiu dar a informação através de um comunicado, onde confirmou que realmwente Bolsonaro passou dois dias na embaixada da Hungria, “para discutir política com diplomatas húngaros.” E completou: “Quaisquer outras interpretações,’ são obras claramente fictícias. Na prática, apenas mais uma notícia falsa.”
O que diz o New York Times
O jornal americano diz que em 8 de fevereiro, a Polícia Federal brasileirta confiscou o passaporte do ex-presidente Jair Bolsonaro e prendeu dois de seus ex-assessores, com acusações de que haviam planejado um golpe depois que Bolsonaro perdeu as eleições presidenciais de 2022.
Quatro dias depois, Bolsonaro dava na entrada da Embaixada da Hungria no Brasil, segundo imagens da câmera de segurança da embaixada, obtidas pelo The New York Times. O ex-presidente pareceu na embaixada durante os dois dias seguintes, acompanhado por dois seguranças e recepcionado pelo embaixador húngaro e funcionários.
O New York Times lembra que Bolsonaro foi um alvo de várias investiogações criminais e que ao se econtrar em uma embaixada estrageiranão poderia ser presos, por ser considerado um território estrageiro e que assim estava “fora dos limites das autoridades nacionais.”
“Tentativa de fugir do sistema de jurstiça brasileiro’, diz o NYT
“A permanência na embaixada sugere que o ex-presidente buscava alcançar asua amizade com um colega líder de extrema direita, o primeiro-ministro Viktor Orban, da Hungria, em uma tentativa de fugir do sistema de justiça brasileiro enquanto enfrenta investigações criminais em casa”, afirma o jornal americano.
“O Times analisou três dias de imagens de quatro câmeras na Embaixada da Hungria, mostrando que o Sr. Bolsonaro chegou na noite de segunda-feira, 12 de fevereiro, e saiu na tarde de quarta-feira, 14 de fevereiro. Nesse meio tempo, ele ficou quase sempre fora de vista”, prossegue o NYT. A data de saída, 14 de fevereiro, era a Quarta-Feira de Cinzas deste ano.
“O Times verificou a filmagem combinando-a com imagens da embaixada, incluindo imagens de satélite que mostravam o carro em que o Sr. Bolsonaro chegou estacionado na garagem em 13 de fevereiro. Um funcionário da Embaixada da Hungria, que falou sob condição de anonimato para discutir assuntos internos, confirmou o plano de receber o Sr. Bolsonaro”, prosseguiu.
“Irmão”, diz Bolsonaro para o extremista de direita Viktor Orban
Relata o NYT na sua matéria: “Bolsonaro e Orban tiveram uma relação próxima durante anos, em um terreno comum como dois dos líderes mais de extrema direita entre as nações democráticas. Bolsonaro chamou o Sr. Orban de seu ‘irmão’ durante uma visita à Hungria em 2022. Mais tarde naquele ano, o ministro das Relações Exteriores da Hungria perguntou um funcionário do governo Bolsonaro se a Hungria pudesse fazer alguma coisa para ajudar a reeleger o Sr. Bolsonaro, de acordo com o resumo do governo brasileiro sobre seus comentários.”
“Em dezembro, o Sr. Bolsonaro e o Sr. Orban se reuniram em Buenos Aires na posse do novo presidente de direita da Argentina, Javier Milei. . Lá, o Sr. Orban chamou o Sr. Bolsonaro de “herói”. .O Sr. Bolsonaro enfrenta aprofundamento das investigações criminais no Brasil. Nos 15 meses desde que deixou o cargo, a sua casa foi revistada, o celular dele e passaporte confiscado, e vários de seus aliados e ex-assessores preso”, continuou o NYT.
“Os casos que visam Bolsonaro envolvem diversas acusações, inclusive de que ele participou de conspirações para vender jóias ele recebeu como presentes do Estado enquanto era presidente e falsificado seus registros de vacinação contra Covid-19 para viajar para os Estados Unidos. Polícia federal do Brasil na semana passada acusações criminais recomendadas contra o ex-presidente no caso envolvendo os falsos cartões da vacina Covid-19, mas os promotores ainda não opinaram”, diz o jornal americano.
“Nas acusações mais graves, a polícia disse que o Sr. Bolsonaro traçado com vários de seus principais ministros e assessores para tentar manter o poder depois que ele foi derrotado na eleição. A polícia prendeu alguns de seus principais aliados em 8 de fevereiro e invadiu as casas de outros. Horas depois, Sr. Orban postou uma mensagem de encorajamento para o Sr. Bolsonaro, chamando-o de “patriota honesto” e dizendo-lhe para “continuar lutando”, continuou.
Detalhes da entrada e permanência na embaixada húngara
De acordo com o NYT, Bolsonaro entrou detro da embaixada húngara às 21h34 da segunda-feira de Carnaval, dia 12 de devereiro de 2024, em um carro preto. “Um homem saiu, eventualmente batendo palmas para chamar a atenção de alguém lá dentro. Três minutos depois, o Sr. Halmai (o embaixador da Hungria) abriu o portão e indicou onde estacionar.”
Bolsonaro e dois homens que pareciam ser seguranças saíram do veículo. O embaixador Halmai conduziu-os para dentro. Depois de conversar brevemente, os quatro homens entraram em um elevador. Nas duas horas seguintes, funcionários da embaixada fizeram várias viagens em direção a uma área do prédio onde havia dois apartamentos de hóspedes, de acordo com a filmagem e o funcionário da embaixada.
Eles carregavam roupas de cama, água e outros itens, até que a atividade parou por volta das 23h40.Na manhã seguinte, às 7h26 da manhã, o embaixarod. Halmai saiu da área residencial e digitou em seu telefone. Meia hora depois, o embaixador e outro homem trouxeram uma cafeteira para a área residencial. Durante o resto do dia, os funcionários húngaros circularam pelo terreno da embaixada, incluindo um pai com um filho, relata o NYT.
No início da noite, Bolsonaro passeava pelo estacionamento da embaixada com um de seus seguranças. .Duas vezes, os seguranças de Bolsonaro foram embora. Perto do horário do almoço, um guarda voltou com o que parecia ser uma pizza. Às 20h38, outro guarda voltou para o estacionamento da embaixada com outro homem no banco de trás. “Carregando uma sacola, aquele homem entrou na área residencial onde o Sr. Bolsonaro parecia estar hospedado. O homem saiu 38 minutos depois. Quando o carro partiu, um homem parecido com o Sr. Bolsonaro saiu da área residencial para assistir”, informa o jornal dos Estados Unidos.
Em 14 de fevereiro, os diplomatas húngaros contataram seus funcionários brasileiros locais, que deveriam retornar ao trabalho no dia seguinte, dizendo-lhes para ficarem em casa pelo resto da semana, segundo o funcionário da embaixada. Eles não explicaram o porquê, disse o informate.
Naquele dia, Bolsonaro foi visto pela primeira vez nas imagens da câmera de segurança às 16h14, quando ele e seus dois guardas saíram da área residencial carregando duas mochilas e foram diretamente para o carro. O embaixador ficou para trás. Halmai viu o carro sair e acenou adeus.