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Sindibancários-ES repudia censura imposta pelo Banestes à campanha salarial dos bancários


Vídeo da campanha salarial dos empregados dos Banestes, chamados de “banestianos” denunciando um caso de adoecimento mental de uma funcionária vítima de assédio, foi censurado em rádios, TVs e nas redes sociais a pedido do banco


Sindibancários-ES repudia censura imposta pelo Banestes à campanha salarial dos bancários | Imagem: Reprodução

O Sindicato dos Bancários do Espírito Santo (Sindibancários-ES) está manifestando indignação e repúdio à direção do Banestes, o banco público do Governo do Estado, por ter decidido recorrer à Justiça para censurar um vídeo da campanha salarial dos banestianos. O Sindicato foi notificado na última segunda-feira (26) pela Justiça estadual.

Segundo o Sindibancários-ES, “a censura sequestra um direito legítimo e legal do Sindicato de empreender ações relacionadas à campanha salarial das banestianas e dos banestianos no âmbito da renovação do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT). É sempre oportuno registrar que o artigo 220º da Constituição Federal (CF) de 1988 estabelece que a liberdade de manifestação do pensamento, de criação, de expressão e de informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerá qualquer restrição, observado o que nela estiver disposto. Na análise do Sindicato, a censura imposta fere o artigo 220º da CF”, diz a entidade sindical.

Vídeo censurado

O Banestes obteve na sexta-feira (23) uma medida liminar da 5ª Vara Cível de Vitória, que determinou que os veículos de TV, rádio e sites de notícias retirassem do ar um vídeo produzido pelo Sindicato exclusivamente para a campanha salarial dos banestianos. “No vídeo censurado a pedido do Banestes, uma atriz dramatiza um caso real de adoecimento mental de uma funcionária do Banestes vítima de assédio. O vídeo de um minuto de duração tem a participação de outra atriz que apresenta dados da pesquisa sobre adoecimento mental realizada pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) com bancários da base capixaba”, informa o Sindibancários-ES.

O recorte apresentado no vídeo traz dados da saúde mental das empregadas e dos empregados do Banestes apurados pela pesquisa da Ufes e faz críticas à gestão do diretor-presidente do banco, Amarildo Casagrande, e ao governador do Partido Socialista Brasileiro, Renato Casagrande, que o avaliza na direção da instituição.

“Ao contrário das alegações do Banestes apresentadas à Justiça, as críticas, em nenhum momento, ofendem a honra ou a moral do diretor-presidente do Banestes ou do governador. A crítica se escora no artigo 220º da CF e se mantém atenta à primazia de respeitar o cerne essencial dos direitos fundamentais à dignidade da pessoa humana”, explica a entidade sindical.

Saiba o que diz o vídeo censurado

A transcrição do roteiro do vídeo na íntegra (abaixo) tem o intuito de permitir que o leitor avalie se o texto se baliza nos limites da crítica ou se de fato ofende a honra e a moral do diretor-presidente do Banestes e do governador .

  • (Depoimento da 1ª atriz baseado em um caso real): Eu buscava oportunidade de crescimento no Banestes. Mas o que encontrei foi assédio. Não conseguia mais trabalhar. Recorri ao setor de recursos humanos para pedir ajuda, mas nada adiantou. Me sinto perseguida.  Hoje faço tratamento com antidepressivos.
  • (2ª atriz traz dados da saúde mental e faz críticas à gestão): Os bancários do Banestes estão adoecidos. A causa? O modelo de gestão do banco, com cobrança de metas, assédio moral e perseguições. Além de uma direção que não dá perspectiva de carreira aos bancários. Pesquisa da Ufes confirma: estresse, ansiedade e depressão afetam mais da metade dos empregados do banco.

De acordo com o sindicato, a direção do Banestes, sob o comando de Amarildo e do socialista do PSB Renato Casagrande, nega tudo nas negociações da campanha salarial e não quer garantir qualidade de vida aos funcionários. “Trabalho tem que ser promessa de vida. Por negociações justas!”, diz o Sindibancários.

