A secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa-ES) está liderando a campanha. De janeiro a novembro de 2024, foram 913 novas notificações de HIV e Aids, sendo 239 do sexo feminino (26,15%) e 674 do sexo masculino (73,74%), além de três crianças, um total de 916 casos novos.
A Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa-ES) está destacando a importância da prevenção e da detecção precoce do HIV/Aids e alerta que a falta de sintomas iniciais não indica a ausência do vírus. Para isso está recomendando que a população realize testes regulares. No último dia foi celebrado o Dia Mundial da Luta Contra a Aids, data foi escolhida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e que ocorre anualmente no Brasil desde 1988.
“A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) é causada pelo vírus HIV (vírus da imunodeficiência humana) e a transmissão ocorre geralmente por contato sexual desprotegido com pessoa infectada, por transfusão sanguínea e compartilhamento de objetos perfurocortantes. Além disso, a gestante infectada pode transmitir a doença para o bebê durante a gestação, no parto ou por meio do aleitamento materno”, explica a Sesa-ES.
Atendimento especializado
O Espírito Santo conta com 31 Serviços de Atenção Especializada (SAE) e Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA), todos públicos, que oferecem tratamento e exames específicos (veja, abaixo, quais são). É importante destacar que pessoas que vivem com o HIV, mas fazem o acompanhamento em rede privada, também têm direito a pegar a medicação sem qualquer custo.
A referência da Coordenação Estadual de IST/Aids da Sesa, Bettina Moulin, explica que, atualmente, uma pessoa que vive com HIV e faz o tratamento correto com antirretroviral e mantém sua carga viral não detectada, além de não adoecer devido à imunossupressão, não transmite o vírus nas relações sexuais. A gestante que também segue o tratamento corretamente dificilmente passará o vírus para o bebê.
“Viver com HIV significa que, apesar de ter sido infectada, a pessoa leva a vida normalmente, desde que realize corretamente o tratamento, da mesma maneira que acontece em relação a qualquer outra doença crônica. Diferentemente do que muitos pensam, viver com HIV não é o mesmo que ter Aids”, alerta Bettina Moulin.
A Aids, explica, é o estágio mais avançado da doença, quando o sistema imunológico se encontra debilitado, pois o vírus ataca justamente as células de defesa. Sendo uma doença que não mata por si só, mas por causar um grande impacto no sistema imunológico, a pessoa fica sujeita a doenças oportunistas que surgem no organismo nesse momento de fraqueza. Portanto, não se morre de Aids, morre-se das complicações geradas pelas doenças oportunistas, principalmente no caso de a pessoa não aderir ao tratamento.
Luta contra o preconceito
Além de oferecer o tratamento, as equipes da Sesa trabalham para combater o estigma e o preconceito associados ao HIV, proporcionando à população acesso a informações sobre os avanços das tecnologias preventivas, bem como trabalhando para a melhora constante do acolhimento, do aconselhamento e do tratamento às pessoas que vivem com a doença.
O maior desafio para a prevenção, principalmente entre os jovens, é o fato de que as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como o HIV, geralmente não apresentam sintomas. “Isso faz com que a pessoa não se julgue vulnerável a contrair a infecção e, dessa forma, não se atente para a importância do uso do preservativo ou outras formas de prevenção, como preconiza o Ministério da Saúde”, frisa Bettina Moulin.
Nesse processo, as redes sociais são importantes ferramentas para atingir o público mais jovem, a fim de levar orientações e estimulá-los a procurar a UBS de referência para informações, testes, insumos de prevenção e tratamento, caso necessário.
A Sesa promove capacitações, palestras, campanhas de testagem, cursos e eventos em geral, que são programados com o propósito de informar e esclarecer a população sobre a doença e o combate ao preconceito e à discriminação em relação às pessoas que vivem com HIV. Além disso, são distribuídos para os municípios testes rápidos de HIV, preservativos internos (vaginal) e externos (peniano), gel lubrificante e fórmula láctea infantil para disponibilizar para crianças expostas ao HIV, ou seja, filhos de mães que vivem com HIV, que são orientadas a não amamentar.
Ainda são disponibilizadas medicações para a prevenção, a profilaxia pré (PrEP) e pós (PEP) exposição de risco de contrair o vírus HIV, além de medicação para tratamento de pessoas que vivem com HIV, que é a terapia antirretroviral.
A Aids em números
De acordo com dados divulgados neste ano pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), das 39,9 milhões de pessoas vivendo com HIV em todo o mundo, quase um quarto (9,3 milhões) não estão recebendo o tratamento adequado. Como consequência, uma pessoa morre por minuto por causas relacionadas à Aids.
Atualmente, vivem no Espírito Santo com HIV 19.828 pessoas (dados de janeiro a novembro deste ano), realizando tratamento com medicação antirretroviral, incluindo serviços públicos e privados.
