A partir da análise da perspectiva de pessoas negras sobre a influência de raça/cor na obtenção de um trabalho considerado decente (segundo conceito da Organização Internacional do Trabalho – OIT) e da construção das carreiras desses trabalhadores, uma pesquisa realizada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP/Ufes), mensurou, de maneira inédita, as microagressões raciais sofridas pela população negra.
E concluiu que as trajetórias de carreira dos negros brasileiros sofrem impactos e influência do racismo, com nuances no desenvolvimento profissional. Além disso, a pesquisa avaliou que fatores como escolaridade, renda e classe social podem atenuar as dificuldades dessa parcela populacional.
Após este achado, a pesquisadora deu início ao segundo estudo, Versão brasileira da Racial and Ethnic Microaggressions Scale (REMS), do qual participaram 482 pessoas negras com mais de 18 anos de idade, de diferentes classes sociais. A finalidade desta etapa foi adaptar as propriedades psicométricas e a invariância da REMS para a população brasileira.
A pesquisadora pontua que foram encontradas evidências de validade externa que demonstraram a associação entre os domínios de microagressões raciais com renda e escolaridade. “A adaptação foi bem sucedida. Estabelecemos a escala de racismo, uma base instrumental sólida para investigações futuras e aplicação prática deste tema na promoção de ambientes mais inclusivos”, avalia.
Ela ressalta que a escala de racismo desenvolvida durante o estudo poderá ser aplicada em diferentes contextos, como pesquisas institucionais, no trabalho, na escola e em estudos na área da saúde que busquem correlacionar com fenômenos como estresse, ansiedade e autoestima.
Orientador da pesquisa, o professor do PPGP Alexsandro de Andrade avalia a relevância do trabalho desenvolvido por Juliana Nunes não só para o Brasil, mas para todo o cenário latino-americano: “Cada vez mais, a pesquisa com pessoas em situação de vulnerabilidade se torna agenda presente e compromisso da Universidade e dos diferentes setores da sociedade com a justiça social”.
Espaços
Tendo ingressado no curso de graduação em Psicologia na Ufes por meio de cotas, Juliana Nunes observa que muitos estudantes na mesma situação se sentem perdidos: “Nós, muitas vezes, não somos instigados a sonhar com a ocupação de determinados espaços. Ficamos perdidos, tentando e tentando, para ver o que dá certo”.
Ela pretende continuar com a mesma linha de estudos no curso de doutorado e seguir com a orientação do professor Andrade. “Meu orientador conduz um projeto de extensão [Carreiras contemporâneas e justiça social] que faz orientação profissional e minha ideia é trabalhar com intervenções. Sei que nós não podemos parar o racismo, mas acho que dá para criar formas de facilitar a inserção profissional e o planejamento de carreira da população negra”, conclui.
Desenvolvida durante o curso de mestrado da psicóloga Juliana Nunes, a pesquisa Racismo e suas “sutilezas”: uma análise integrada dos impactos e influências no desenvolvimento profissional e de carreira de pessoas negras brasileiras entrevistou 492 homens e mulheres pretos ou pardos, com trabalhos formais ou informais, de todo o país. O grupo foi analisado em dois estudos diferentes, que compuseram a pesquisa central.
De acordo com a pesquisadora, muitos brasileiros ainda acreditam que o racismo se manifesta somente de forma violenta e direta e, até o desenvolvimento da pesquisa, não havia uma forma de mensurar as microagressões raciais, definidas por ela como declarações e comportamentos sutis que, de maneira inconsciente, comunicam mensagens depreciativas a pessoas negras.
“Os estudos psicométricos já realizados medem o racismo de forma mais geral e a maioria foi construída a partir da perspectiva de pessoas brancas e não pela visão daqueles que realmente sofrem os ataques, que são as pessoas negras. As microagressões raciais entram na classificação de racismo e, consequentemente, causam impactos sociais e psicológicos nas pessoas”, explica Juliana Nunes.
Trabalho decente
Para chegar aos resultados da pesquisa, ela desenvolveu dois estudos paralelos. O primeiro, Perspectivas de Trabalho Decente: Influências nas trajetórias profissionais de trabalhadores negros no Brasil, buscou explorar o conceito de trabalho decente a partir da perspectiva de pessoas negras brasileiras; compreender qual a perspectiva de trabalhadores negros sobre influência da raça/cor e da classe social na trajetória profissional e de carreira; e analisar narrativas de acesso e dificultadores a um trabalho decente, bem como suas consequências para o alcance de funções psicossociais do trabalho. Trabalho decente é um conceito da OIT que designa aquela atividade capaz de suprir as necessidades básicas e permitir o bem-estar e a qualidade de vida dos trabalhadores.
Dez pessoas negras, com idades entre 21 e 54 anos, participaram desta fase da pesquisa e os dados coletados destacaram a percepção delas sobre a existência de diferenças no tratamento entre negros e brancos. A raça/cor foi identificada como um fator que influencia a trajetória de carreira, desde a formação, a inserção e o desenvolvimento, até a ocupação de postos de trabalho considerados melhores e de maior prestígio. “As narrativas ressaltaram o quanto o racismo está imbricado a aspectos sociais, políticos, econômicos e que, no geral, as agressões raciais nem sempre são manifestadas de maneira direta e explícita, mas ocorrem de modo ‘sutil’, por meio de microagressões raciais”, analisa Juliana Nunes.
Microagressões
Após este achado, a pesquisadora deu início ao segundo estudo, Versão brasileira da Racial and Ethnic Microaggressions Scale (REMS), do qual participaram 482 pessoas negras com mais de 18 anos de idade, de diferentes classes sociais. A finalidade desta etapa foi adaptar as propriedades psicométricas e a invariância da REMS para a população brasileira. A pesquisadora pontua que foram encontradas evidências de validade externa que demonstraram a associação entre os domínios de microagressões raciais com renda e escolaridade. “A adaptação foi bem sucedida. Estabelecemos a escala de racismo, uma base instrumental sólida para investigações futuras e aplicação prática deste tema na promoção de ambientes mais inclusivos”, avalia.
Ela ressalta que a escala de racismo desenvolvida durante o estudo poderá ser aplicada em diferentes contextos, como pesquisas institucionais, no trabalho, na escola e em estudos na área da saúde que busquem correlacionar com fenômenos como estresse, ansiedade e autoestima. Orientador da pesquisa, o professor do PPGP Alexsandro de Andrade avalia a relevância do trabalho desenvolvido por Juliana Nunes não só para o Brasil, mas para todo o cenário latino-americano: “Cada vez mais, a pesquisa com pessoas em situação de vulnerabilidade se torna agenda presente e compromisso da Universidade e dos diferentes setores da sociedade com a justiça social”.
Espaços
Tendo ingressado no curso de graduação em Psicologia na Ufes por meio de cotas, Juliana Nunes observa que muitos estudantes na mesma situação se sentem perdidos: “Nós, muitas vezes, não somos instigados a sonhar com a ocupação de determinados espaços. Ficamos perdidos, tentando e tentando, para ver o que dá certo”.
Ela pretende continuar com a mesma linha de estudos no curso de doutorado e seguir com a orientação do professor Andrade. “Meu orientador conduz um projeto de extensão [Carreiras contemporâneas e justiça social] ( v ) que faz orientação profissional e minha ideia é trabalhar com intervenções. Sei que nós não podemos parar o racismo, mas acho que dá para criar formas de facilitar a inserção profissional e o planejamento de carreira da população negra”, conclui.
Texto: Adriana Damasceno / Ufes