O PA do Trevo de Alto Lage, em Cariacica (ES), é o local que traz o maior número de reclamações no município e vereadora do PT aponta risco de piora no atendimento,.com nova lei municipal que não garante presença de auditor em comissão de fiscalização
Com gestão privatizada entregue à empresa Instituto de Excelência em Saúde Pública (Iesp), que utiliza o nome fantasia de “Instituto Esperança e se apresenta como sendo “organização social sem fins lucrativos”, o Pronto Atendimento Monsenhor Rômulo Neves Balestrero, mais conhecido como PA do Trevo de Alto Lage, é motivo de inúmeras reclamações dos moradores de Cariacica (ES). E pode piorar. É o que alerta a única vereadora de oposição da Câmara de Vereadores, Açucena Gonçalves (PT), onde os outros 18, de um total de 19, formam a base de apoio do Executivo.
O risco da piora no atendimento prestado pelo Iesp, que de acordo com a vereadora tem um contrato de R$ 44 milhões com a Prefeitura de Cariacica, cujo valor representa 20% do recurso da saúde daquela municipalidade, está em lei aprovada pelos vereadores em regime de urgência na última terça-feira. De acordo com Açucena, o projeto de lei 5/2025, encaminhado pela prefeita em exercício, Shymenne Benevicto de Castro (PSB) não garante mais a presença de um auditor com formação em Contabilidade e reduz de 10 para 7 os membros da Comissão de Avaliação para Monitoramento, Acompanhamento e Fiscalização (Comaf).
O receio da parlamentar municipal é que os serviços prestados pela administração privada do PA do Trevo de Alto Lage possam agravar o mau atendimento prestado à população. Uma das maiores reclamações é superlotação, falta de médicos e a demora de até cinco horas para o paciente, mesmo em estado grave, passar pela triagem e obter a pulseira com classificação de risco. Em sua página na Internet, o Iesp diz que o PA é dividido entre atendimento adulto e pediátrico, odontologia e doenças respiratórias e que atende “de forma gratuita”, durante 24h por dia, uma média 600 atendimentos por dia e aproximadamente 18 mil atendimentos por mês.
“Contrato de tamanha relevância”, diz Açucena
Açucena diz que o projeto aprovado em regime de urgência alterou o contrato de acompanhamento da comissão que acompanha o contra com a empresa privada Iesp. A vereadora diz que é o contrato do PA do Trevo “onde todo mundo aqui tem uma notícia relacionada ao atendimento, seja a demora, seja para poder acessar.” Ela diz que a lei alterada descreve quem deve compor a Comaf. Agora, explica, a comissão foi “alterada para menos em um contrato de tamanha relevância, onde se sabe a dificuldade para se chegar ao PA do Trevo.”
A vereador reclamou do fato de a votação em regime de urgência não permitir uma discussão sobre o impacto negativo dessa nova medida. A votação foi a toque de caixa, uma vez que nem o portal da Câmara de Vereadores de Cariacica tinha na manhã desta última quinta-feira (23) a divulgação do projeto de lei 5/2025. Não constava a íntegra desse projeto exposto à apreciação pública. Agora, diz Açucena, a comissão “não tem mais a obrigação de ter um auditor interno, que é o profissional que pode avaliar se aquilo que está sendo oferecido dentro do PA faz sentido com aquilo que está no contrato.
A lei aprovada não determina quantos dos profissionais de contabilidade, enfermagem, odontologia, “mas não determina quantos desses profissionais precisam ter na comissão e isso significa que se quiser só colocar seis profissionais da área de contabilidade, ele (o prefeito) pode”, diz a legisladora de Cariacica. E completa: “Se quiser colocar seis profissionais da área de enfermagem, ele pode. E nenhum da auditoria interna, que a nova lei não permite.” Ela ainda fala que a nova lei cria desestimulo entre os componentes da Comaf, por retirar a gratificação “desses profissionais que vão ter um trabalho a mais.”
Como é o dia-a-dia no PA do Trevo
O jornalista e historiador Geilson Ferreira publicou no YouTube na quinta-feira da semana passada (16) um vídeo gravado no PA do Trevo e onde narra a situação de desespero dos pacientes. A gravação foi cinco dias antes da aprovação de projeto de lei que facilita a falta de fiscalização, segundo apreensão da vereadora. “A tranquilidade aparente na recepção do Pronto Atendimento de Itacibá, em Cariacica, é apenas fachada para a verdadeira crise que os pacientes enfrentam. Nossa equipe chegou ao local na noite desta segunda-feira e encontrou uma situação alarmante: pacientes aguardavam revoltados, sem atendimento, enquanto a recepção estava vazia de funcionários”, narra Ferreira que esteve pessoalmente no PA do Trevo.
“Luciano relata o sofrimento de sua esposa, que chegou com hemorragia e teve que esperar mais de duas horas para ser atendida, enquanto os funcionários diziam apenas para ‘aguardar’. Em outro caso, uma dona de casa que precisava transferir sua filha de 4 anos, recém-operada, encontrou dificuldades devido à falta de ambulância e de macas. Foi somente após nossa chegada que as autoridades se moveram e providenciaram a transferência de uma paciente para o Hospital Antônio Bezerra de Faria, em Vila Velha. Este vídeo expõe o descaso e a superlotação que têm revoltado os moradores de Cariacica. Assista e compartilhe para que mais pessoas saibam o que está acontecendo”, diz o jornalista.
Quem é a empresa que administra o PA do Trevo
Segundo a Receita Federal, o Instituto Esperança está registrado desde 13 de abril de 2009, com sede em um prédio comercial no Bairro Jardim das Nações, em Taubaté (SP) e tem como código e descrição da atividade econômica principal 86.60-7-00 – Atividades de apoio à gestão de saúde. E tem a seguir vários códigos e descrições das atividades econômicas secundárias, entre esses 78.10-8-00 – Seleção e agenciamento de mão-de-obra e 78.30-2-00 – Fornecimento e gestão de recursos humanos para terceiros.
Consta nos dados junto aos órgãos do fisco federal que a empresa privada responsável pelo PA do Trevo de Alto Lage tem como sócios//administradores Pedro Cipriano da Silva Junior (diretor) e Paulo Rozaes Junior (diretor). Além da sede em Taubaté (SP) e a filial em Cariacica, o Iesp tem filiais na Serra (ES), onde tem contrato para administrar a UPA Castelândia, e contratos em Cascavel (CE) e Pindamonhangaba, Tremembé e Bragança Paulista, em São Paulo.