Novos casos no ES neste ano
De janeiro a novembro de 2024, foram 913 novas notificações de HIV e Aids, sendo 239 do sexo feminino (26,15%) e 674 do sexo masculino (73,74%), além de três crianças, um total de 916 casos novos. Em todo ano de 2022, foram 1.354 casos, e, em 2023, chegou a 1.212 casos, sendo que nesses anos a predominância também é no sexo masculino (com 71,0% e 73,3%, respectivamente).
Atualmente, 2.984 pessoas (que não entram nas 19.828) estão em uso de PrEP (Profilaxia Pré-Exposição). O Estado disponibiliza 26 serviços de atendimento PrEP e 96 de Pós-Exposição (PEP).
Quanto aos óbitos, 130 pessoas vieram a óbito este ano no Estado em decorrência de HIV/Aids até 10/10. Em 2022, foram 260 óbitos e, em 2023, foram 196 óbitos, segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM).
A atuação do ICEPi
Dentro do Programa de Residência Multiprofissional do Instituto Capixaba de Ensino Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi), o Qualifica-APS, o psicólogo Antonio Juvenal da Silva Junior, residente em Saúde da Família, realizou um estágio de 30 dias no Centro de Referência em Infecções Sexualmente Transmissíveis (CR IST), de Vitória, com foco na atenção e no cuidado relacionados às questões de educação sexual.
O psicólogo explica que, durante o período de estágio, por meio de um trabalho de aconselhamento pré e pós testes rápidos, além de grupos e atendimentos compartilhados, foi possível compreender quais são os principais desafios para o controle das IST’s, principalmente pelo estigma e o preconceito que comprometem a saúde mental dos pacientes, gerando a descontinuidade na adesão ao tratamento.
Em sua abordagem no CR IST de Vitória, Antonio Juvenal percebeu que muitas vezes existe uma falta de conhecimento das estratégias de prevenção contra o HIV/Aids, não só por parte dos pacientes, mas até dos profissionais. “A PrEP, por exemplo, é um medicamento eficaz para a prevenção do HIV, além disso, os exames laboratoriais realizados a cada três meses avaliam os efeitos do medicamento no corpo do paciente, possibilitando, também, o rastreamento precoce de outra IST que possa surgir”, disse.
A médica residente do Programa de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade do ICEPi, Tatiana Ferri Lanare, também atua junto a mulheres que vivem com HIV dentro do Centro de Referência em Infecções Sexualmente Transmissíveis (CR IST), de Vitória, sob a supervisão da médica Juana Zanchetta, uma referência em ginecologia no local.
“Oferecemos acompanhamento ginecológico geral e prevenção de outras doenças, além de realizar pré-natal, contracepção e inserção de DIU. Uma experiência que vem me proporcionando uma aproximação valiosa com a especialidade e com o cuidado ao paciente com HIV/Aids, enriquecendo minha formação como médica especialista em Medicina de Família e Comunidade. A doença é uma realidade na comunidade, com muitos diagnósticos realizados em mulheres em idade fértil, por isso nossa atuação como representantes da Atenção Primária, que é a porta de entrada para o sistema de saúde, é essencial”, explica Tatiana Ferri Lanare.
Confira as várias formas de prevenção do HIV/Aids que devem ser utilizadas em conjunto:
Testar: a pessoa pode viver com HIV e não saber, pois a maioria das vezes se faz o diagnóstico realizando o teste, sem qualquer sintoma. O teste pode ser realizado nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). O Estado disponibiliza gratuitamente e o resultado sai em até 30 minutos.
Tratar: a pessoa que tem o diagnóstico deve procurar um serviço para realizar o tratamento. Dessa forma, além de cuidar da própria saúde e manter o sistema imunológico eficiente, também impede a transmissão do vírus para outras pessoas.
O Espírito Santo oferece os Serviços de Atenção Especializadas (SAE), onde a medicação antirretroviral é fornecida para usuários do SUS e da rede privada, além de disponibilizar os insumos e exames necessários para o tratamento e o acompanhamento das pessoas que vivem com o HIV.
PEP: a pessoa pode realizar a profilaxia pós-exposição a material biológico de risco de infecção pelo HIV, caso tenha contato sexual sem preservativos ou pelo rompimento do preservativo, ou por acidente com material perfurocortante. Em qualquer um deles, o caminho é procurar o serviço até 72 horas após a exposição, para fazer o protocolo e iniciar a medicação antirretroviral, caso indicado, e que deve ser tomada por 28 dias.
PrEP: a pessoa também pode realizar a profilaxia pré-exposição de risco à infecção pelo HIV. Trata-se de um método de prevenção da infecção pelo vírus HIV, indicado para pessoas que têm alto risco de entrar em contato com o vírus. Consiste no uso de antirretrovirais que agem impedindo que o vírus consiga se multiplicar dentro do organismo, prevenindo a infecção. É fornecido pelo SUS, desde que indicado. A utilização, forma e tempo de uso são definidos de acordo com a avaliação realizada na UBS, e o procedimento deve ser iniciado antes do provável contato de risco.
Preservativos: qualquer pessoa pode ter acesso a preservativos internos (vaginais), externos (penianos) e gel lubrificante. São distribuídos gratuitamente nos serviços públicos de saúde.