A comunidade de Santa Rosa, localizada no município de Aracruz, no norte do Estado, recebeu na manhã desta segunda-feira, 3, o lançamento do projeto Manutenção do Estoque Natural: Experiências Compartilhadas com a Comunidade Extrativista. A iniciativa é coordenada pela professora do Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas do campus da Ufes de São Mateus, Mônica Tognella, e tem por objetivo recuperar as áreas degradadas do manguezal dos rios Piraquê-Açú-Mirim, local de grande biodiversidade e que é essencial para as comunidades tradicionais e povos indígenas que lá vivem.
Durante a solenidade, foi realizada a assinatura simbólica de um termo de cooperação entre a Ufes, a Fundação Espírito-santente de Tecnologia (Fest) e a Prefeitura de Aracruz para o desenvolvimento de ações em prol da preservação do meio ambiente. Depois, o lançamento do projeto foi marcado por um plantio de mudas de plantas nativas da região.
O reitor da Ufes afirmou que essa iniciativa reforça o compromisso da Ufes com as questões sociais e ambientais. “Fico muito satisfeito em ver que essa parceria foi consolidada. Essa é a resposta que nós, acadêmicos, precisamos dar para a sociedade. Espero que daqui a dois anos possamos fazer o mesmo registro, olhando para esse manguezal de uma outra forma, renovado”, disse.
Monitorando os peixes
Eustáquio de Castro lembrou que a Universidade já vem atuando na região por meio do Programa de Monitoramento da Biodiversidade Aquática (PMBA), coordenado pela Ufes, mas que conta com a participação de outras 40 universidades: “desde 2015 estamos monitorando os peixes daqui e vamos continuar monitorando. Temos esse compromisso social”.
Participaram do lançamento do projeto o reitor da Ufes, Eustáquio de Castro; a vice-reitora Sonia Lopes; o superintendente da Fest, Armando Biondo; o diretor do Centro Univesitário Norte do Espírito Santo (Ceunes), Luiz Fávero; o representante do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guilherme Studart; o prefeito de Aracruz, Luiz Carlos Coutinho; o secretário de Meio Ambiente de Aracruz, Aladim Cerqueira.
Também compareceu a subsecretária de Estado da Biodiversidade e Áreas Protegidas, Fabiana Cruz; o coordenador do Centro Tamar do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Joca Thomé; e o representante do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Felipe Bastos, entre outras autoridades e representantes das comunidades locais.
Projeto de restauração
Segundo a professora Tognella, o manguezal dos rios Piraquê-Açú e Piraquê-Mirim possui em torno de 1.800 hectares. “Desse total, cerca de 600 hectares são área morta ou degradada. É nesse espaço que o projeto vai atuar e buscar, ao longo dos próximos quatro anos, restaurar 201 hectares em parceria com o Fundo Brasileiro para Biodiversidade (Funbio)”, explica.
“Mas a nossa ambição é ampliarmos este número e tornar a sociedade local capacitada para restaurar aquelas degradadas e conservar as naturais”, continua a professora, que conta com a parceria de outros 13 pesquisadores vinculados aos programas de pós-graduação em Agricultura Tropical, Biologia Vegetal e Oceanografia Ambiental.
Sobre o projeto recém lançado, a docente explica que ele consiste no desenvolvimento de diferentes técnicas de restauração para identificar aquelas mais eficientes para os manguezais: “Esse estudo integrado e inédito vai contribuir para o avanço científico no conhecimento dos tensores ambientais relacionados às mudanças climáticas e como estes podem interferir nos processos de sequestro e armazenamento do carbono pelos manguezais, em nível biológico e geológico, em curta e larga escala”.
Parcerias
Além Funbio, o projeto Manutenção do Estoque Natural conta, desde a sua concepção, com a participação de diferentes atores. Um exemplo é a participação dos servidores da Secretaria de Meio Ambiente de Aracruz (Semam) e gestores da Reserva Municipal de Desenvolvimento Sustentável dos rios Piraquê-Açú e Piraquê-Mirim (RDS). “Durante a elaboração do projeto, reconhecemos a importância da participação dos atores sociais que dependem deste ambiente para sua sobrevivência”, justifica a professora Tognella.
Ainda de acordo com a docente, o projeto possui um conselho deliberativo envolvendo os agentes citados e também lideranças das quatro comunidades localizadas no entorno da Reserva Municipal.
“A comunidade local será capacitada para desenvolver as técnicas de restauração. Já houve registros dos interessados em participar efetivamente do projeto e, durante 24 meses, contaremos com os catadores e catadoras de caranguejos nas atividades de restauração”, explica.
Tognella afirma ainda que, sempre que possível, as decisões serão tomadas de maneira coletiva e inclusiva. “Durante as exposições dialogadas do projeto para a comunidade e suas lideranças houve várias sugestões que estão sendo acatadas e incorporadas nas nossas ações. Outro diferencial do projeto é buscar sempre a igualdade entre gêneros e inclusão das diversas etnias locais”, salienta.
Comunidade Santa Rosa
A comunidade de Santa Rosa será a referência inicial do projeto, pois a maior área de manguezal degradado está no seu território. Sendo assim, a expectativa é que os benefícios sejam amplos. “Não só na questão da incorporação do carbono por esta floresta que deixar de ser degradada, mas pelo elo da cadeia alimentar que será restaurado”, esclarece Mônica Tognella.
“A floresta em pé é base para a matéria orgânica que sustenta toda a vida da cadeia alimentar do manguezal, baseada nos organismos decompositores, como os caranguejos. Esta fauna, além da sua importância ecológica, como engenheiros do ecossistema, são base de sustento alimentar e subsidiam economicamente estas comunidades locais’, continua ela.
Integram o projeto os pesquisadores da Ufes Andreia Gontijo, Antelmo Falqueto, Gilberto Barroso, Jacqueline Albino e Renato Rodrigues Neto. Também participam da iniciativa os estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado Andre Amorim, Carolina Palma, Evandro Malanski, Giulia Maya, Helia Espinoza, Izabella Marques, Lucas de Castro e Maykol Silva.
Tognella destaca que a integração entre esses pesquisadores de diferentes áreas, segundo a coordenadora do projeto, é reflexo da forma multidisciplinar que o ecossistema manguezal deve ser abordado cientificamente.
“Todas as ações serão divulgadas cientificamente para o público de forma acessível e, sempre que possível, estes materiais também serão traduzidos para as línguas tupi e guarani, dos povos indígenas locais”, conclui a professora.