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Pesquisadores lançam repositório com produção poética do período da ditadura militar

Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker em protesto contra a censura artística | Foto: Arquivo Nacional

Com o objetivo de refletir sobre o lugar da poesia na construção da memória cultural brasileira em torno da ditadura militar no Brasil, pesquisadores da Ufes, do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) e da Universidade Federal de Goiás (UFG) se reuniram para realizar um levantamento de poemas sobre o tema escritos durante a vigência oficial do regime, entre 1964 e 1985. Intitulado Memorial poético dos anos de chumbo, o projeto já disponibilizou os primeiros resultados da pesquisa no site https://mpac.ufes.br/.

Com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Apoio à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes), o projeto é coordenado pelos professores Marcelo Ferraz, da UFG; Nelson Martinelli Filho, do Ifes; e Wilberth Salgueiro, da Ufes.

A iniciativa surgiu a partir do interesse compartilhado pelos professores, que já trabalham com temáticas como poesia e ditadura, violência, questões da sociedade e como a literatura lida com os problemas sociais.

O Memorial Poético dos Anos de Chumbo é um projeto em rede, de caráter interdisciplinar, que integra pesquisadores de diversas universidades brasileiras. O projeto conta com outros 13 professores de todas as regiões do Brasil. Participam ainda doutorandos, pós-doutorandos e mestrandos, que também estão vinculados oficialmente ao projeto, além de quatro bolsistas graduados na área de Letras.

Com vigência até o início de 2025, o memorial está aberto à colaboração de outros professores, estudantes e da sociedade em geral.

Poema de Carlos Marighella, ‘O País de uma nota só’ | Imagem: Memorial poético: Ifes/Ufes

O projeto

De acordo com a coordenação do projeto, a produção poética durante a vigência da ditadura militar no Brasil é particularmente carente de estudos críticos que explorem a fundo seus vínculos com a vida social, a história, as políticas da memória e os direitos humanos. Essa produção abarca um repertório poético heterogêneo, amplo e, em vários casos, de difícil acesso, dadas as limitações do mercado editorial à época, o desinteresse pela publicação de poesia e o impacto da censura, que, quando não proibia ou recolhia obras publicadas, despertava o medo em autores e editores em divulgar obras de contestação sob o risco de sofrerem futuros prejuízos e perseguição.

Na pesquisa são consideradas todas as tendências poéticas que circulavam à época, de autores consagrados que escreveram durante e sobre o período, como Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes, a poetas populares, anônimos ou ignorados nos debates literários posteriores. O repertório abarca poemas experimentais, tradicionais, pops, populares, marginais, engajados, confessionais, de propaganda política.

O levantamento priorizou três eixos temáticos que nortearam a seleção: Repressão – poemas que abordam a tortura, o exílio, a prisão, a censura, o “desaparecimento” e a vida em clandestinidade; Resistência – poemas que mencionam passeatas, atos públicos, movimentos políticos nas cidades e no campo, convocações à luta, reflexões sobre o caráter mobilizador da poesia e homenagens a militantes; e Cotidiano – poemas que revelam os sentimentos da época, sátiras ao discurso ufanista e ao projeto tecnocrata do regime, crise e euforia econômica, e a “banalidade do mal”.

Banco de dados

O site do Memorial Poético já está disponível para acesso e atualmente conta com cerca de 1.200 poemas. Os textos publicados foram transcritos, revisados e referenciados a partir de suas características básicas e o acervo final constitui um banco de dados público e confiável, à disposição de leitores, pesquisadores, professores e estudantes que se interessem pelo assunto.

O levantamento de obras seguirá ativo até 2025, ampliando continuamente o acervo. O projeto prevê também a publicação de uma antologia, com previsão de lançamento para novembro deste ano.

Texto: Ifes, divulgado pela Assessoria de Imprensa da Ufes