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Idaf e MPES querem que apicultores registrem a mortandade de abelhas


As abelhas estão sendo mortas no Espírito Santo devido ao uso abusivo de agrotóxicos, que são proibidos em outros países. Liberados no Brasil, o veneno cancerígeno e ultra tóxico vem dizimando as abelhas


Idaf e MPES querem que apicultores registrem a mortandade de abelhas | Fotos: Freepik

O uso abusivo de agrotóxicos proibidos em outros países, vem causando a morte de abelhas em todo o Brasil. Diante dessa realidade, mas sem fazer esforços para proibir a continuidade do envenenamento das plantações agrícolas, o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), em parceria com o Ministério Público do Espírito Santo (MPES) e o Fórum Espírito-Santense de Combate a Impactos de Agrotóxicos e Transgênicos (FESCIAT) estão alertando aos apicultores para que notifiquem a morte das abelhas.

“O que acontece é que as abelhas precisam buscar néctar e pólen das flores e elas acabam visitando as plantações, e esse uso de agrotóxicos, que aqui no Brasil está se tornando cada vez mais intenso e prejudicial, acaba por levar à morte essas abelhas”, explica o professor Tiago Maurício Francoy, do curso de Licenciatura em Ciências da Natureza da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP e especialista em abelha. A explicação do professor foi divulgada pela TV USP tempos atrás.

Sem punição ao que ocasiona a morte das abelhas

Em um Congresso Nacional onde a bancada ruralista faz demonstração de força e impõem legislações que beiram a um crime, permitindo a continuidade de uso de agrotóxicos mortais, inclusive cancerígenos, fica difícil combater a causa da morte das abelhas. A notificação anunciada pelo Idaf e pelo MPES acaba tendo a finalidade meramente estatística, sem punir ninguém.

O regimento de agrotóxicos no Brasil está indo em direção contrária ao que os países desenvolvidos estão fazendo. “Esses agrotóxicos estão banidos na Europa e nos Estados Unidos há muito tempo já. E aqui, no Brasil, estamos seguindo o caminho inverso e liberando cada vez mais agrotóxicos”, acentua o professor da USP.

O uso indiscriminado de agrotóxicos na produção agrícola gera um ciclo vicioso. “A gente usa o agrotóxico para tentar fazer com que menos pragas vão às plantações para devastar aquelas plantações, só que, junto com as pragas morrem também os insetos benéficos. E aí você diminui a produtividade, porque tira o polinizador. E aí você desmata mais o entorno, diminui a área onde a abelha pode morar, usa mais agrotóxico para tentar aumentar a plantação. Só que você diminui a população de polinizadores e diminui também a produção, e assim vai…”, explica o especialista.

Além da produção agrícola, as abelhas também são importantes para as áreas verdes, de preservação ambiental. “Em qualquer área de preservação, sem abelhas você tem uma queda brusca na reprodução dessas plantas, e isso leva a uma diminuição na produção de frutos, do tamanho da área verde… e aí entra numa cadeia destrutiva, porque a planta é alimento de herbívoro, herbívoro é alimento de carnívoro. Se você começa a diminuir um, você vai afetar a cadeia inteirinha”, diz o professor Francoy.

Notificação não fechará as fábricas de agrotóxicos proibidos na Europa

“Qualquer pessoa pode realizar a notificação, que será verificada pelo Idaf para determinar se a causa da mortalidade está relacionada a pragas, doenças ou intoxicação por agrotóxicos. A agilidade na notificação é crucial, pois atrasos podem inviabilizar a identificação de resíduos, que se degradam rapidamente. O Idaf orienta que a notificação deve ser realizada em até 48 horas após a constatação da mortalidade”, diz o órgão estadual em nota.

O diretor-geral do Idaf, Leonardo Monteiro, fala sobre a necessidade de a sociedade capixaba preservar esse inseto tão importante para a biodiversidade. “As abelhas polinizam as flores ao coletar pólen e néctar, voando de flor em flor. Esse processo é fundamental para a reprodução cruzada das plantas, resultando em frutos de melhor qualidade e maior número de sementes. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), 70% das culturas agrícolas dependem da polinização das abelhas. No Brasil, 85 das 140 culturas que dependem de polinizadores dependem das abelhas”, disse.

A dirigente do Centro de Apoio Operacional da Defesa do Meio Ambiente do MPES, promotora de Justiça Bruna Legora, destacou que é fundamental que a população e, em especial, os apicultores entrem em contato com o Idaf, haja vista a necessidade de que as evidências de contaminação possam ser analisadas e fiscalizadas para o fim de alcance dos responsáveis. “Caso a mortandade das abelhas se relacione a aplicações inadequadas de agrotóxicos, seja manualmente, seja por pulverização aérea, elas devem ensejar a responsabilidade civil, penal e administrativa dos produtores”, ressaltou.