Cobrança de metas irreais e abusivas

Uma das reclamações dos bancários do Banestes é a abusividade e a cobrança de metas acima da realidade, que está sendo uma realidade da categoria em todo o país. “Não por coincidência, uma das reivindicações centrais do Comando Nacional dos Bancários na campanha salarial nacional tem sido o fim da cobrança abusiva de metas, aliada do assédio moral e gatilho do adoecimento mental epidêmico da categoria”, atesta a entidade em nota.

A deterioração da saúde da categoria bancária nos últimos anos tem sido motivo de preocupação das centrais e dos sindicatos. Há pesquisas recentes sobre o tema feitas pela Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal Fluminense. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) também tem publicado estudos a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Todas essas fontes confirmam o agravamento do adoecimento mental da categoria. Esses dados, aliás, têm sido utilizados na mesa nacional para cobrar ações da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), da qual o Banestes é integrante.

Ufes fez pesquisa

De acordo com o Sindibancários, diante da escalada das metas abusivas, apoiou a Ufes a desenvolver a pesquisa intitulada “A nossa saúde importa” e que pode ser conferida clicando neste link CAAE:71099023.4.0000.5542/Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito-Ufes. O resultado não foi diferente do que se esperava.

De acordo com o Sindibancários e dos dados do link acima, foi comprovado que a saúde mental dos bancários capixabas espelhava a situação da categoria país afora. O estudo teve o propósito de conscientizar os bancos e a população em geral sobre a grave situação de saúde dos trabalhadores bancários no Espírito Santo.

Chefia do Banestes tentou desqualificar pesquisa cientifica da Ufes

“Na mesa de negociações com o Banestes, em duas rodadas específicas sobre o tema saúde e condições de trabalho, nossa expectativa era de que a direção do banco se sensibilizasse ante o grave problema, acolhesse a pesquisa e se propusesse a buscar, em conjunto com o Sindicato, soluções para melhorar a saúde dos seus funcionários. Mas o Banestes optou por uma posição negacionista, primeiro tentando desqualificar os dados da pesquisa na mesa de negociações e, em seguida, recorrendo à estratégia de recorrer à Justiça para censurar os dados científicos do estudo em vez de tentar entendê-los”, explicou a entidade por nota.

Sem diálogo, o Sindicato, como representante legal dos empregados do Banestes, faz a crítica no vídeo ao governador socialista do PSB e ao diretor-presidente do banco para registrar a inércia da direção da instituição nas negociações. “Não se tratam de ilações, mas de fatos. A comissão de negociações do Sindicato, desde o início da campanha salarial, já se reuniu oito vezes com o banco e até agora a direção do Banestes não apresentou respostas efetivas às reivindicações das banestianas e dos banestianos”, prosseguiu.

Propostas ignoradas pelo Banestes

O Benestes alegou para o Poder Judiciário, segundo relato do Sindibancários-ES que o vídeo censurado teria sido uma suposta “reação às negativas do banco às reivindicações da categoria”. E ainda alegou que o “Sindibancários apresentou proposta de reajuste absurdas e em dissonância com a realidade econômica nacional (…)”.

“O que o Banestes classifica como ‘proposta absurda’ é o aumento real de 10% acima da inflação. A ‘proposta absurda’ dos trabalhadores tem o intuito de repor as perdas históricas dos banestianos, que somente entre os anos de 1995 e 2008 chegaram a 46,89%. Mais absurdo é um banco público aumentar o lucro em mais de 231% entre 2019 e 2023 (de R$ 112 milhões para R$ 371 milhões) e não reconhecer que são os empregados do banco os verdadeiros protagonistas desse resultado”, disse em nota o sindicato.

E finaliza reiterando repúdio “à postura autoritária do governador (socialista) e do diretor-presidente do Banestes.” “Casagrande e Amarildo Casagrande confirmam que são avessos ao diálogo e preferem calar os trabalhadores a debater ideias. O Sindicato dos Bancários-ES se manterá firme no caminho da democracia e lutará contra todas as formas de censura, especialmente as que ferem os direitos dos trabalhadores. Vamos seguir convictos no propósito de construir uma proposta digna, que coloque a saúde das empregadas e dos empregados do Banestes sempre acima do lucro”, concluiu.